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Jaqueline Goes de Jesus: criticada por transpor a bancada do laboratório

Uma das responsáveis pelo sequenciamento genético do novo coronavírus será personagem do e-book ‘Mulher faz Ciência’

A cientista Jaqueline Goes de Jesus. Foto: divulgação

Mais de uma década depois do ingresso na carreira de cientista, a biomédica Jaqueline Goes de Jesus, pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, passou a dedicar-se à divulgação científica há pouco mais de seis meses.

Tamanho foi o sucesso, que a pesquisadora passou a integrar, agora em novembro, a ação global #EquipeHalo, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU). A campanha envolve cientistas de vários países do mundo e de respeitadas instituições que trabalham em prol de uma vacina para pôr fim à pandemia da covid-19. O Brasil conta com mais três representantes: Natalia Pasternak, Gustavo Cabral de Miranda e Rômulo Neris.

No início da pandemia, Jaqueline Goes de Jesus ganhou projeção, ao lado da professora Ester Sabino, por representar a equipe responsável pelo sequenciamento genético do novo coronavírus, em menos de 48 horas.

“Dentro da nossa área,  isso não é algo muito grandioso. Costumamos fazer sequenciamentos em períodos até mais curtos”, pondera.  “Obviamente, tivemos um papel importante no Brasil por termos sido os primeiros a gerar esses genomas”, reconhece.

Colaboração

No momento, a equipe da qual é integrante, como faz questão de enfatizar, conta com a colaboração de outros grupos de pesquisa para a geração de novos genomas. O objetivo é compreender a atual fase da epidemia no País. “Existe um grupo muito grande por trás da figura das doutoras Ester e Jaqueline, que ficaram conhecidas por serem as cientistas responsáveis pelo sequenciamento do vírus SARS-CoV-2”, ressalta.

Jaqueline explica que a importância da geração de genomas virais, principalmente de vírus emergentes, é entender como se dá a introdução dos mesmos em determinada população e observar as taxas de dispersão, por exemplo. “O nosso trabalho, assim como o de outros pesquisadores que fazem sequenciamento genômico, é justamente trazer informações genéticas, que aliadas às informações epidemiológicas, permitem entender melhor o surto e tomar decisões baseadas na compreensão da dispersão do vírus”, detalha.

Recebi críticas, de outros cientistas, de que o nosso papel não é ficar na mídia, mas dentro do laboratório.

Divulgação científica

A projeção resultante do pioneirismo no sequenciamento genético do novo coronavírus transformou Jaqueline Goes de Jesus em influenciadora. Hoje, seu perfil no Instagram, por exemplo, tem 156 mil seguidores. Ela decidiu aproveitar o prestígio para falar de ciência e de representatividade. “Recebi críticas, de outros cientistas, de que o nosso papel não é ficar na mídia, mas dentro do laboratório” revela.

“Durante mais de dez anos, fiz pesquisa para os pesquisadores e dialoguei com eles o tempo inteiro. Acabamos por esquecer que o objetivo do nosso trabalho é trazer melhorias para a vida da população. Quando a categoria de cientistas, como um todo, entender isso, será mais fácil resgatar a confiança na ciência”, analisa.

Jaqueline Goes de Jesus atribui o crescimento do negacionismo científico, em parte, aos próprios pesquisadores, que falham em não dialogar com a sociedade.  “Isso teve custos irreparáveis para a ciência brasileira, de perda de grandes projetos que estavam sendo desenvolvidos, por conta dos cortes de recursos que sofremos”, diz.

Ela defende o engajamento da categoria para convencer a população de que a ciência tem critérios. “O rigor científico nos permite sugerir algumas medidas e afastar outras, não baseadas apenas em opinião”, reitera.

Representatividade 

“Como mulher negra, creio que eu tenha sido colocada como uma figura de inspiração, não porque a doutora Jaqueline é super-heroína, maravilhosa, perfeita. É pela falta de representatividade”, aponta. Para a cientista, se outras mulheres negras tivessem ganhado destaque na área, antes dela, o impacto da sua presença não seria o mesmo. “Comecei a observar quantas cientistas negras temos no Brasil que realizam pesquisas importantíssimas e não aparecem na mídia. Aí reside a invisibilidade que sofremos. Como mulher negra, mais ainda, porque estamos ‘categorizadas’, num nível abaixo, ainda, das mulheres brancas. Infelizmente, esse é o reflexo da nossa sociedade”, observa.

Mulher faz Ciência

Jaqueline Goes de Jesus será uma das personagens do terceiro volume do e-book Mulher faz Ciência, com lançamento previsto em fevereiro de 2021. A publicação, criada no âmbito do projeto Minas Faz Ciência, da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), tem o objetivo de despertar o interesse, especialmente de meninas e jovens mulheres, para a carreira científica.

 

Alessandra Ribeiro

Graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte - Uni-BH (2004). Especialista em Imagens e Culturas Midiáticas (2008) e mestra em Comunicação Social (2020) pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG . É jornalista do projeto Minas Faz Ciência desde 2015 e autora do e-book Mulher faz Ciência.

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