Queremos dar uma dica preciosa e apetitosa para nosso leitores do Minas Faz Ciência Infantil. Se você gosta de comer ou de cozinhar, vai adorar conhecer o livro Comida de afeto: lembranças embaladas para viagem. Conversamos com uma das autoras da obra, a mineira Luciana Patrícia de Morais, e vamos contar tudo aqui para vocês….Pode vir que tá na mesa!

“Existem muitas formas de experimentar o mundo. Para muita gente, não há nada melhor que cheiro de café sendo coado. Cheiro misturado com sabor! Tão poderoso, que pode até fazer voltar no tempo. Todo mundo saber que a comida é muito importante para a saúde. Saco vazio não para em pé. Que nunca ouviu isso? Mas a comida, além de alimentar, também pode aquece o coração. Ao longo de anos, vamos guardando, em diferentes caixinhas de sentimentos, o gosto das coisas” (trecho do livro).

livro comida afeto 2O livro é uma provinha da experiência das autoras com crianças do Hospital Pequeno Príncipe que fica em Curitiba, no Paraná. Este é um hospital que recebe crianças de todo o Brasil e elas acabam passando boa parte da infância por lá. Funcionários perceberam que era preciso fazer aquele hospital parece com a casa dos pequenos pacientes.

Assim, pensaram que cada uma das crianças tem uma comidinha preferida ou aquele prato que lembra casa da vó, reunião em família, costumes da cidade em que nasceu. A cozinha da instituição se adaptou para um cuidado quase individual com a alimentação dos pequenos.

“Funcionários e chefes de cozinha têm como prioridade a comida com afeto, para resgate da memória. Algumas alas do hospital contam com nutricionistas que visitam cada quarto para entender a cultura dessas crianças para que a dieta permitida possa oferecer algo com o que elas se identificam”, explica Luciana.

Segundo Luciana, a cozinha aprendeu a conversar com os médicos para saber a necessidade nutricional dos pacientes e começou a temperar a comida com afeto. Criou-se um fichário com cerca de 900 receitas que as cozinheiras aprenderam com as mães e familiares dos pacientes somente para agradá-los.

Hoje a cozinha conta com mais de 100 funcionários que fazem comida colocando o coração na panela. Imagine que desafio pensar em comidinhas preferidas da criançada tendo que respeitar dietas cheias de nomes científicos: hipercalórica, hipoalergênica, hipossódica, cetogênica, para glicogenose. É uma trabalheira muito gratificante!

livro comida afeto 1Luciana resolveu, junto com outra colega, organizar um livro para reunir parte dessas receitas criadas para agradar os pacientes do Pequeno Príncipe. Cada receita vem acompanhada da história relatada por pacientes, familiares, funcionários sobre o significado daquela comida.

Têm pratos com gosto de saudade, de amor, de paternidade, de maternidade, de infância….Tem creme de milho, bolo de chocolate, ambrosia, arroz doce… Tem até chefe de cozinha famoso que resolveu trabalhar pelo hospital e cozinhar algum prato típico familiar para ajudar na recuperação da criançada! O livro é uma prova de que “cozinha vira narrativa”.

“Ao cozinhar para cuidar, coloca-se na panela o significado que se dá a cada ingrediente e ao ato de preparar o alimento. Algumas receitas atravessam gerações e outras, mesmo mais atuais, pela repetição, se tornam tradição nas famílias. Comida vira saudade. Saudade de um tempo, de uma pessoa, de um lugar. Saudade que aconchega. Para cada um a saudade tem um gosto diferente” (trecho do livro).

O hospital

O Pequeno Príncipe é o maior hospital de alta e média complexidade exclusivamente pediátrico do Brasil. Tem quase 100 anos de história. Destina 70% de sua capacidade de atendimento a crianças e adolescentes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2015, foram mais de 310 mil atendimentos ambulatoriais. O hospital faz tudo isso contando com funcionários e voluntários. Somente em 2015, 1.112 voluntários que passaram pela instituição.

Luciana Patrícia de Morais e Elza Forte da Silva Carneiro. Foto: Divulgação

Luciana Patrícia de Morais e Elza Forte da Silva Carneiro. Foto: Divulgação

As autoras

Luciana Patrícia de Morais é graduada em Ciência Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e tem grande amor pela cozinha. Quando finalizou a graduação, dedicada a um grupo de doceiras do cerrado mineiro, suas pesquisas continuaram seguindo os trilhos do sabor. Defendeu a tese de doutorado em 2011 vinculada à Universidade Federal do Paraná (UFPR), trabalho em que analisou pratos que se tornaram produtos turísticos. Entre 2009 e 2010 realizou o evento Frô – Histórias e Sabores e também é uma das autoras do livro Pratos do Brasil: culinária brasileira para crianças.

Elza Forte da Silva Carneiro cursou direto na UFPR, mas é na realidade cozinheira profissional de mão cheia. Formou-se pelo Le Cordon Bleu em Paris, em 2012. Trabalha sempre evidenciando a relação entre comida e cultura. Foi coordenadora editorial das revistas publicadas para os eventos da série Copa Gastronômica Gols Pela Vida e esteve à frente de projetos do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, incluindo a reestruturação do café do museu.

O projeto “Comida de Afeto – Lembranças embaladas para viagem” foi viabilizado pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.

Vem muito mais por aí…

Em breve o site Minas Faz Ciência traz uma matéria sobre comida, memória e identidade. É uma reportagem em que a Luciana Patrícia de Morais explica melhor a pesquisa acadêmica dela sobre o assunto. Papais e mamães estão convidados para esta leitura!

E não acabou… A edição da revista Minas Faz Ciência Infantil deste ano tem uma sessão especial sobre comida. Lá a criançada vai entender a importância da comida para reunir a família, além de curiosidades sobre a ciência de alguns alimentos. Está imperdível!

Agradecimento: obrigada Luciana Morais por enviar carinhosamente um exemplar do livro Comida de afeto: lembranças embaladas para viagem.