Se eu disser que errar nem sempre é uma coisa ruim, você vai duvidar de mim, não é? Mas isso é a mais pura verdade! Especialmente na área da ciência, o erro pode trazer um monte de respostas mais interessantes ao problema que está sendo estudado. Lembre-se de que a ciência é feita, basicamente, de tentativas e erros. O pesquisador encontra uma questão que o deixa curioso e, em busca de solução, vai estudar, fazer testes e comparar suas ideias com a de outros pesquisadores.

No final, ele arrisca uma resposta, que chamamos de hipó- tese, para explicar o problema. Na escola, a gente só estuda as respostas consideradas corretas. Mas, até chegar nelas, são muitas (muitas, mesmo!) respostas erradas. Dá para falar que, se a ciência fosse um iceberg, os resultados confirmados seriam a pontinha que fica fora d’água, e aquele monte de gelo submerso seriam os erros. E você acha que o pesquisador desanima quando seu trabalho dá errado? Não, mesmo.

O professor Yurij Castelfranchi, que dá aulas na Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG, e estuda, entre outras coisas, a história da ciência, conta que os erros são, na verdade, uma parte importante da pesquisa científica. “Quando os cientistas descobrem que sua hipótese, seu chute, estava errado, eles precisam encontrar uma ideia melhor, tentar de novo, errar de novo, até conseguir uma descrição ou explicação que pareça boa para aquilo que estudam”. É desse jeito que a ciência avança!

Erro bom? O cientista pode cometer vários tipos de erro. Ele pode errar na hora de medir a forma de alguma coisa porque seu instrumento não é o melhor, ou porque não entendeu direito o resultado. Pode errar ao fazer uma conta, ou ter uma ideia errada sobre como funciona um fenômeno. Em todos esses casos, o erro acontece sem querer e, provavelmente, será preciso começar o trabalho todo de novo. Mas, algumas vezes, o erro pode dar um resultado muito mais legal ou útil.

Quer um exemplo? A própria descoberta da América! Cristóvão Colombo queria encontrar uma rota mais rápida para chegar às Índias, importante região comercial que vendia especiarias para toda a Europa. Para isso, baseou-se no cálculo feito por Ptolomeu, matemático grego que nasceu por volta do ano 90 depois de Cristo, segundo o qual a circunferência da Terra era de 33 mil quilômetros. Ele fez suas contas e chegou à conclusão de que chegaria ao seu destino depois de navegar cerca de 4.400 quilômetros – na verdade, essa distância é de 19.600 quilômetros! Assim, depois de 33 dias de viagem (e seis mil quilômetros navegados), ele esbarrou em um continente novo, que ninguém esperava estar ali.

O “erro” rendeu novas terras e riquezas a serem exploradas, além de enterrar a ideia de que o mundo era constituído apenas por um bloco de três continentes (Ásia, África e Europa), rodeado por um grande oceano.

Outra descoberta que aconteceu por acaso foi a da insulina. Opa! O que é isso? Insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, órgão que faz a glicose (um tipo de açúcar) entrar nas células. Mas, lá em 1889, ninguém sabia disso. Dois médicos alemães, Joseph von Mering e Oscar Minkowski, estavam estudando a digestão das gorduras e retiraram o pâncreas de um cachorro para ver se isso alterava alguma coisa. Eles perceberam, então, que o xixi do bichinho passou a atrair mais moscas.

Curiosos, resolveram analisar a urina e viram que ela estava cheia de açúcar. Foi assim que fizeram a ligação: sem o pâncreas para produzir a insulina, as células não absorviam o açúcar, que se acumulava no corpo (até o xixi ficava doce!). Essa descoberta ajudou um monte de pessoas que têm uma doença chamada diabetes, caracterizada pelo aumento da glicose no sangue. Hoje, para combater o problema, elas tomam o quê? Injeções de insulina. Mais uma história legal! Lá por volta de 1836, o americano Charles Goodyear estava tentando encontrar uma maneira de produzir uma borracha de melhor qualidade.

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Ele fez várias experiências e misturou um monte substâncias à borracha, mas não chegou a nenhuma resposta. Um dia, deixou cair um pedaço de borracha misturado com enxofre em uma chapa quente e viu que, além de não derreter, o material ficou elástico e resistente a variações de temperatura. Assim surgiu a borracha vulcanizada, matéria-prima, por exemplo, dos pneus. Por que a gente fica triste quando erra? Se o erro pode até ser uma coisa boa, por que a gente fica tão triste quando faz alguma coisa errada?

Para a Maria Luiza Rocha de Andrade, psicóloga que trabalha no Centro de Psicologia Humanista de Minas Gerais, o problema é que vemos o erro como uma coisa que deve ser punida, e não como o resultado do nosso esforço. “Isso é muito ruim porque, com medo de errar, a gente para de tentar e de arriscar”. Ela acredita que devemos aceitar o erro como parte do crescimento. Quando entendemos que todo mundo pode fazer alguma coisa errada, e que isso vai ajudar a gente a aprender e a escolher novos desafios, ficamos muito mais corajosos! Por isso, nada de fazer piada se o seu colega errar o gol em uma partida de futebol, ou tirar nota baixa em uma prova.

“Ponha-se no lugar dele e diga uma palavra amiga, de incentivo”, ensina Maria Luiza. O professor Yurij concorda que não devemos ficar abatidos quando descobrimos que cometemos um erro. Ele lembra que não só os cientistas famosos, mas todos os pesquisadores sabem que o trabalho tem a ver com errar, e não só com acertar.

“Eu, por exemplo, só neste mês, tive ao menos umas dez ideias erradas de Sociologia (a área que eu estudo). Joguei elas na lixeira, mas já estou com uma outra na cabeça, que parece ser bem melhor. Estou torcendo!”.

 

Por: Amanda Jurno e Vanessa Fagundes