Em maio de 2020, Santuza Teixeira tomou posse como membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na área de Ciências Biomédicas. Trata-se de uma das mais antigas e prestigiadas associações de cientistas no País, onde mulheres ainda são minoria. “Nos estágios iniciais da carreira científica, de fato, temos igualdade. O número de pesquisadoras com doutorado é muito representativo. Mas, à medida em que avançamos, a disparidade aumenta”, pontua a cientista.
Santuza Teixeira é professora titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG). Também integra o Centro de Tecnologia de Vacinas (CT-Vacinas), instalado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte, o BH-TEC. Parceria entre a UFMG e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Minas Gerais, o centro atua no desenvolvimento de uma das vacinas contra a covid-19 com tecnologia nacional.
O CT-Vacinas também se adaptou para desenvolver kits diagnósticos para a detecção da doença desde o início da atual pandemia. “O fato do CT Vacinas ter sido pensado ainda em 2012, e ter sido construído, montado, funcionando hoje com a estrutura que temos, foi realmente uma decisão muito assertiva, porque dá à Universidade a capacidade de responder rapidamente a esse tipo de demanda”, analisa. Santuza Teixeira foi coordenadora do centro desde a inauguração, em 2016, até o início de 2020. Atualmente, o cargo, rotativo, é ocupado pelo pesquisador Ricardo Gazzelli, também professor da UFMG e pesquisador da Fiocruz.
Dedicação
Mesmo sendo do grupo de risco numa eventual infecção pelo coronavírus – ela tem mais de 60 anos de idade – Santuza Teixeira manteve o trabalho presencial. A jornada diária pode ultrapassar 12 horas. “A dedicação da equipe é impressionante. Precisamos receber amostras durante os finais de semana e feriados. Isso vem sendo feito há mais de seis meses”, conta.
Para garantir mais segurança, todos fazem exames para detecção da doença a cada 14 dias. Outras medidas foram implementadas, como o rodízio, para evitar a presença simultânea de mais de duas pessoas nos laboratórios. O uso de transporte público também é evitado pelos pesquisadores.
Vinda de uma família numerosa, com oito irmãos, ao todo, a cientista conta que sente falta dos parentes, pois o contato precisa ser controlado. “Certamente, o contato com a família é o que mais me dá prazer, além do trabalho na Universidade”, revela. Ela mora com o marido, Gregory Kitten (também professor da UFMG e diretor do Centro de Microscopia da instituição), e a filha, estudante do curso de Engenharia Civil. “Aquele sentimento típico da família mineira, que gosta de sentar em volta do fogão, na cozinha… espero muito poder voltar a fazer isso”, diz.
Mulher faz Ciência
Santuza Teixeira será uma das personagens do terceiro volume do e-book Mulher faz Ciência, com lançamento previsto em fevereiro de 2021. A publicação, criada no âmbito do projeto Minas Faz Ciência, da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), tem o objetivo de despertar o interesse de meninas e mulheres para a carreira científica.