De 1933 a 1955, o dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956) reuniu, em Diário de trabalho e ABC da guerra, uma série de imagens sobre o conflito mundial. Ao lado de fotografias e recortes de jornais, o poeta acrescentava legendas, textos ou versos.
A partir das montagens brechtianas, Georges Didi-Huberman, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, descreve e problematiza, em Quando as imagens tomam posição, inúmeras facetas da relação entre história e estética no século XX.
Para lidar com a vastidão de tal objeto empírico, o pesquisador francês debruça-se sobre os próprios procedimentos de Brecht em sua “curadoria” de imagens – ato responsável, em si, por revelar e redimensionar as “tomadas de posição” do escritor germânico.
Desse modo – e, também, com base em ideias e depoimentos de outros tantos artistas e filósofos acerca do “lugar da imagem e das condições de uma possível política da imaginação” –, Didi-Huberman discute a guerra, o exílio, as vanguardas etc.
Em seis capítulos, o pesquisador aborda “A posição do exilado – Expor a guerra”, a “A disposição às coisas – Observar a estranheza”, “A dis-posição das coisas – Desmontar a ordem”, “A composição das forças – Remostrar a política”, A interposição dos campos – Remontar a história” e “A posição da criança – Expor-se às imagens”.
Trecho
“Para saber é preciso tomar posição. Gesto nada simples. Tomar posição é situar-se pelo menos duas vezes, em pelo menos duas frentes que toda posição comporta, pois toda posição é, fatalmente, relativa. Trata-se, por exemplo, de afrontar algo; diante disso, todavia, precisamos também contar com tudo aquilo de que nos afastamos, o fora de alcance que existe atrás de nós, que recusamos talvez, mas que, em grande parte, condiciona nosso próprio movimento, logo, nossa posição. Trata-se também de situar-se no tempo. Tomar posição é desejar, é exigir algo, é situar-se no presente e visar um futuro. Contudo, tudo isso só existe sobre o fundo de uma temporalidade que nos precede, que nos engloba chamando por nossa memória até em nossas tentativas de esquecimento, de ruptura, de novidade absoluta. Para saber é preciso saber o que se quer; porém, é preciso, também, saber onde se situa nosso não saber, nossos medos latentes, nossos desejos inconscientes.”
O livro
Livro: Quando as imagens tomam posição – O olho da história, I
Autor: George Didi-Huberman
Tradução: Cleonice Paes Barreto Mourão
Editora: UFMG
Páginas: 280
Ano: 2017