Caso você se depare com uma cobra coral, saberia distinguir se o animal é peçonhento ou não?
Se você não for um biólogo ou profundo conhecedor desses animais, dificilmente conseguirá.
Fato é que a coral verdadeira pode inocular seu veneno em uma pessoa ou em outros animais e a falsa, não. Isso acaba causando a matança indiscriminada desses animais.
Com o objetivo de evitar que isso se torne recorrente, a Fundação Ezequiel Dias (Funed), por meio de seu Serviço de Coleção Científica (SCC), criou o livro Cobra Coral, que busca produzir material educativo para que qualquer pessoa seja capaz de diferenciar espécies de corais verdadeiras e falsas encontradas no estado de Minas Gerais.
“Em todos os eventos de divulgação científica que participamos, uma das perguntas mais frequentes do público era: como podemos diferenciar as corais verdadeiras das falsas? Assim, surgiu a ideia de produzirmos um material educativo que ensinasse de uma maneira simples as características que nos permitem identificar esses animais”, explica Flávia Cappuccio Resende, bióloga do SCC.
Diferentes espécies em Minas Gerais
No Brasil, existem 37 espécies de corais verdadeiras e aproximadamente 60 espécies de corais falsas.
Foi realizado um levantamento bibliográfico para identificar as espécies de corais verdadeiras e falsas que ocorrem em Minas Gerais.
Espécimes tombados presentes na Coleção Científica de Serpentes da Funed de cada uma das espécies de corais foram analisados, visando reconhecer características morfológicas que permitem identificar as diferentes espécies.
Também foram realizadas fotografias da cabeça, dorso e ventre dos animais.
Para identificar os animais, os biólogos usam uma chave de identificação, também conhecida como chave dicotômica. Ela possibilita descobrir a família, gênero, ou espécie de um organismo através da observação de suas características morfológicas.
“A chave dicotômica oferece usualmente duas alternativas, que o biólogo decide observando o animal. Por exemplo, se estivermos identificando uma cobra coral, um dos itens da chave dicotômica poderia ser: 1. presença de anéis pretos, vermelhos e brancos completos, ou 2. anéis pretos, vermelhos e brancos incompletos. Ventre branco, creme ou manchado”, explica a especialista, que acrescenta que os passos da chave devem ser seguidos, e, ao final, eles vão sinalizar a espécie daquele organismo.
Método simplificado para não-especialistas
A equipe adaptou o método de identificação para que qualquer pessoa consiga diferenciar as cobras. Foi elaborada uma chave de identificação didática com auxílio de um profissional design gráfico.
“Identificamos cinco espécies de corais verdadeiras que ocorrem no estado de Minas Gerais: Micrurus corallinus, Micrurus frontalis, Micrurus lemniscatus, Micrurus brasiliensis e Micruus decoratus. Uma réplica de uma coral verdadeira da espécie Micrurus frontalis foi confeccionada em tecido”, detalha Flávia.
Além dessas, também foram mapeadas quatro espécies de corais falsas comumente encontradas no estado: Oxyrhopus guibei, Oxyrhopus trigeminus, Erytrholamprus aesculapii, Apostolepis assimilis.
Para cada uma dessas espécies, foram registradas características morfológicas que permitem sua identificação.
Livro artesanal, feito com material reciclado
Com base nessas informações, um exemplar do livro foi confeccionado em material reciclado e de modo artesanal. O trabalho foi realizado em conjunto com o bolsista de iniciação científica Júnior Leonardo Carvalho da Silva, com a artista plástica Miriani Rezende, e com Fábio Neves, profissional de design gráfico.
“Pretendemos publicá-lo em formato digital para estar disponível na internet, e também em mídia impressa. A chave de identificação didática das corais será incluída no próximo mês na cartilha Animais Peçonhentos, disponibilizada no site da Funed”, conta Flávia.
O que fazer ao encontrar uma cobra coral?
Ao se deparar com esses animais, a pessoa deve se afastar, nunca tentar pegar com as mãos, pois é assim que acontecem os acidentes com as corais verdadeiras.
As cobras não são agressivas, não dão bote, mas podem picar quando são manipuladas ou quando pisamos nelas acidentalmente.
Para a bióloga Flávia Cappuccio Resende, mostrar a diversidade de serpentes do estado já é uma forma de alertar para a preservação desses animais, independente de serem venenosos ou não.
“Precisamos conhecer para preservar! Difundir informações sobre as serpentes, sua história de vida, seu comportamento só ajuda a respeitarmos esses animais tão temidos e cheios de mitos que, infelizmente, passam entre as gerações”, acredita.