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A vida é bela e perigosa

“Viver é muito perigoso… Porque aprender a viver é que é o viver mesmo… Travessia perigosa, mas é a da vida”

Foto: sxc.hu

Na sabedoria sertaneja de Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, a vida é repleta de perigos, apesar disso vale a pena ser vivida. Para o médico Luís Roberto Londres, o perigo da vida atual é que as pessoas preferem não viver por medo da morte. “Uma pessoa que se dispõe a viver bem tem muito mais chance de ter boa saúde do que aquela constantemente preocupada em evitar doenças.”

Londres é cardiologista e mestre em filosofia, ciência que o ensinou a lançar um novo olhar sobre a prática profissional e constatar que os médicos abriram mão do lado humano da medicina em favor da tecnologia e dos resultados. “Essa ditadura está nos roubando o sabor da existência”, aponta. O comportamento dos profissionais da saúde, inclusive, contradiz um conceito importante da área médica: que saúde não é prevenir doenças, mas sim promover o bem estar.

A internet e a mídia têm parte importante nesse processo de enaltecimento da doença em vez da saúde. É fundamental que as pessoas tenham acesso às informações científicas a respeito da cura ou tratamentos alternativos para doenças. Mas, segundo Londres os jornalistas precisam ser cuidadosos ao exporem as informações a respeito de estudos que ainda não têm comprovação prática.  O médico relata que um colega lhe mostrou uma matéria que mostrava a relação do telefone celular com o desenvolvimento de tumores no cérebro. “Todo o texto estava no condicional – ‘poderia, levaria’ –, mas na transcrição de uma frase de um pesquisador havia o fatídico ‘afirmou fulano’. Pode parecer um detalhe, mas esse tipo de coisa passa a idéia de que todos os dados ali contidos estão comprovados, são verdade absoluta. Na realidade, é hipótese em cima de hipótese, com uma afirmação no final”.

Contra a medicina “House” (série que mostra um médico que detesta pessoas e se preocupa apenas com o diagnóstico), Londres adverte: “Um médico de verdade tem de entrar na complexidade psicológica e biológica de seu paciente”. Talvez para os profissionais de hoje essa proposta seja um tanto perigosa, já que, as estatísticas não esperam, é preciso apresentar bons resultados.

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