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Vanessa Terra - Foto de acervo pessoal

O Rupert Barneby Award é um financiamento concedido a pesquisadores interessados em desenvolver estudos em taxonomia botânica, no Jardim Botânico de Nova York.

Vanessa Terra em foto de acervo pessoal

O prêmio é uma homenagem ao pesquisador que trabalhou durante muito tempo com família das leguminosas e com taxonomia.

Na edição 2019, a pesquisadora agraciada foi a brasileira Vanessa Terra, professora do Instituto de Ciências Agrárias do Campus Monte Carmelo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

A pesquisa “Flora do Brasil: revisão de espécies do gênero Senegalia com ênfase no complexo S. polyphylla” foi a melhor avaliada dentre sete submetidas por profissionais de todo o mundo e concedeu a Vanessa Terra a oportunidade de acessar um dos acervos mais antigos e completos de plantas disponíveis em herbários internacionais.

No primeiro semestre de 2019, Vanessa esteve na cidade americana para desenvolver seus estudos e, em contrapartida, ministrar uma palestra que explicasse à comunidade acadêmica estadunidense a importância de sua pesquisa e os benefícios a serem compartilhados com outros pesquisadores da botânica.

“Todos foram muito receptivos e me ofereceram um espaço excelente, que me permitiu trabalhar muito e retornar para o Brasil empolgada para continuar fazendo o que gosto”, conta a professora.

Nas seções abaixo, ela explica em que consiste sua área de estudos, e fala sua trajetória de pesquisa, que culminou na premiação anual do New York Botanical Garden.

Detalhe da análise em microscópio. Foto de acervo pessoal.

O que é taxonomia botânica?

Em linhas gerais, a taxonomia pode ser definida como a ciência que lida com a descrição, identificação e classificação dos organismos, individualmente ou em grupo.

“É um trabalho focado em detalhes da morfologia externa da planta, que visa diferenciar uma espécie da outra, mostrar quais são as diferenças entre as espécies“, explica Vanessa.

“Na taxonomia, a gente trabalha com identificação e nomenclatura de plantas. Partimos do seguinte princípio: como podemos conservar o que não conhecemos? Impossível. Para conservar, a gente precisa conhecer e a taxonomia é fundamental neste processo”.

Durante o doutorado, a professora trabalhou com cerca de 60 espécies e analisou quase 4 mil espécimes (4 mil plantinhas de 60 espécies). Identificou, dentre esses complexos de espécies, que algumas tinham sobreposição de características e era preciso diferenciá-las.

“Como não houve tempo para trabalhar com esses complexos no doutorado, o prêmio me permitiu desenvolver um projeto para dar continuidade a esse estudo“, explica a professora.

No herbário do Jardim Botânico de Nova York, Terra teve acesso aos arquivos de plantas do gênero Senegalia necessários para empreender análises de morfometria, medindo características das folhas e das flores, de todas as estruturas, até diferenciar cada uma delas.

“Consegui medir cerca de 50 plantas e ampliar a tabela, de 27 para 43 caracteres, gerando uma base de dados bastante densa e importante para finalizar as análises que estávamos fazendo”, complementa.

Além do trabalho de análise e morfometria, a pesquisadora ainda organizou, corrigiu e atualizou o acervo de gênero Senegalia.

“Junto com pesquisadores dos Estados Unidos, com quem colaboro há algum tempo, a gente descreveu dois gêneros novos para esse grupo: a para-senegalia e a pseudo-senegalia“.

Segundo ela, a maior parte dos materiais desses complexos de plantas está depositada em herbários nos Estados Unidos e na Inglaterra, então, é importante que haja mais parcerias internacionais para ampliar as pesquisas em andamento.

Foto de acervo pessoal.

Trajetória de pesquisa

Bióloga de formação (formada pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM – em 2008), e natural do Rio Grande do Sul, Vanessa Terra não planejou se dedicar à botânica desde o início de sua carreira.

Após uma primeira incursão na pesquisa, ainda na graduação, em estudos na interface da Biologia com a Medicina, ela buscou alternativas de atuação profissional que não dependessem do trabalho com cobaias, e as aulas de botânica surgiram como um espaço interessante para a realização de pesquisas que não envolvessem animais.

“Quando migrei de área e comecei a me dedicar à botânica, trabalhei, inicialmente, com levantamento florístico. Nesses estudos, encontrei a família Fabaceae, com a qual trabalho desde então” – relembra a pesquisadora.

Essa família de plantas é popularmente conhecida como leguminosas, e tem centenas de variedades de gêneros e espécies descritas.

Durante o mestrado, Vanessa passou a se dedicar à espécie com a qual trabalha até hoje, a Senegalia, com foco em taxonomia e conservação em Minas Gerais.

No doutorado, ampliou a pesquisa para todo o Brasil, buscando compreender também os aspectos relacionados à filogenia (coleta de DNA) em todo o território brasileiro.

O foco deste estudo foi verificar quantas espécies ocorrem no Brasil, em quais biomas e quais necessitavam de mais cuidados para conservação, por estarem ameaçadas de extinção.

“Busquei entender, através da biologia molecular, o parentesco entre essas espécies e as Senegalias que ocorrem fora do país”.

Ela destaca a importância da premiação para mostrar a qualidade dos estudos desenvolvidos nas Universidades do país:

“Nossa diversidade no Brasil é gigantesca e pesquisadores de fora ficam muito interessados em nossa fauna e flora. É importante receber esses prêmios também para mostrar que nossa produção tem muita qualidade”, conclui.

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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