Filósofo faz inédita tradução de manuscritos de Aristóteles

A tradução de manuscritos da Antiguidade ajuda a elucidar questões sobre a existência e o funcionamento do mundo, de modo a dar origem a conceitos fundadores da ciência moderna.

A produção de Aristóteles é um exemplo de tal processo.

E, apesar de secular, não foi inteiramente traduzida, do grego, a outras línguas.

“Trata-se de obra imensa e complexa”, afirma o filósofo e professor Fernando Eduardo de Barros Rey Puente, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O pesquisador encarou o desafio da tradução, ao português, de oito volumes dos escritos aristotélicos sobre Física, a serem reunidos em livro inédito, além de, posteriormente, disponibilizados na internet.

A tradução durou cerca de oito anos e foi concluída em fevereiro de 2018.

Segundo Fernando Puente, o trabalho se revelou “penoso”, mas lhe rendeu bastante orgulho.

“Foram muitos anos! Isso não quer dizer, porém, que todo dia eu traduzia algo. Não parei minha vida. Tinha atividades acadêmicas e nunca deixei de produzir trabalhos sobre outros autores”, conta.

Métodos de tradução de manuscritos

Segundo o pesquisador, há opções metodológicas para traduzir do grego antigo ao português.

De um lado, está a possibilidade de ser mais literal, ao criar sintaxe e linguagem um tanto quanto artificiais, mas sendo fiel ao texto original.

Outro caminho é abrir mão da precisão absoluta e fazer concessões, sem deixar de estar próximo às ideias do autor.

“É possível trabalhar com termos já consagrados na história das traduções ou inovar. Fiz um grande laboratório ao longo desses anos, experienciando o processo tradutório”, afirma.

“No início, tentei fazer algo muito literal, mas vi que soava artificial. Fiz concessões e segui a ideia dos renascentistas, ao tentar estar mais próximo do uso de nossa linguagem. Por fim, tentei ser fiel à sintaxe e aos termos, mas resguardando nosso idioma”, explica Fernando Puente.

Os oito volumes que darão origem ao livro Física abrem problemas científicos e questões filosóficas.

Por isso, opções de tradução, que funcionam no contexto de um volume, podem não servir para outro.

“Gastei bastante tempo ao checar palavra por palavra. Fiz isso com todos os termos e conceitos mais importantes em Aristóteles, processo útil para pensar as questões filosóficas”.

Imagem meramente ilustrativa: Afresco Escola de Atenas (1509-1510), de Rafael Sanzio, na Stanza della Segnatura, nos Museus Vaticanos. Ao centro, Platão e Aristóteles / via Pixabay

A Física na História

Conforme Fernando Puente, a Física de Aristóteles é muito diferente da que estudamos hoje, mas está na origem de uma série de pesquisas que, ao longo dos séculos, resultarão na categoria que conhecemos.

Depois da Idade Média, ocorreram muitos ataques aos pensadores gregos, a começar pelo embate geocentrismo versus heliocentrismo.

“A história da ciência conta com sucessivas críticas a Aristóteles, na Física e em outras áreas. Do ponto de vista científico, consideram-se muitas ideias superadas, mas o sentido filosófico – da ciência mais pura – não é superado. A obra dele ainda é uma mina fértil”, explica.

Fernando Puente estuda o filósofo desde o doutorado, entre 1994 e 1998, quando investigou a questão do tempo em Aristóteles.

A tradução de Física, porém, mudou a relação com o autor. “Fui obrigado a estudar uma série de ideias de como vemos a Física na atualidade. Aprendi que Aristóteles é muito dúctil e maleável. Não há como esgotar o texto dele. Espero que mais pessoas traduzam a Física e proponham outras soluções”.

Leia a reportagem completa na Minas Faz Ciência 76.

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Luana Cruz

Mãe de gêmeos, doutoranda e mestre em Estudos de Linguagens pelo Cefet-MG. Jornalista graduada pela PUC Minas. É professora em cursos de graduação e pós-graduação na Newton Paiva, PUC Minas, UniBH e ESP-MG. Escreve para os sites Minas Faz Ciência e gerencia conteúdo nas redes sociais, além de colaborar com a revista Minas Faz Ciência.

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