Em uma manhã como outra qualquer, diante do espelho, o indivíduo percebe, afinal, a complexa dimensão de sua existência. Para além das marcas da idade, ele se reconhece, então, como ser político e social.
Não se trata, porém, de mera divagação filosófica: ao contemplar a própria imagem, o cidadão é tomado pela ânsia de (re)assumir as responsabilidades de seu lugar no mundo – dos homens e da natureza.
Em 2018, arrisco-me a dizer que muitos serão os livros científicos a abordar, justamente, as fragilidades e os desafios do status sociopolítico da contemporaneidade, com ênfase nas articulações entre o(s) indivíduo(s) e seu tempo.
Para além de autorreflexos cotidianos, porém, os leitores terão a oportunidade, a partir de tais obras, de problematizar a atual tríade de dilemas éticos a mirar o calcanhar de Aquiles da humanidade: a ascensão de ideais conservadores, a busca do ser humano por compreensão de si mesmo e a premência da preservação de recursos naturais.
Política “puro sangue”
No que tange aos embates “propriamente” políticos – referentes à seara dos ritos partidários, às deliberações do espaço público ou a embates específicos (em torno, por exemplo, dos “limites da arte”) –, imagino que, nos lançamentos editoriais de 2018, pesquisadores os mais diversos (da Ciência Política à Comunicação; da Ética à Estética; da Economia ao Direito) buscarão antever soluções (pragmáticas e/ou estruturais) aos inúmeros contratempos da polis contemporânea.
Nesse sentido, a dica aos atentos leitores e leitoras diz respeito aos princípios científicos de obras com tais pretensões: desconfiem de propostas analíticas com resultados categoricamente palpáveis, e, por vezes, calcadas em princípios universais – mas, na verdade, baseadas na investigação de pequeninos (e seletivos) trechos da vasta (e conturbada) narrativa sociopolítica vigente.
Em ano de eleições no Brasil – assim como de retrocessos humanitários em todo o planeta –, tal literatura científica ganhará contornos de bússola.
Eu… quem?!
Com a profusão de facilidades tecnológicas, os conflitos entre “o ser” e “a rede” (“o eu e o nós”; “o público e o privado”) ganharam dimensões e matizes sem precedentes. Se os mistérios do inconsciente há muito nos exigem intricados mecanismos de autorreflexão, as novas instâncias de convívio coletivo – redefinidas, principalmente, pela internet – reorganizaram exigências e dilemas existenciais.
Daí, pois, não apenas a recente efervescência do mercado editorial de autoajuda, mas, também, a enxurrada de pesquisas científicas calcadas na problematização do(s) lugar(es) a ser(em) ocupado(s) pelo ser humano. Da Robótica à Neurociência, da Antropologia à Medicina, da Ciência da Computação à Psicologia, as vicissitudes entre máquinas e sentimentos, indivíduos e tecnologias, solidões e colaboracionismos, servirão de leit motiv a bons livros para o ano que ora se edifica.
Que tal, aliás, ler algo sobre Mindfulness (“consciência plena”, em tradução livre) em seu dispositivo eletrônico de leitura?
Ainda há tempo?
Para milhares de pesquisadores no Brasil e em outros tantos países, somos, hoje, uma espécie de veículo desgovernado, em alta velocidade, pronto a se chocar contra a incólume muralha das leis da Física. Alterações climáticas, megainteresses corporativos e retrocessos crivados por figuras como Donald Trump representam apenas parte dos perigosos (e concretíssimos) elementos a tornar ainda mais contundente a previsão catastrofista em relação à saúde do planeta.
À forma de anos anteriores, portanto, os imbróglios da busca pela preservação do meio ambiente permanecem, em 2018, como tema essencial aos livros de ciência. Em tempos de – pasmem! – “teoria da terra plana”, é natural que se reacenda, sob mobilização de agrônomos e/ou biólogos, geógrafos, filósofos, matemáticos, turismólogos etc., o debate acerca das relações entre Homem, Técnica e Natureza.
De modo direto: eis o que se pode chamar, literalmente, de “literatura de urgência”.
