O tripé ensino-pesquisa-extensão é a base das atividades das Universidades brasileiras, mas colocar em práticas projetos nessas três frentes de ação, simultaneamente, não é tarefa fácil. Por isso, o trabalho do grupo liderado pela professora Janaína Fernandes Gonçalves, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), destaca-se – seja pela variedade de ações, seja pelo entusiasmo da professora com o tema dos fungos.
Microbiologista, pesquisadora das Ciências Agrárias, Janaína Gonçalves realiza pesquisas de biotecnologia e desenvolve o Programa Núcleo de Estudos FlorArte: Engenharia Florestal COMCiência e Arte.
Ao mesmo tempo em que é responsável por disciplinas como Genética e Biotecnologia Florestal na graduação, e colaboradora no Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal da UFVJM. Foi pesquisadora bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e coordena diversos projetos de ensino, pesquisa e extensão na Faculdade de Ciências Agrárias, em Diamantina (MG).
À frente da coordenação do Grupo de Estudos e Pesquisa com Biocontrole e Proteção de Plantas, ela desenvolve trabalhos sobre o uso de extratos de árvores nativas do cerrado para o controle de fito doenças, despoluição de águas residuais e também estuda o uso de fungos entomopatogênicos para o controle de doenças e pragas.
O objetivo geral é utilizar micro-organismos para toda e qualquer finalidade: ensino, pesquisa, extensão, arte e cultura. Por isso, as abordagens vão desde melhorar o aprendizado de alunos de escolas públicas, quanto de graduandos e pós-graduandos, até o desenvolvimento de pesquisas nas áreas de controle de doenças e pragas, sejam elas de plantas, animais ou até humanas.
Janaína Fernandes Gonçalves, professora da UFVJM
Fungos em variedade de ações e interdisciplinaridade
O Núcleo de Estudos é interdisciplinar e desenvolve projetos dos mais diversos na interface com o ensino, a pesquisa, a extensão e atividades culturais. Um dos eixos temáticos mais importantes é o estudo de fungos que, em sua maioria, são benéficos aos seres humanos.
“Fungos são importantes na cadeia alimentar, por decomporem a matéria vegetal morta, reciclando elementos vitais. Pelo uso de enzima extracelulares como as celulases, os fungos são os principais decompositores de partes duras das plantas, que não podem ser digeridas pelos animais. O impacto ecológico dos fungos não pode ser subestimado”, destaca a professora.
De fato, juntamente com as bactérias heterotróficas, os fungos são os principais decompositores da biosfera. A decomposição libera dióxido de carbono na atmosfera e retorna compostos nitrogenados e outras substâncias ao solo, onde eles podem ser reutilizados (reciclados) pelas plantas e, eventualmente, pelos animais.
“O maior organismo vivo na Terra, hoje, é um fungo, um indivíduo chamado Armillaria ostoyae, um fungo apodrecedor de raiz que ocupa mais de 600 hectares (1.500 acres) de floresta perto de Mount Adams no Estado de Washington. Estima-se que este fungo gigante tenha entre 400 e 1000 anos de idade”, conta a professora.
Conheça linhas de estudo coordenadas pela professora:
- Controle Biológico de pragas (Entomologia): os fungos são utilizados para o controle biológico de pragas. As pesquisas utilizam os fungos Metarrhizium, Beauveria e Isaria sp. no controle de moscas brancas, coleópteros e lepidópteros que ocasionam grandes prejuízos na agricultura e na silvicultura (cultivo de árvores).
- Controle Biológico de doenças (Fitopatologia): estudo de fungos que causam doenças em espécies florestais e agrícolas em busca de formas alternativas e biológicas para controlar as doenças. “Neste caso, podemos ter um fungo controlando a ocorrência de outro fungo, como por exemplo o controle de Rhizoctonia solani por Trichoderma spp”.
A importância dos fungos decompositores
Organismos heterotróficos, geralmente aeróbios ou anaeróbios facultativos e adaptados a ambientes diversos, fungos podem existir como saprófitas, parasitas ou simbiontes.
Como saprófitas, os fungos degradam a matéria orgânica, transformando-a em formas químicas simples que retornam ao solo.
Os parasitas podem causar doenças em animais e plantas. Já os simbiontes podem existir em associação com outros organismos, tais como algas, formando os líquens, ou com as raízes das plantas, formando as micorrizas.
Sendo decompositores, os fungos frequentemente entram em conflito com os interesses do homem. “Um fungo não distingue uma árvore apodrecida que caiu na floresta de um mourão utilizado como cerca: é provável que o fungo ataque tanto um, quanto outro”, explica a professora.
Equipados com um arsenal enzimático poderoso que quebra moléculas orgânicas, incluindo lignina e celulose, os fungos são, muitas vezes, incômodos e altamente destrutivos. Eles atacam tecidos, papelão, couros, ceras, madeiras, filmes fotográficos, lente de equipamentos ópticos, frutas frescas, vegetais, carnes e outros produtos.
Ensino lúdico e criativo sobre fungos
A partir dos Territórios de Iniciação Científica (também com apoio da FAPEMIG), a professora Janaína Fernandes Gonçalves conheceu a Escola Estadual Chico Mendes e se apaixonou. É lá que ela desenvolveu pesquisas em Microbiologia e Silvicultura, nesta escola de educação do campo, antes da pandemia.
Durante os anos de 2018 e 2019, ela e alunos de iniciação científica da Universidade desenvolveram os projetos “Microciência e os Cientistas do futuro: Ações de atividades práticas com ou sem laboratório com vistas a enxergar o invisível”, “Cultura Viva em placas de Petri: desafios para a arte e a educação” e “Semeando Chico Mendes”.
“Realizamos também um projeto de iniciação científica no ensino médio, “Raízes de Riachinho” na Escola Estadual José de Alencar, que tratava de Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e da Diáspora, financiado pela FAPEMIG“, destaca a professora. Além disso, o Núcleo explora novas abordagens no ensino de microbiologia, com vistas à agropecuária: “Usamos o patchwork como incentivo ao aluno na construção e consolidação dos conhecimentos”.
As ideias surgiram devido ao fato de a professora já ter lecionado no ensino fundamental e médio em escolas públicas e privadas, e entender que a Universidade pode proporcionar às escolas públicas a aplicação de atividades práticas para complementar as aulas teóricas, de modo a motivar os alunos.