No exato instante em que a civilização enfrenta a ameaça do coronavírus – e, ao mesmo tempo, discute os efeitos da desigualdade social, as funções do Estado ou os abusos do poder –, as teorias e abordagens de Achille Mbembe se revelam imprescindíveis.
Professor de História e Ciências Políticas na Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, e na Duke University, nos EUA, o pensador redefine narrativas então estabelecidas acerca de questões como escravidão, descolonização e negritude.
No pequeno – porém, intenso – livro Necropolítica, Mbembe problematiza, a partir de ideias desenvolvidas e apresentadas em seminários e workshops, o poder de ação das soberanias sobre a vida e a morte dos cidadãos.
O autor busca ultrapassar o conceito de “biopoder”, elaborado por Michel Foucault (1926-1984), para mostrar que “as formas contemporâneas que subjugam a vida ao poder da morte (necropolítica) reconfiguram profundamente as relações entre resistência, sacrifício e terror”.
Desse modo, elabora e defende as noções de necropolítica e necropoder, “para dar conta das várias maneiras pelas quais, em nosso mundo contemporâneo, as armas de fogo são dispostas com o objetivo de provocar a destruição máxima de pessoas e criar ‘mundos de morte’, formas novas e únicas da existência social, nas quais vastas populações são submetidas a condições de vida que lhes conferem o status de ‘mortos-vivos’”.
Trecho
“Este ensaio pressupõe que a expressão máxima da soberania reside, em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer. Por isso, matar ou deixar viver constituem os limites da soberania, seus atributos fundamentais. Exercitar a soberania é exercer controle sobre a mortalidade e definir a vida como a implantação e manifestação de poder.”
O livro
Livro: Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte
Autor: Achille Mbembe
Editora: n-1 edições
Páginas: 80
Ano: 2018