Tecnologia nacional para a agricultura

No contexto global, vivenciamos uma crescente demanda por alimentos, estimulada pelo aumento da população que, segundo estimativas, poderá atingir o patamar de 10 bilhões de habitantes até 2050. O atendimento a esta demanda requer o aumento da produtividade agrícola que, dentre diversos fatores, é dependente do manejo adequado do solo, que envolve a aplicação de insumos agrícolas indispensáveis ao desenvolvimento saudável das plantas.

O nitrogênio é um nutriente imprescindível às plantas, sendo a ureia o fertilizante nitrogenado mais utilizado na agricultura brasileira, movimentando aproximadamente R$ 6,5 bilhões no setor, em 2014. No entanto, a eficiência da ureia é reduzida devido à ação de enzimas ureases que causam a volatilização de amônia e gás carbônico, resultando em perdas de até 80% do nitrogênio aplicado na superfície do solo. Estes gases são reconhecidos poluentes atmosféricos que agravam o efeito estufa.

Uma estratégia interessante para mitigar as perdas de nitrogênio é o uso de inibidores de urease, substâncias capazes de reduzir a taxa de degradação da ureia, possibilitando o aumento das chances de incorporação da ureia no solo via irrigação ou episódios de chuva.

Em busca de soluções para esta questão, a Rede de Estudos para o Desenvolvimento de Novos Inibidores de Urease (REDNIU) atua com um grupo multidisciplinar de pesquisadores, coordenados pelos professores Ângelo de Fátima (Departamento de Química) e Luzia Valentina Modolo (Departamento de Botânica).ambos da Universidade Federal de Minas Gerais.

A REDNIU tem como missão contribuir com novas tecnologias que levem ao uso adequado de fertilizantes agrícolas. Busca desenvolver soluções para utilização de fertilizantes de uma forma sustentável, tendo como consequência a redução de impactos ambientais e o aumento da produção de alimentos. Com isso, contribui para o desenvolvimento tecnológico de um setor que engloba cerca de 22% do PIB brasileiro, além de possibilitar a formação de recursos humanos qualificados numa área transdisciplinar do agronegócio brasileiro.

A partir de pesquisa pioneira no Brasil, o grupo desenvolveu um produto inovador denominado NKeeper que, combinado à ureia, melhora a eficiência deste fertilizante ao inibir ureases do solo. O projeto, denominado “Síntese de Iminas e bis-Iminas de Interesse Agrícola“, contou com financiamento da FAPEMIG.

O NKeeper, uma tecnologia nacional, apresenta características que o coloca em vantagem competitiva em relação aos atuais produtos disponíveis no mercado com função semelhante, que incluem:

  1. processo de obtenção simples com elevados rendimentos, o que minimiza custos de produção;
  2. maior estabilidade térmica, fator importante para fins de armazenamento e transporte;
  3. eficiência aprimorada para solos tropicais, encontrados nas principais regiões agrícolas do mundo.
Estudos realizados pela REDNIU, sob condições controladas, demonstraram que plantas tratadas simultaneamente com ureia e NKeeper apresentaram maior conteúdo de nitrogênio e, consequentemente, de proteínas nas folhas. “Nosso próximo desafio é validar a eficiência do NKeeper por meio de experimentação a campo para beneficiar desde o agricultor familiar até o grande produtor agrícola”, conclui o professor Ângelo de Fátima.

Texto em colaboração com os professores Ângelo de Fátima e Luzia Modolo. Imagem de destaque meramente ilustrativa. © Hero Images/Corbis.

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Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

Um comentário em “Tecnologia nacional para a agricultura

  • 9 de setembro de 2015 em 21:58
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    Republicou isso em Biólogo31.

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