Já parou para pensar em quantas estrelas a gente consegue ver à noite?

Se estiver muito escuro, podemos contemplar até 1500!

E cada uma delas “mora” em uma das 88 constelações existentes, que ajudam a separar o céu em pequenos pedaços.

Algumas podem ser apreciadas do hemisfério norte; outras, apenas do extremo oposto.

Em todo o mundo, e em diferentes momentos da história, porém, a humanidade olhou para o alto e buscou criar uma espécie de “

“Existem constelações de diferentes culturas. Os chineses, os egípcios e os gregos, por exemplo, criaram suas constelações, e usam formas e figuras diferentes para imaginá-las no céu”, conta Leonardo Marques Soares, professor de Física do Instituto Federal Minas Gerais.

Os movimentos de nosso Planeta fazem com que o céu se transforme um pouco todos os dias, mas sempre em um ciclo.

As fases da Lua, por exemplo, se repetem a cada 29 dias e 12 horas.

Por causa dessa repetição, as constelações tornaram-se instrumentos para marcar o tempo, as estações do ano, o clima e a localização.

Diferentes povos conseguiam identificar os melhores períodos para a caça ou a agricultura, ao observar os grupos de estrelas do céu.

No Brasil, foi isso o que fizeram as tribos indígenas.

Caminho da anta

Em noites mais escuras, não é difícil observar a Via Láctea – aquela faixa mais forte, no meio do céu, com muitos pontos de luz.

O nome vem da cultura grega, que enxergava ali um “caminho de leite”.

Hoje, sabemos que essa é a visão que temos de nossa própria galáxia, vista de dentro. Para os indígenas, a mesma faixa estrelada ganha outro nome: Tapi’ir Rapé, que significa “caminho da anta”.

O mamífero é muito importante para a sobrevivência dos indígenas, quando a alimentação desses povos dependia mais da caça.

“Eles veem, na verdade, um caminho, uma estrada que corta o céu e liga a Terra ao mundo dos espíritos. Os indígenas imaginam que todos os animais mortos, para subsistência ou de modo natural, seguem, nesse caminho, em direção ao céu, porque são puros”, conta Leonardo Soares.

Tapi’ir Rapé é a região mais importante do céu para a Astronomia Guarani, e é onde eles organizaram e desenharam muitas constelações.

Ema e Jararaca

Quatro constelações marcam as estações do ano para os Guarani: Ema, no inverno; Anta, na primavera; Homem Velho, no verão; o Veado, no outono.

Enquanto, na Astronomia científica, as figuras são criadas por meio da ligação das estrelas mais fortes no céu, os desenhos indígenas são mais criativos.

Muito importante para os Guarani – e outros povos da América do Sul –, a constelação da Ema é formada por uma nebulosa escura, e as plumas, por estrelas da Via Láctea.

“A figura faz contraponto com o modo como a ciência imagina as figuras e as formas no céu. Até as manchas escuras são usadas para compor as constelações indígenas”, conta Leonardo Soares.

Toda figura tem algo a dizer. Enquanto a constelação da Ema ajuda os índios a acompanhar mudanças de estações, outros desenhos estelares facilitam a compreensão do clima e das mudanças no ambiente.

A constelação da Jararaca – conhecida, pela Astronomia científica, como “Escorpião” – é associada, pelos Ticuna, povo indígena do Norte do Brasil, ao período das chuvas. Afinal, Jararaca é a serpente que chega às aldeias, na Amazônia, durante a cheia dos rios.

Por isso, os índios associam a época de aparição do animal às estrelas em destaque no céu.