Por Luana Cruz e Luiza Lages
Já parou para pensar: por que marcamos o tempo? A resposta pode parecer meio óbvia na atualidade, ligada a nossa rotina ou a forma como desenvolvemos tarefas no dia a dia. No entanto, a noção de se orientar pelo tempo veio muito antes de formarmos uma sociedade. Ela surge a partir de necessidades que estão relatadas no episódio Invenção do Tempo do podcast infantil Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas.
Primeiramente, o ser humano tinha que se abrigar quando chegava a noite, procurando um lugar seguro para ficar livre dos predadores e aquecido na madrugada. “A primeira preocupação que o homem teve com o tempo foi nesse sentido: o dia já está acabando, daqui a pouco vai ser noite, precisamos ir para um lugar seguro”, explica o professor Renato Las Casas, do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais, que foi consultor científico do episódio.
Leia o conto aqui e escute o podcast:
Depois, quando já se organizava em sociedade, para o homem conseguir evoluir, foi preciso compreender melhores épocas de plantar e colher. “Tivemos que entender as estações do ano. Deixou de ser uma coisa imediata do dia a dia e passou a ser uma coisa planejada para um ano. Começamos a nos guiar pelas estrelas e construir calendários. Podemos dizer que o início da marcação do tempo foi ante a necessidade de ter alimentos, para enfrentar longos períodos, otimizar as plantações e colheitas”, conta Las Casas.
Calendários
Quando o homem começou a notar relações entre as posições das estrelas e variações de volume de água em rios, algo que ocorre com mudanças de estações do ano, construiu os primeiros calendários. No Egito antigo, notou-se que a posição da estrela Sirius, também conhecida como Alfa do Cão Maior, era sinal de cheia no Rio Nilo. Sendo assim, era tempo de plantar determinados tipos de alimentos. Essa lógica motivou a criação de calendários baseados no Sol.
Depois disso, sociedades diferentes, em eras distintas criaram as próprias marcações de tempo. O que se sabe é que nosso calendário atual, usado em na sociedade ocidental, vem dos egípcios. “É uma evolução do calendário egípcio que foi sendo transformado. Existiu o calendário Juliano e o nosso é o Gregoriano. O Juliano foi de antes de Cristo, por isso o nome que vem de Júlio César, quem o implantou. Já o calendário Gregoriano foi implantado na Idade Média, em fevereiro de 1582”, explica o professor da UFMG.
Marcação do tempo
Além da questão dos calendários, é curioso pensar como começamos a determinar as horas. Segundo Las Casa, a definição de marcar o tempo é sempre pautada em contar as vezes que um evento físico se repete. Por exemplo, os primeiros relógios usavam pêndulos movidos por engrenagens. “Era considerada uma hora quando o pêndulo se movimentava para lá e para cá tantas vezes”, detalha.
Também existiram relógios de areia, em que a unidade era o tempo que a areia gasta para sair de um recipiente e passar para outro. Ou, ainda, relógios de água, em que a medida é o tempo que a água gasta para encher determinado vaso. Hoje, os relógios que usamos, inclusive dos celulares, se baseiam em um relógio atômico e continuam usando o parâmetro de repetição de eventos.
“Até pouco tempo, quando o relógio era uma coisa difícil e cara, era comum no interior do Brasil as pessoas terem ampulheta para fazer bolo, por exemplo. Quanto tempo deixar assando? O tempo era marcado pela ampulheta. Era preciso virar a ampulheta três vezes e ela descarregar toda a areia”, diz.
24 horas por dia, 365 dias por ano!
De acordo com o professor Las Casas, ficou convencionado que o dia tem 24 horas porque era mais difundido o sistema de numeração duodecimal, que usa o número 12 como base. “Foi uma escolha. Assim ficaram 12 horas diurnas e 12 horas noturnas”, afirma.
Já a quantidade de dias que cabem em um ano não é uma convenção. Esse fator é baseado na Astronomia e com o pontapé dos egípcios, conforme explicamos na história dos calendários. Eles se guiaram pela estrela Sirius, observando as repetições de aparição dela.
Começaram marcando a aparição da Sirius no zênite (o grau mais elevado), logo depois do pôr do Sol, e assim a cada surgimento naquele ponto contava-se um dia. Depois, contabilizaram em quantos dias se repetiria aquele comportamento, viram que era aproximadamente 365 e, assim, construíram o calendário. Mas, a verdade é que não existe calendário perfeito:
“O ano não é um múltiplo exato de dias, então as estações do ano começaram a se afastar. A estação prevista no calendário começava a não coincidir com a estação real, com as cheias do Rio Nilo, por exemplo. Os egípcios tiveram que sofisticar os calendários. Para perceber que a conta dos dias não batia, demorou alguns séculos. E outros séculos para resolver”, detalha o professor.
O nosso calendário, o gregoriano, tem o ano bissexto para corrigir uma defasagem. Mesmo assim, terá uma defasagem de um dia em 3.300 anos, o que vai exigir uma correção.
Estações do ano
As estações do ano acontecem por conta do movimento de rotação da Terra e são muito importantes para a noção de tempo. O eixo de rotação do nosso planeta é inclinado 22 graus em relação ao plano que ela faz em torno do Sol. Essa inclinação é mantida na medida em que a Terra se desloca e, com isso, em alguns períodos Hemisfério Sul fica mais voltado para o Sol, depois o Hemisfério Norte receberá mais luz solar.
É o aumento e redução da incidência do Sol nas localidades do planeta que dá origem às estações do ano. Quando o Hemisfério Sul está mais voltado para o Sol, a região fica mais aquecida e ocorre o verão. Seis meses depois vai ser o contrário, o Sul estará sob menor incidência do Sol, portanto, no inverno.
Nesse movimento da Terra em torno do Sol, há quatro pontos especiais: os solstícios, que ocorrem duas vezes ao ano quando um hemisfério está o mais voltado possível para o Sol; e equinócios, quando Sol ilumina igualmente os dois hemisférios. Segundo o professor Las Casas, convencionou-se colocar o início das estações nos solstícios e nos equinócios.
Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas
Este texto é um conteúdo de apoio ao décimo segundo episódio do podcast infantil Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas. O objetivo desta postagem é explorar os conceitos científicos, dando suporte a pais, responsáveis e professores. Assim, fica mais fácil ouvir o episódio com a criançada.
Episódios anteriores:
Primeira temporada
1 – Uma batalha interna, no Mundo de Rafa
3 – Vida de libélula
4 – Um conto sobre o crescimento da população
5 – A incrível história de Grace Hopper
6 – As aventuras do povo de Luzia
7 – Um trabalho para os neurônios
8 – A descoberta da gravidade e outras histórias de Newton
Segunda temporada
9 – A vida da Terra
10 – As chaves do tamanho