*Artigo de Fabiano Alan Serafim Ferrari
Para quem foi à festa na piscina da cidade de Wuhan, cidade onde surgiram os primeiros casos relatados do novo coronavírus (SARS-CoV-2) que provoca a covid-19, parece que a pandemia já acabou. Para algumas cidades do interior do Brasil, sem registros de casos da doença, ela nunca existiu. De forma geral, a alternância entre o crescimento e a redução do número de casos é o comportamento típico no Brasil. Nesse vai e vem, o que todos querem é voltar ao normal. Um normal que não existe mais, mesmo que a pandemia esteja controlada. Precisamos nos preparar para o novo normal, mas como ele será? Precisaremos usar máscara e álcool em gel sempre que sairmos de casa? O trabalho e as aulas serão remotos para sempre? Estamos condenados ao fim das aglomerações públicas? Torcemos para que não!
A pandemia causada pelo novo coronavírus surgiu na China e se espalhou por quase todos os países, infectando milhões e matando quase um milhão de pessoas. O que se iniciou com boatos de “gripezinha” terminou em uma catástrofe financeira e de saúde pública. No começo da epidemia, quando ainda havia muita incerteza sobre a doença, epidemiologistas do Imperial College alertaram as autoridades e impediram que o Reino Unido – com mais de 300 mil infectados e 40 mil mortos – tivessem um cenário muito mais catastrófico. Por outro lado, países como o Brasil e os EUA não deram a devida atenção ao problema, em sua fase inicial, e hoje são os recordistas em números absolutos de óbitos pela covid-19.
Acabar com a pandemia exige o desenvolvimento de medicamentos e vacinas. Na busca pela cura, vivenciamos o surgimento de tratamentos falsos ou ineficazes. Algo que se assemelha ao que foi retratado no filme Contágio, de Steven Soderbergh, em que um teórico da conspiração induz pessoas ao erro através de um medicamento homeopático sem eficiência comprovada. No caso da covid-19, a baixa taxa de mortalidade, da ordem de 1% (ou menos), torna qualquer tratamento (caseiro ou hospitalar) uma cura em potencial. Apesar disso, as pesquisas verdadeiras têm avançado, permitindo aumento da velocidade de recuperação dos pacientes e queda nas taxas de mortalidade.
Atualmente, existem mais de 160 vacinas em fase de testes. A Rússia anunciou a conclusão dos testes da vacina Sputnik V. Entretanto, a falta de transparência com relação aos testes traz ceticismo à comunidade científica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a pandemia pode levar até cinco anos para ser controlada. Porém, havendo um desenvolvimento célere das vacinas, esse período pode ser reduzido para até seis meses. Para que a vacina esteja pronta para ser aplicada à população, além da conclusão da fase de testes, é necessário garantir sua produção e distribuição. Por isso, os americanos compraram os primeiros lotes de vacinas que serão produzidas pela empresa Pfizer. Procedimentos similares devem ser realizados pelos demais países ricos. Portanto, provavelmente, as pessoas nesses países serão vacinadas primeiro. Outros fatores importantes em relação ao desenvolvimento da vacina são o percentual de eficácia e o período de imunidade da vacina. Devido à grande quantidade de vacinas em fase de pesquisa, diferentes percentuais de eficácia e imunização devem ser observados.
Enquanto a vacina não chega, regiões que já passaram pelo pico da doença também precisam de cuidado redobrado. Pois novas ondas de contágio podem surgir, como é observado em Israel. Também surgem temores de que uma nova onda de contágio esteja surgindo na Europa.
Com relação ao controle da epidemia, nossa realidade local não necessariamente reflete a realidade global. Na ausência de vacina, podemos utilizar outras estratégias para enfrentar a covid-19. Uma população que leve a sério o isolamento social e siga corretamente os protocolos sanitários pode impedir o avanço da doença. A evolução da covid-19 nas regiões mais ao norte de Minas Gerais tem sido monitorada pelo Observatório Covid-19 da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Temos observado que, na maior parte das cidades, o número de reprodução de casos está entre um e dois. O que indica que cada pessoa infectada é responsável, em média, pelo contágio de até outras duas pessoas. O simples ato de isolar as pessoas infectadas pode levar o número de reprodução para um valor menor do que um e à extinção local da epidemia.
O fim da pandemia está nas mãos de todos. No cenário global, pode levar de anos a meses, dependendo do avanço no desenvolvimento das vacinas. Localmente, as cidades podem se prevenir, através da atuação do poder público, adotando protocolos sanitários seguros e realizando a fiscalização adequada. Cada um de nós pode contribuir usando máscara e higienizando as mãos sempre que possível. Não há milagres e nem receita mágica.
*Professor da disciplina Fenômenos Mecânicos no curso de Engenharia de Materiais do Instituto de Engenharia, Ciência e Tecnologia (IECT) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) no campus Janaúba. É membro pesquisador do grupo 105 (www.105groupscience.com) e possui interesse em desenvolvimento de circuitos elétricos inteligentes e estudos sobre a propagação do coronavírus.