Por Luana Cruz e Luiza Lages
No Brasil, há cerca de 80 espécies de beija-flor e no continente americano aproximadamente 240. Este é um animal diverso e cheio de curiosidades em seus hábitos e comportamentos. No episódio desta segunda-feira do podcast infantil Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas o tema é Vida de beija-flor. Vamos contar a rotina de uma espécie bem pequena, o Phaethornis ruber, conhecido como rabo-branco-rubro ou, carinhosamente, besourinho-da-mata.
Leia o conto aqui e escute o podcast:
Esses pequenos beija-flores se alimentam basicamente de néctar, que é o combustível ou a fonte de energia desses animais. Vez ou outra comem também de insetos. Vivem em regiões de Mata Atlântica e, em Belo Horizonte, podem ser vistos no Parque das Mangabeiras, região centro-sul. Quem já os observou por lá foi o pesquisador Pietro Kiyoshi Maruyama Mendonça, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele é especialista na interação de beija-flores com as plantas e foi o consultor científico do episódio.
Os besourinhos-da-mata interagem com várias espécies de bromélias e helicônias. Beija-flores, geralmente, atuam como polinizadores fazendo o transporte do pólen para as plantas. É uma relação de trocas, pois quando ele faz este serviço, recebe como recompensa o néctar. Mas o besourinho-da-mata é um caso à parte. Como ele tem o bico mais curto e nem sempre alcança o néctar entrando pela abertura da flor, acaba atuando como “ladrãozinho” de néctar ao fazer um furo na base da flor. “Tem acesso direto e rouba o néctar, portanto, não entra em contato com outras estruturas reprodutivas da planta e não presta o serviço que o vegetal espera”, explica o cientista.
Conhecendo o besourinho-da-mata
Esta espécie pode medir até 7 centímetros e pesar cerca de 3 gramas, ou seja, cabe na palma da nossa mão. Tem o corpo marrom e asas mais escuras com uma pequena faixa preta nos olhos. É chamado de beija-flor eremita, porque gosta de viver isolado no meio do mato. “São mais encontrados na mata fechada, em diferentes formações de flores e não em áreas de savanas”, afirma o Pietro Mendonça.
São territorialistas e brigões, principalmente quando se trata de garantir comida. “Beija-flores, em geral, brigam muito. Se uma planta está cheia de flores significa muito alimento. Isso leva espécies de beija-flores a estabelecer território. Ele passam a vigiar o recurso recompensador. Eles são gladiadores do ar, têm brigas muito intensas que chamam atenção”, explica o pesquisador.
As batalhas acontecem no ar e até no chão, onde os bichinhos caem rolando. Tudo isso porque precisam muito de néctar como combustível. “Lembrando que brigar também gasta energia. Sendo assim, a briga e a defesa de território só vão valer a pena se realmente for uma fonte de recurso muito interessante”.
O besourinho-da-mata aprecia, especialmente, de flores avermelhadas. É um gosto estratégico porque esses vegetais não são enxergados pelas abelhas, uma “concorrente” na busca pelo néctar. “O grupo de flores vermelhas acaba ficando mais exclusivo dos beija-flores. Eles enxergam em quatro faixas de cores, uma a mais que nós humanos. Veem o ultravioleta, ou seja, a forma como enxergam o mundo é bem diferente”.
Ideal para esses bichos é viver em locais preservados. São animais muito impactados por ações de desmatamento, pois necessitam do ambiente florestal para sobreviver. O besourinho-da-mata não é tão resiliente quanto outras espécies de beija-flor que visitam o meio urbano.
Comer, dormir e perpetuar a espécie
Se pudéssemos definir essa ave com apenas uma palavra chamaríamos de frenética. O besourinho-da-mata bate as asas muito rápido e faz aquele voo, conhecido como adejar, em que consegue parar no ar como um helicóptero. Para isso, gasta muita energia, portanto, precisa de bastante combustível. “É um bicho que tem um metabolismo muito alto, o que significa que precisa estar comendo o tempo todo”, detalha Pietro Mendonça. Além de frenético, esse beija-flor é comilão, acorda comendo e dorme comendo.
À noite, ao repousar, o besourinho-da-mata tem um mecanismo fisiológico de torpor, ou seja, desacelera os batimentos cardíacos, abaixa a temperatura e dome como se estivesse hibernando. “É como se todas as noites, desligassem os corpos e ficassem em atividade mínima para não morrer, obviamente, para economizar o máximo de energia”.
Quando não estão se alimentando ou dormindo, pode ser que estejam em busca de perpetuar a espécie. Machos e fêmeas interagem para a reprodução, sendo que eles se exibem em uma arena, enfileirados e fazendo demonstrações em saltos e voos rasantes. Elas, assistem atentamente para decidir o parceiro. É importante que escolham o macho que será o melhor “doador de genes”, pois as fêmeas criam sozinhas os filhotinhos. Cuidam dos ovos, que são do tamanho de um grão de feijão, alimentam e aguardam o primeiro voo dos herdeiros.
Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas
Este texto é um conteúdo de apoio ao décimo terceiro episódio do podcast infantil Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas. O objetivo desta postagem é explorar os conceitos científicos, dando suporte a pais, responsáveis e professores. Assim, fica mais fácil ouvir o episódio com a criançada.
Episódios anteriores:
Primeira temporada
1 – Uma batalha interna, no Mundo de Rafa
3 – Vida de libélula
4 – Um conto sobre o crescimento da população
5 – A incrível história de Grace Hopper
6 – As aventuras do povo de Luzia
7 – Um trabalho para os neurônios
8 – A descoberta da gravidade e outras histórias de Newton
Segunda temporada
9 – A vida da Terra
10 – As chaves do tamanho
11 – A descoberta da Evolução e outras histórias de Darwin
12 – A invenção das horas