Os paraísos naturais encontrados nas serras do Cipó, da Canastra e do Caraça, em Minas Gerais, fazem parte de um bioma tropical pouco conhecido pelos cientistas. As paisagens que circundam as cidades históricas como Ouro Preto, Tiradentes, São João Del Rey e Diamantina, que são atrativos turísticos, também fazem parte desse bioma quase esquecido e pouco preservado.

Estamos falando do campo rupestre, um conjunto natural formado por vegetação, clima e hidrografia muito específicas. É um ecossistema extremamente antigo, característico de montanha e que ocorre nas partes mais elevadas da Cadeia do Espinhaço, no Centro e no Leste do Brasil.

Campo rupestre tem mais de 5 mil espécies de plantas, quase 15% da diversidade de vegetais do país, em área correspondente a 0,78% do território nacional. Para ser ter uma ideia, ele ocupa uma área um pouco maior do que a Holanda.

De acordo com biólogos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que estudam o ecossistema, 40% dessas plantas não ocorrem em outro lugar do mundo. Isso significa que, apenas de espécies exclusivas, esse bioma tem mais tipos de plantas do que toda a Europa Ocidental.

Paisagens típicas de campo rupestre A) Pico das Almas, na Bahia. B)Parque Nacional das Sempre Vivas, Minas Gerais; C)Pico das Almas, na Bahia; D) Serra do Cipó, Minas Gerais. Foto: Arquivo dos pesquisadores

Paisagens típicas de campo rupestre A) Pico das Almas, na Bahia. B)Parque Nacional das Sempre Vivas, Minas Gerais; C)Pico das Almas, na Bahia; D) Serra do Cipó, Minas Gerais. Foto: Arquivo dos pesquisadores

Características

Visual geral: mosaico de coberturas de capim, pântanos, matas ciliares e vegetação sobre rochas.

Algumas plantas: o girassol, o crisântemo, a margarida (Asteraceae); orquídeas (Orchidaceae); capim, grama (Poaceae); quaresmeira, manacá-da-serra (Melastomataceae); ixoria, gardênia, pau-mulato (Rubiaceae); o flamboyant, a pata-de-vaca, o sombreiro, jatobá (Fabaceae); eucaliptos, pé-de-jambo, pitangueira, goiabeira, pé-de-jaboticaba (Myrtaceae)

Geomorfologia: ilhas florestais, cavernas, poças rochosas, rochas nuas, lagoas, fissuras.

Clima: em invernos marcadamente secos e verões úmidos

Espécies encontradas no bioma campo rupestre. Foto: Arquivo dos pesquisadores

Espécies encontradas no bioma campo rupestre. Foto: Arquivo dos pesquisadores

Biodiversidade

Muita gente pensa que a Amazônia é a área mais biodiversa no planeta. Mas, de acordo com cientistas da UFMG, se ponderamos a biodiversidade por unidade de área, a Serra do Espinhaço talvez seja a área mais biodiversa em todo planeta.

O campo rupestre, às vezes, pode ser confundido com o Cerrado, por causa da localização. No entanto, a vegetação é mais parecida com a de outros locais do planeta. A diversidade de algumas linhagens de plantas do campo rupestre, nas terras mais altas, é anterior à diversificação ocorrida no Cerrado, nas terras baixas. Isso sugere que a vegetação desse bioma pode ser a mais antiga do leste da América do Sul.

A importância dos campos rupestres não se resume apenas a aspectos da biodiversidade. Tem também importância histórica e econômica – devido à retirada de ouro e diamantes no período colonial, e, atualmente, de ferro. Dessa forma, os cientistas concluem que a vegetação de campo rupestre detém um patrimônio geológico, biológico, cultural e econômico.

Preservação

Infelizmente, todo esse patrimônio é ameaçado por diversas atividades, principalmente, relacionadas à mineração. O campo rupestre é também usado para obtenção de água, que se for feita de forma irracional, pode prejudicar o bioma.  Em tempos de crise hídrica, conservar o campo rupestre é a estratégia ecológica e economicamente mais interessante e viável, de acordo com cientistas da UFMG.

FONTES DAS INFORMAÇÕES: Assessoria da imprensa da UFMG  e Ecology and evolution of plant diversity in the endangered campo rupestre: a neglected conservation priority