Por Luana Cruz e Luiza Lages
As populações vão se modificando ao longo das gerações e só foi possível compreender a evolução de seres vivos a partir das ideias, observações e experimentações de Charles Darwin. O episódio de hoje do podcast infantil Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas conta as aventuras do cientista que estudou a origem das espécies.
“Darwin inaugurou a biologia como ciência experimental. Ele estabeleceu os modos de experimentar a biologia, de fazer perguntas sobre os fenômenos biológicos”, explica Fabrício Rodrigues dos Santos, que é pesquisador e professor na área de Genética e Evolução na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e foi o consultor científico do episódio. O professor destaca a importância das teorias de Darwin afirmando que a diversidade dos fenômenos biológicos conhecidos por nós na atualidade passam pela teoria da evolução. Ela explica muito do que conhecemos hoje na medicina, veterinária, farmácia, em todas as disciplinas derivadas da biologia.
Leia o conto aqui e escute o podcast:
Darwin entrou na discussão sobre História Natural quando existiam várias ideias metafísicas e não científicas sobre o assunto. Ele alterou, por exemplo, as percepções sobre progresso constante das espécies colocadas por Jean-Baptiste Lamarck desde o início do século 19.
“Evolução para Lamarck era progresso. Evolução para Darwin não era progresso, era simplesmente mudança, desdobramento. Para Darwin, a biologia evolutiva, no século 19, e para nós, no século 21, se dá por ramificação e não por um processo linear. São inúmeras linhagens que são conectadas por seus ancestrais, ou seja, a partir de um ancestral comum há diversificação da origem. Isso revolucionou a ideia da época”, conta o professor Fabrício Rodrigues. Portanto, Lamarck não falava de ancestralidade comum, mas sim de uma linhagem.
Seleção natural
Para além da ancestralidade, a ideia de modificação das espécies ao longo das gerações remete à segunda tese de Darwin: a seleção natural. “O que Darwin explicou é o processo que a gente chama hoje de deriva: a combinação dos alelos nos gametas que fazem cada um de nós humanos, por exemplo. Cada pessoa é uma junção fortuita de um espermatozoide com um óvulo. É uma combinação única e resultado do acaso”, afirma o professor da UFMG.
Além desse acaso, existe a seleção natural que é um fenômeno determinístico. Segundo Fabrício Rodrigues, essa ideia foi muito inovadora na época de Darwin, que foi impulsionado por um estudioso contemporâneo, Alfred Russel Wallace, a publicar as observações sobre História Natural.
“Darwin recebeu uma carta do Wallace com ideias muito parecidas com as que ele tinha, em 1858. Esse é um ponto muito marcante, porque Darwin tinha um manuscrito que não tinha coragem de publicar e se chamava Seleção Natural. Ele não publicou porque sabia das implicações disso”, conta Fabrício Rodrigues. No entanto, Darwin mudou o título, fez abreviações e, então, publicou em 1859 o livro Origem das Espécies. Esse texto era mais “mastigado” e reduzido, pois Darwin trabalhou nele por um ano, resumindo tudo que ele tinha estudado. Assim, surge o grande legado da teoria darwinista para a ciência:
“A evolução começa com a origem da variação de todas as moléculas da biologia, não só das espécies. Hoje a gente usa todas as explicações da evolução para falar da diversidade de moléculas, como por exemplo, das moléculas de vírus que são utilizadas para fazer vacinas. Tudo isso vem da biologia evolutiva, que é a explicação da origem e da diversificação de todas as formas de vida. Na época de Darwin, não se sabia o que era DNA, proteína e não se conseguia ver uma célula direito. Mas é incrível que, mesmo sem saber disso, a teoria tomou tanta forma e hoje está na genômica e em tudo”, conclui o pesquisador Fabrício Rodrigues.
Atualmente, conseguimos explicar muito melhor a evolução que no século 19 por causa das pesquisas em genética. Naquela época, Darwin trabalhava com a variação aparente das espécies, morfologia e experimentações de cruzamentos que fazia em casa. Ele trabalhava com orquídeas, animais marinhos, pombos e cachorros. Aliás, era experimentador e curioso desde criança.
Colecionador, naturalista e cientista
Darwin era um feroz colecionador de tudo quanto é bicho. Transformou-se, inclusive, em um fanático por besouros e tinha praticamente todas as espécies da Inglaterra. Ele era de uma família bem religiosa, um dos motivos pelos quais guardou seus estudos por quase 20 anos temendo o impacto que a publicação de suas ideias teria na sociedade.
“No livro Origem das Espécies, ele não falou do ponto crucial, não colocou a espécie humana no texto. A única coisa que ele falou no livro foi da relação do homem com outras espécies. Mas, todo mundo na época correlacionou. Se todas as outras espécies eram explicadas pela evolução, só a espécie humana não seria? Então, depois ele escreveu um livro sobre esse assunto”, relata o professor da UFMG.
A evolução humana era vista pela sociedade da época como ponto polêmico na teoria da evolução. Darwin foi ironizado pela imprensa e recebeu duras críticas da igreja anglicana e da igreja católica. “Só em 1950, o papa da época voltou atrás. Pediram perdão para a família e admitiram que não tinha problema nenhum a ideia científica da biologia da evolução”.
Mas Darwin teve muito apoio de cientistas. Ele era reservado, um pesquisador que trabalhava praticamente em casa. Era milionário, neto e filho de médicos. “Não era de aparecer nos congressos da época, nas grandes discussões. O negócio dele era caneta e papel”, diz Fabrício Rodrigues. Darwin teve muitos filhos e cuidava bastante deles.
Galápagos
O pai de Darwin queria muito que ele fosse médico. Ele chegou a estudar medicina e desistiu. Começou também a estudar para ser pastor da igreja anglicana, porém o interesse pela História Natural era maior. Darwin, então, teve a oportunidade de ser naturalista do navio Beagle, que faria explorações no Hemisfério Sul.
Nessa viagem, Darwin definiu a profissão dele de cientista e começou a trabalhar com vários dados de amostras coletadas no mar e nas florestas da América do Sul. Ele observou espécies coletadas no Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Peru e, por enfim, no conjunto de ilhas em Galápagos, no Equador.
Galápagos foi o lugar de grandes aventuras científicas de Darwin. “Por lá era mais fácil de ver o processo da evolução porque há um ecossistema mais simples. São várias ilhas separadas e, em cada ilha, ele via espécies diferentes”, conta Fabrício Rodrigues.
Darwin ficou maravilhado naquela época, porque além de tudo, os animais eram muito dóceis. Ele coletou muitos bichos, trabalhou com esses animais, e estudou a relação das espécies em ilhas diferentes. Assim, com as ideias de transformação das espécies em mente, surgiu a primeira tese sobre ancestralidade comum.
“Ele viu que as aves de Galápagos eram parentes próximas das aves no continente da América do Sul, na costa do Equador e do Peru. Darwin relacionou tudo isso e imaginou que essas aves eram derivadas de um ancestral que tinha vindo muito tempo atrás da América do Sul, chegado em Galápagos e diversificado em várias espécies”, conclui Fabrício Rodrigues.
Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas
Este texto é um conteúdo de apoio ao décimo primeiro episódio do podcast infantil Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas. O objetivo desta postagem é explorar os conceitos científicos, dando suporte a pais, responsáveis e professores. Assim, fica mais fácil ouvir o episódio com a criançada.
Episódios anteriores:
Primeira temporada
1 – Uma batalha interna, no Mundo de Rafa
3 – Vida de libélula
4 – Um conto sobre o crescimento da população
5 – A incrível história de Grace Hopper
6 – As aventuras do povo de Luzia
7 – Um trabalho para os neurônios
8 – A descoberta da gravidade e outras histórias de Newton
Segunda temporada
9 – A vida da Terra
10 – As chaves do tamanho