Não sei se você sabe, mas vespas, abelhas e formigas pertencem ao mesmo grupo de insetos. Além disso, esta turma apresenta alta diversidade de interações com outras espécies de animais e vegetais no mundo. Uma das características mais interessantes dessa galerinha, porém, é que indivíduos podem ser solitários ou sociais.

As formigas, por exemplo, são chamadas de “eussociais”. Que palavra estranha, né? Mas ela quer dizer que as formiguinhas possuem três características bem definidas: sobreposição de gerações (quando há formigas com diferentes idades em uma mesma colônia), divisão de trabalho (quando existem operárias especializadas em trabalhar dentro e fora da “comunidade”) e cooperação no cuidado com os filhotes.

As formigas também são holometábolas. Ahn?! Isso quer dizer que o seu desenvolvimento é completo! Além disso, elas têm metamorfose e um ciclo de vida formado por ovos, larvas (que passam, em geral, por cinco fases ou estágios), pupas (quando ocorre a metamorfose da larva) e indivíduos adultos.

O interessante é que, para se transformar em pupa, as larvas expelem fios de seda e constroem os próprios casulos, como acontece com as lagartas de borboletas e mariposas. Dentre as diversas espécies de formiga, uma, em especial, se destaca por causa de seu modo de vida em colônia. Apesar de pouco conhecida, ela também pode ser usada no controle biológico de pragas. Estamos falando da pequena e brava formiga tecelã.

 Para conhecê-la melhor, o professor Jean Carlos Santos, da Universidade Federal de Uberlândia – também conhecida como UFU – desenvolveu uma pesquisa para estudar a ecologia e o comportamento dessa espécie. Você acha que ela é fofa e inofensiva? O estudo do Jean Carlos revelou que essa pequena artesã é extremamente hostil, podendo morder e jogar ácido fórmico sobre as presas ou contra inimigos que ataquem seu ninho.

Quando ameaçadas, batem várias vezes o abdômen contra a parede do ninho para produzir um barulho alto que pode afugentar competidores e inimigos. Ui! Além de agressivas, elas também são “territorialistas”. O que é isso?! É que essas formigas constroem um ninho central e distribuem outros, menores, na periferia.

As características da tecelã permitem que a espécie seja usada, pelos cientistas, no chamado “controle biológico” de pragas de plantas frutíferas, por exemplo. “Essas formigas podem reduzir a diversidade e a abundância de insetos herbívoros [bichinhos que se alimentam de vegetais] em pés de laranja, limão, goiaba e manga, onde são naturalmente encontradas as colônias”, explica Jonas José, aluno de mestrado da Universidade de São Paulo, a USP.

Outro fato curioso é que, em geral, nas colônias de formigas, os machos só servem para ajudar na reprodução das espécies. No caso das tecelãs, não! Os cientistas observaram que algumas larvas usadas na tecelagem são, justamente, de machos, que desempenham importante papel na construção dos ninhos. Arquitetura inteligente As formigas tecelãs podem construir ninhos, de tamanhos variados, usando a seda produzida por suas larvas. Sim, uma colônia pode chegar a reunir até 200 mil operárias e mais de 160 rainhas.

Diferentemente de muitas outras espécies, que constroem ninhos no chão ou nos troncos, as tecelãs preferem a parte de cima das árvores, no meio dos galhos e das folhas. Muitas vezes, aliás, as casinhas destas formigas são confundidas com as de vespas, por causa da aparência. Além disso, elas têm um sistema inteligente de climatização no interior das colônias. Por isso, a temperatura interna dos ninhos varia de acordo com a amplitude do clima ao longo do dia.

“Nos dias mais frios, a temperatura interna é maior do que a externa, mantendo a colônia de formigas aquecida. Já nos dias quentes, ocorre o contrário”, explica o professor Jean Santos. 

A sociedade secreta das formigas.

Crédito das fotos: Jean Carlos Santos. Por: Tatiana Nepomuceno