Por Luana Cruz e Luiza Lages
“…Da nuvem até o chão, do chão até o bueiro
Do bueiro até o cano, do cano até o rio
Do rio até a cachoeira…
O percurso da água na natureza em nossas vidas é um grande ciclo, como bem sabemos. A água vem das chuvas, cai sobre as matas e solos. É absorvida pela vegetação e, por evaporação e transpiração das plantas, volta para a atmosfera. Mais chuvas acontecem e são formadas as nascentes, rios e lagos. Desses mananciais captamos a água que vai passar por estações de tratamento e chegar limpa às nossas casas. Falando assim, parece um processo simples e rápido, certo? Mas vamos conhecer, em detalhes, a trajetória da água para compreender quanta ciência há nessa “viagem”. O Caminho da Água é tema do novo episódio do podcast infantil Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas.
Leia o conto aqui e escute o podcast.
A água bruta pode ser captada de duas formas: em solos profundos ou rios. Cada um desses métodos têm vantagens e desvantagens, conforme explica Silvia Maria Alves Corrêa Oliveira, Professora Associada do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que foi consultora científica do episódio. O primeiro caso, que é a captação de águas subterrâneas em poços, demanda uma tecnologia especial e, por isso, é uma metodologia mais cara. O lado bom é que águas profundas são mais limpas, pois o solo funciona como filtro.
No segundo caso, que é a retirada de águas superficiais por adutoras (tubulações), o custo é menor. No entanto, as águas superficiais podem ser mais poluídas pelo contato com o despejo de esgotos, indústrias, entre outros. “Muitas vezes, perto de grandes cidades, essas águas já chegam mais contaminadas e exigem mais tratamento, o que significa que é mais caro. Uma alternativa, é que grandes cidades captam água de mananciais mais afastados, mas isso significa que é preciso investir em adutoras mais extensas, ou seja, em mais tubulação que chega até as estações de tratamento”, afirma Silvia Oliveira.
…Da cachoeira até a represa, da represa até a caixa d’água
Da caixa d’água até a torneira, da torneira até o filtro
Do filtro até o copo…
Tratamento
Os cuidados que transformam a água em própria para o consumo humano acontecem nas Estações de Tratamento de Água, as ETAs, e envolve diversas etapas, físicas e químicas. “São usados compostos químicos para remover poluentes. Depois ocorre a filtração, em que a água passa por filtros de carvão, areia e pedaços de rochas de diferentes tamanhos. Isso retira sujeiras menores”, detalha Silvia Oliveira. Segundo a especialista, depois da filtração é feita a desinfecção para evitar que a água leve doenças para a população. Nessa etapa, os micro-organismos são removidos com uso de cloro, ozônio e, em alguns lugares, com luz ultravioleta.
Uma curiosidade é que, ao final do processo de tratamento, ocorre a fluoretação da água, ou seja, a adição de flúor. Essa etapa serve para prevenção de cáries e o flúor precisa ser adicionado em quantidade certa, para proteger os dentes e não manchá-los. “São feitos muitos estudos para que a água que chegue em nossas casas faça bem para a nossa saúde”, conclui a professora.
Distribuição
Existem as adutoras de captação e as outras de distribuição, que são responsáveis pela chegada da água até nossas casas após o tratamento. Primeiramente, a água passa por grandes tubulações e fica armazenada em caixas d’agua espalhadas em pontos estratégicos nas cidades.
Nesses reservatórios, recebem mais cloro, porque as tubulações percorridas até ali podem ter contaminantes. De acordo com Silvia Oliveira, esse cloro vai sendo usado ao longo da distribuição para que a água chegue limpa em nossas casas. Ao chegar no destino, a água fica reservada na caixa d´água individual das residências.
“No Brasil, somos um dos poucos países que temos reservatórios residenciais. O principal problema hoje é que as caixas d’agua nas nossas casas são as grandes fontes de contaminante. É preciso que sejam feitas limpezas frequentes, de seis em seis meses”, comenta a pesquisadora da UFMG.
Por isso em outros países é comum que as pessoas bebam água direto da torneira e aqui não. É importante que, antes de beber, a gente passe a água pelo filtro ou outro processo para desinfetar. “Não temos garantia de que da caixa d’água até as nossas torneiras, a água chegue limpa”, alerta.
…Do copo até a boca, da boca até a bexiga
Da bexiga até a privada, da privada até o cano
Do cano até o rio…
Saída da água
Depois que usamos água, ela desce pelo ralo e segue por novas tubulações, desta vez, na rede de esgoto. “Vai para as estações de tratamento de esgoto. Nas grandes cidades, como em Belo Horizonte, essa água do esgoto vai ser tratada e depois é lançada nos cursos d’água. Mas na maior parte do Brasil, essa água é despejada nos rios sem nenhum tratamento e segue, pelos cursos d’água, para outro sistema de captação mais à frente”, explica Silvia Oliveira.
A água que usamos para lavar roupa, tomar banho, limpar a casa, dar descarga, entre outros, é de grande qualidade e muito cara. Por isso, segundo a professora Silvia Oliveira, seria interessante que as pessoas reutilizassem ou, cada vez mais, captassem água da chuva. “Apesar de não ser boa para consumo, beber ou tomar banho, ela pode ser usada para a limpeza da casa”, exemplifica a professora. Além de reuso, é também importante economizar.
Economia e preservação
“É muito importante que a gente entenda: água é um recurso finito. Uma cidade como Belo Horizonte está sempre buscando mais mananciais de abastecimento. Isso porque o consumo cresce”, afirma a especialista.
Não podemos desperdiçar o bem valioso e de alta qualidade que chega até nossas casa. “Se você deixar a torneira aberta enquanto escova os dentes está perdendo todo o tratamento que ela recebeu. Ela vai embora para as estações de esgoto. Precisamos ter essa consciência”, alerta.
Ademais, relembrar o ciclo natural da água nos faz compreender, também, a importância de cuidar dos mananciais e preservar matas no entorno. “O desmatamento nessas regiões desregula o ciclo da água, a transpiração da vegetação, causa erosão dos solos, assoreamento. Tudo isso contribui para a redução da água nos mananciais”, diz Silvia Oliveira.
…Do rio até outro rio
De outro rio até o mar
Do mar até outra nuvem”(MÚSICA: Água, ARTISTA: Palavra Cantada)
Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas
Este texto é um conteúdo de apoio ao décimo quinto episódio do podcast infantil Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas. O objetivo desta postagem é explorar os conceitos científicos, dando suporte a pais, responsáveis e professores. Assim, fica mais fácil ouvir o episódio com a criançada.
Episódios anteriores:
Primeira temporada
1 – Uma batalha interna, no Mundo de Rafa
3 – Vida de libélula
4 – Um conto sobre o crescimento da população
5 – A incrível história de Grace Hopper
6 – As aventuras do povo de Luzia
7 – Um trabalho para os neurônios
8 – A descoberta da gravidade e outras histórias de Newton
Segunda temporada
9 – A vida da Terra
10 – As chaves do tamanho
11 – A descoberta da Evolução e outras histórias de Darwin
12 – A invenção das horas
13 – Vida de beija-flor