Você sabia que a cada dia cientistas do mundo inteiro identificam pelo menos 50 novas espécies animais? Já parou para pensar como se dá este processo e o que é necessário para registrar a descoberta de um novo ser vivo?
Então vamos lá, por etapas.
Quando um pesquisador acredita ter feito uma nova descoberta, a primeira providência é verificar se é mesmo inédita. Em seguida, ele deve escolher um nome e publicar uma descrição bem detalhada.
Quer ver um exemplo?
A nova espécie apresenta uma combinação única de caracteres morfológicos: (1) coloração de cutia cinzenta na coroa e partes dorsais; (2) ventre vermelho-marrom inteiramente brilhante; (3) uma cauda quase inteiramente preta com uma ponta pálida; e (4) coloração amarelo clara do cabelo nas bochechas, contrastando com o cabelo castanho avermelhado brilhante nas laterais do rosto.
Essa descrição acima é só uma pequena amostra do amplo trabalho realizado por um grupo de pesquisadores, entre eles, o professor Fabiano R. de Melo, do Departamento de Engenharia Florestal, da Universidade Federal de Viçosa. A nova espécie foi batizada como Plecturocebus grovesi, em homenagem ao renomado pesquisador australiano, de origem inglesa, Colin Groves, falecido em 2018.
Nem sempre, as novas espécies são encontradas na natureza. Pode ser que uma ampla pesquisa em espécies arquivadas em um museu leve à descoberta de um besouro não catalogado, por exemplo.
Foi o que aconteceu em 2014, quando o biólogo Stylianos Chatzimanolis, da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos percebeu que um inseto coletado por nada menos que Charles Darwin, na Argentina, em 1832, nunca tinha sido catalogado.
Curiosamente. em 2012, pesquisadores do Museu Nacional de História Natural de Paris estimaram que leva uma média de 20,7 anos até que espécimes coletados sejam descritos e catalogados como uma espécie nova.
Mas por que leva tanto tempo se os bichinhos já foram coletados e arquivados? Justamente por isso. No Museu de História Natural de Londres tem uma sala de 16 x 73 metros, 1,1 mil armários verdes – cada um com 22 gavetas – guardam cerca de 10 milhões de besouros de 170 mil espécies.
Max Barclay, coordenador da coleção, disse à BBC que
“Quando um pesquisador nosso volta de uma expedição com 20 mil besouros, levamos de três a quatro anos catalogando-os e organizando-os para serem exibidos. Depois ainda temos que agrupá-los nas famílias corretas e depois classificá-los por espécie”
No Brasil
Só na região amazônica, uma nova espécie de planta ou animal é descoberta praticamente todo dia. Segundo a National Geographic, estudo feito pela WWF e o Instituto Mamirauá, relatou que 381 novas espécies foram encontradas entre 2014 e 2015.
Encontrar tantas novas espécies novas na Amazônia não é de todo surpreendente, consideram os pesquisadores. A região tem mais de 10,3 milhões de km2 e abriga 10% das espécies de plantas e animais conhecidas no mundo, em um conjunto diverso de ecossistemas.
O que espanta o número de grandes mamíferos e répteis que passaram desapercebido por tantos anos, como o macaco descoberto pela equipe do qual faz parte o professor de Viçosa.
O relatório da WWF aponta também uma triste realidade: índices acelerados de destruição do habitat na região podem levar muitas dessas espécies à extinção, antes que cientistas tenham a oportunidade de estudá-las.
Foi o que quase aconteceu com o macaco titi, que deve perder cerca de 86% do seu habitat nos próximos 24 anos. Por isso a espécie já nasce com o status de “espécie criticamente em perigo de extinção”.
Da mesma forma, a União Internacional para Conservação da Natureza já classificou vários dos recém-identificados animais e plantas da Amazônia como ameaçados ou em perigo.
Então, a lição é: não basta identificar e catalogar. É preciso lutar pela preservação das espécies em risco!
Nenhum comentário