Do ducentésimo sexagésimo oitavo andar da obra de sua vida, Jack Storm contempla a vastidão de ruínas infindas, a colorir de poeira o horizonte sobressaltado. Em meio ao estratosférico amontoado de seres e coisas, aquelas velhas e sistemáticas retinas, já exaustas de cálculos e insônias, brincam, enfim, de saborear disformidades alheias.
Nada restara, afinal, ao redor da incólume Rough Tower, maior e mais avassaladora edificação já erguida pelo Homo sapiens em solo terrestre. Mesmo sob a fúria do tempo, as maleáveis colunas do arranha-céu, repletas de nanocompósitos, amortecedores eletrônicos e sistemas de contrapeso inercial, mantiveram-se voluptuosamente íntegras.
Daí o júbilo de Jack Storm, pai de tudo aquilo: sua criatura suportara a cólera de “Thor”, sismo de 9,6 pontos na escala Richter, que, no insignificante ano de 2133, acabava de dar fim aos últimos exemplares da propalada humanidade.
Afora certos microrganismos, duas ou três categorias de ameba e bravos sete dragões de Komodo, a ideia de vida, a partir de então, haveria de se resumir ao metálico coração da magnífica Rough Tower, e, claro, ao meticuloso cérebro do engenheiro Jack Storm, que, do ducentésimo sexagésimo oitavo andar da obra de sua vida, contempla a vastidão de ruínas infindas, a colorir de poeira o horizonte sobressaltado.
Em meio ao estratosférico amontoado de seres e coisas, aquelas velhas e sistemáticas retinas, já exaustas de cálculos e insônias, brincam, enfim, de saborear – solitária e silenciosamente – a glória.