Por Luana Cruz, Luiza Lages e Tuany Alves.
No episódio de hoje da temporada Trajetórias da Parentalidade do podcast Ondas da Ciência, o assunto é gestação. Conversamos com Zilma Silveira Nogueira Reis, médica do Hospital das Clínicas e professora Associada do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Programa de Pós-graduação em Saúde da Mulher da UFMG.
Confira uma discussão sobre mudanças típicas no corpo da gestante, desenvolvimento do feto, perda gestacional, preparação psicológica para futuros pais e outros tópicos relevantes quando se fala de gravidez.
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Quando a gestação começa?
Como dificilmente é possível ter certeza do dia exato da concepção, o padrão é começar a contagem da gestação a partir da data da última menstruação da mulher. É muito comum e popular que essa contagem seja feita em meses. No entanto, quando usa-se o referencial da última menstruação, uma marcação mais técnica mostra que a gravidez tem 40 semanas.
40 semanas é o prazo esperado para o nascimento da maioria dos bebês, para que o embrião se desenvolva, adquira maturidade e possa sobreviver ao nascimento. Eventualmente, alguns nascem antes, são os bebês prematuros. “A gente chama de nascimento prematuro aquele que acontece antes de 37 semanas. E são bebês que precisam de cuidados especiais. Por isso é tão importante a gente ter essa datação, ter a participação da mulher para obter essa informação”, explica Zilma Reis.
Com o auxílio da gestante e de exames, é possível fazer uma previsão de data do parto e monitorar toda a gravidez a cada semana gestacional, com as suas demandas, necessidades e cuidados específicos.
Alterações corporais da gestação
Zilma Reis iniciou a conversa falando sobre as mudanças corporais durante a gravidez. Alterações expressivas, que a mulher acaba sentindo como sintomas, mas progressivas e coordenadas. “Todo o organismo é preparado para a gestação e para que também o feto possa crescer e se desenvolver de forma saudável. Durante esses nove meses, o corpo se prepara para o parto”, diz a médica.
A pesquisadora apresentou exemplos de alterações típicas desse momento. De forma geral, o metabolismo do organismo fica mais acelerado. Os órgãos vitais, especialmente coração e pulmão, aumentam sua capacidade funcional. É um mecanismo para garantir que tanto mulher quanto feto tenham nutrientes, oxigênio e outros elementos essenciais para a sobrevida dos dois.
Ocorre ainda a dilatação dos vasos sanguíneos, e a quantidade de sangue circulando no organismo da gestante aumenta. Isso tem uma série de vantagens, leva os nutrientes indispensáveis para o funcionamento do corpo, mas está associado à queda de pressão arterial. Então não é incomum que ocasionalmente as grávidas sintam tontura
Reis falou também sobre alterações intestinais, no apetite e no tamanho das mamas. O intestino fica mais lento, o que faz com que a capacidade do estômago se reduza, e a mulher precise fazer refeições mais frequentes, mas em menor quantidade. Músculos, ossos e articulações são muito exigidos, especialmente da coluna e do abdome. Por isso, a gestante precisa de cuidados especiais e de monitorar o ganho de peso.
A barriga da gestante
“O útero, que é o órgão que vai orquestrar todas essas mudanças no organismo através dos hormônios, aumenta de forma expressiva no seu tamanho. E ele vai se tornar o lugar seguro e adequado para o bebê se desenvolver”, explica a pesquisadora. Dentro do útero, se desenvolvem os anexos fetais (as membranas e a placenta). “Essas membranas formam aquele balão cheio de líquido que só se rompe na hora do parto”, diz.
Mas isso faz com que o útero se expanda e passe a ocupar um espaço que antes não existia. O órgão começa a apertar aos poucos outros órgãos, como o intestino e o pulmão, de forma progressiva. É um processo natural e característico da gestação: o aumento da barriga da mulher.
Acompanhamento pré-natal
Apesar de todas essas alterações, muitas vezes a gestante precisa de orientação, não de tratamento ou medicação. Por isso, é muito importante que seja feito acompanhamento, desde o início. “Esse cuidado pré-natal faz parte do processo de atenção que tem como foco a promoção da saúde da mulher e do bebê”, afirma Zilma Reis.
Segundo a médica, o cuidado pré-natal inclui a prevenção de doenças e a descoberta precoce de alguma doença, para que seja adequadamente tratada. “Nós podemos agir de uma forma bastante ativa, através de uma agenda de consultas, exames e cuidados”, explica Reis. A agenda com o médico segue mais ou menos uma marcação mensal, mas essas visitas geralmente ficam mais frequentes a partir de 30 semanas, ou seja, a partir do sétimo mês de gravidez. A frequência de consultas, exames e até de ultrassons varia de acordo com o grau de risco da gravidez.
Existem situações especiais que precisam ser abordadas precocemente, condições específicas que podem prejudicar o processo natural da gravidez. É o caso da idade da mulher: a gravidez na adolescência, uma mulher muito jovem, ou acima de 35/40 anos. Há também situações de risco que estão associadas ao trabalho, como rotinas exaustivas e a exposição a agentes ambientais que podem ser nocivos à gravidez, como a radiação e o calor.
A médica lembra ainda que o cuidado pré-natal deve ser pautado em evidências científicas. “Menos palpite e mais ciência salva vidas. Nós sabemos que a gestação é cercada por muitos mitos, e que é bastante comum a mulher receber orientações de amigos e de familiares. Mesmo que sejam bem-intencionadas, elas podem não surtir o efeito desejado ou serem prejudiciais”, alerta.
Perdas gestacionais
A maioria das gestações fazem parte de um processo fisiológico natural e tendem a dar certo. Mas não é o que acontece para todas as mulheres. Determinados fatores estão associados a uma gestação de risco, e, mesmo com todos os cuidados e acompanhamento frequente de profissionais da saúde, pode ocorrer uma perda gestacional.
As perdas gestacionais se concentram no início da gravidez, especialmente nas primeiras 12 semanas, ou três meses. “É nesse período que o óvulo que foi fecundado rapidamente passa por todo o desenvolvimento dos órgãos. Se, de alguma maneira, isso não se dá como deveria, o próprio organismo irá eliminar, ou abortar, essa gestação”, explica Zilma Reis. Estima-se que a cada 100 mulheres que engravidam, 20 passam por uma perda gestacional nesse início. “Não há nada que se possa fazer, é um processo de seleção natural”, diz a médica.
A professora conta que, apesar da perda gestacional geralmente acontecer durante o início da gravidez, ela pode ocorrer depois. No meio da gravidez, com quatorze a vinte semanas há outro problema, chamado incompetência istmo-cervical. “O útero não consegue segurar o bebê. O feto se formou bem, de modo saudável, mas o colo do útero tem um problema, que pode ser inato ou associado a perdas anteriores, e a dificuldade em conter o bebê faz com que ele seja eliminado”, explica Reis.
Em função desses riscos, para a mãe e para o bebê, muita pesquisa é feita, para tornar a gestação mais segura. “A ciência se desdobra para achar esses complicadores da gravidez, para que a gente não perca mulheres. Em especial, sobre duas condições que estão associadas a um mal resultado na gravidez: a hipertensão arterial e os sangramentos. São as duas maiores causas de morte materna”, afirma a pesquisadora.
Apoio emocional na gestação
A gestação vem geralmente acompanhada de uma carga emocional, de expectativas, dúvidas e medos. Por isso, o processo de aceitação da gravidez é tão importante para a mulher, e pode afetar a sua saúde e a do feto. “Nem sempre o espaço que a gravidez vai ocupar na vida dos pais está naturalmente garantido. Por vezes o esforço emocional da gestante é muito intenso. Ela precisa ter o tempo dela para aceitar todas as mudanças”, diz Reis.
O apoio emocional também faz parte da atenção à gestante. “Quando vemos que esse apoio não está funcionando temos também uma equipe de saúde mental que pode dar esse suporte e, caso necessário, tratamento específico”, afirma a médica.
Trajetórias da Parentalidade
O episódio Gestação é o segundo da temporada Trajetórias da Parentalidade, do podcast Ondas da Ciência. Vamos trazer, sob a ótica das ciências, assuntos que tratam de aspectos relevantes nos debates sobre a parentalidade.
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O Ondas da Ciência é uma produção do projeto Minas Faz Ciência, da Fapemig, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais.