Por Luiza Lages e Mariana Alencar
No episódio de hoje da temporada Trajetórias da Parentalidade, o assunto é amamentação e nutrição. Conversamos com Maria Cristina Passos, professora do Departamento de Nutrição Clínica e Social da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e Luana Caroline dos Santos, professora do Curso de Nutrição e dos Programas de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde e Ciências da Saúde da UFMG.
Confira uma discussão sobre os benefícios e dificuldades associados à amamentação, ao desmame e à introdução alimentar.
Escute aqui:
Benefícios da amamentação
A amamentação traz benefícios para a criança, para a mãe e para a família. Segundo Maria Cristina Passos, toda a sociedade se beneficia. Além de ser melhor nutrida, a criança que mama no peito tem menos episódios de infecção e doenças de modo geral, nos primeiros anos de vida.
“O leite é muito adaptado às necessidades da criança. E, mesmo quando ela é afetada por alguma doença infecciosa, ela se recupera mais rápido, porque tem a imunidade passiva, adquirida pelo leite humano”, diz a pesquisadora. No geral, a criança que é amamentada apresenta melhor desenvolvimento.
Passos explica que, já que a criança que mama no peito adoece menos, a amamentação traz benefícios para o sistema de saúde. E, por ser uma prática alimentar autossustentável, também impacta menos o meio ambiente.
Quando e por quanto tempo amamentar?
Hoje, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a amamentação seja feita de forma exclusiva até os seis meses de idade, e em livre demanda. Isso significa que é o bebê quem deve pedir para mamar, de acordo com as suas necessidades.
O bebê não tem horário e nem um intervalos rígidos para mamar. Por exemplo, se ele se alimenta menos em uma mamada, costuma apresentar fome em um intervalo menor de tempo. “O recém-nascido mama em torno de oito a doze vezes no espaço de 24 horas. Mas ele pode começar a espaçar isso aos poucos, depois dos 2 ou 3 meses. Isso acontece porque o estômago dele se expande e ele passa a ingerir uma quantidade maior de leite por mamada”, explica Passos.
Além das necessidades nutricionais, da fome, o bebê tem necessidade afetiva. Segundo Maria Cristina Passos, existem dados de que a criança pode absorver praticamente 80% do leite que ela precisa durante os cinco primeiros minutos de mamada. Ou seja, no início, ela se hidrata e mata a fome rapidamente, e depois permanece no peito da mãe, mamando devagar, porque tem necessidade de ficar ali.
A professora também diz que a orientação dada para as mães é que façam o revezamento das mamas. Se em uma mamada ela começou com o peito esquerdo, na próxima, é importante começar pelo direito. É uma medida que cria um equilíbrio na sucção e na produção de leite nas duas mamas.
Dificuldades e rede de apoio para a amamentação
Um elemento essencial durante a amamentação é a rede de apoio. Segundo a professora Maria Cristina, toda a ajuda de familiares, colegas e amigos é bem-vinda. “Principalmente nos primeiros dias, pode ser bastante difícil para mulher, muito extenuante. É preciso uma rede de apoio que possa revezar com ela outras tarefas, incentivá-la, dizer que isso é muito importante, que o leite dela é forte, que ela vai conseguir. Além da ajuda material, o empoderamento da mulher é muito importante”, afirma a professora
A falta de uma rede de apoio é, segundo a pesquisadora, um dos principais motivos pelos quais as mães normalmente enfrentam dificuldades na hora de amamentar. “É muito importante que as mulheres busquem ajuda. Eu costumo dizer que a amamentação e dor não combinam. Toda vez que a mulher sentir dor, ela deve procurar auxílio. Se a mãe tem o desejo de amamentar, ela deve procurar ajuda. E a ajuda existe”, afirma.
Profissionais de saúde podem orientar a mulher durante o processo de amamentação. Dificuldades como dor, pega inadequada do bebê e mama cheia podem ser superadas com esse tipo de auxílio. “Quando as mães têm o apoio profissional, seja de uma enfermeira, um médico, um nutricionista ou uma pessoa que seja capacitada para oferecer essa ajuda, ela consegue vencer esses problemas e consegue amamentar”, diz Maria Cristina Passos.
Desmame
O ideal é que a amamentação seja a fonte exclusiva de alimento da criança até os seis meses de idade. Depois desse período, deve ser feita a introdução alimentar, mas com manutenção do aleitamento materno. A recomendação é que a amamentação continue até os dois anos da criança. Cada gestante deve avaliar o momento ideal para o desmame.
Segundo Passos, o desmame deve ser o mais suave possível. É natural que, frente a outros interesses, a criança vá deixando de mamar. O importante é que tanto a mãe quanto o bebê interrompam a amamentação aos poucos, com cuidado.
Introdução alimentar
O recomendado é que a introdução alimentar comece aos seis meses de idade. Mas, de acordo com a nutricionista Luana Caroline dos Santos, professora do Curso de Nutrição da UFMG, esse período é uma média e pode variar de criança para criança.
Para determinar o momento correto da introdução alimentar, a criança precisa apresentar alguns sinais de prontidão e de interesse. É importante também que a criança consiga, por exemplo, se sentar sozinha, para ter a mobilidade necessária com os braços. “Se alguma criança apresenta algum atraso no desenvolvimento, como uma criança que nasceu prematura, a gente vai avaliar o momento mais oportuno de introduzir novos alimentos”, diz Santos.
Segundo a pesquisadora, o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria priorizam a alimentação introduzida de forma gradativa, tanto na consistência quanto na quantidade. Ganha destaque ainda o envolvimento no ambiente familiar. “A ideia que temos hoje é de evitar dar de comer. O ideal é comer junto com a criança”, explica.
Abordagens para a alimentação
Existem diferentes abordagens para a introdução alimentar. Uma das mais conhecidas, e que cada vez mais ganha adeptos, é o BLW (Baby Led Weaning). É uma abordagem que trabalha a autonomia do bebê: os alimentos são oferecidos em pedaços, no seu formato natural. A ideia é fazer com que a criança consiga compreender qual a textura, a forma e o sabor original do alimento.
Segundo Luana Santos, não há uma abordagem melhor que a outra. A introdução alimentar precisa se encaixar no contexto de cada família. “A gente evita ditar regras demais para a família, que já passa por um momento muito desafiador, de aprendizado em relação à alimentação. A introdução alimentar é um momento muito oportuno para que a família melhore seus hábitos alimentares, então a gente procura trabalhar com a família inteira”, conta.
O que dar para o bebê comer?
A professora explica que uma alimentação saudável para o bebê e para criança é aquela que tem todos os grupos de alimentos: cereais, raízes, tubérculos, leguminosas, verduras, legumes, carnes ou ovos. Caso o bebê não consuma alimentos de origem animal, os pais devem se atentar aos outros alimentos consumidos, para que ele receba a quantidade correta de nutrientes. Junto de cada refeição, é recomendável, também, um pedaço de fruta.
“Hoje a gente tem o guia alimentar pra crianças brasileiras menores de dois anos que traz uma regra muito simples: a família deve priorizar os alimentos na sua forma mais natural. Se eu minimizo a oferta dos alimentos industrializados, há mais chances de garantir que a criança tenha uma alimentação saudável”, afirma Santos.
A formação do paladar da criança acontece desde o período de gravidez. Por isso, há um trabalho alimentar com a mãe durante o pré-natal. “Tudo o que a mãe consome impacta na apropriação dos sabores pelo bebê. Então a diversidade na alimentação da gestante propicia à criança melhor aceitação a uma variedade maior de alimentos”, explica.
E, consenso nos guias alimentares, a reduzida oferta de açúcar até os dois anos de idade é benéfica para a criança. “A criança tende a ter uma predileção por esses alimentos ao longo de sua vida e acaba deixando de lado alguns alimentos na sua forma mais natural. Por isso, a nossa recomendação é sempre evitar o açúcar até os dois anos de idade. Seja ele na sua forma simples, seja ele na forma de adição aos diferentes alimentos e preparações”, diz Luana Santos.
Trajetórias da Parentalidade
O episódio Amamentação e nutrição é o quarto da temporada Trajetórias da Parentalidade, do podcast Ondas da Ciência. Vamos trazer, sob a ótica das ciências, assuntos que tratam de aspectos relevantes nos debates sobre a parentalidade.
Escute também:
O Ondas da Ciência é uma produção do projeto Minas Faz Ciência, da Fapemig, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais.