Nas últimas semanas, notícias que relatavam a alta incidência de queimadas na Amazônia passaram a estampar manchetes de jornais do mundo todo. Isso porque só no mês de agosto deste ano houve mais de 30 mil focos de queimadas na região, um aumento de 196% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Entretanto, apesar do destaque internacional recente, as queimadas na Amazônia acontecem há tempos. Em maior ou menor escalas, ano após ano, vastas áreas verdes da região dão lugar ao fogo e à consequente devastação. Entre elas, algumas são naturais; outras, causadas pela ação humana.
Queimadas motivaram pesquisa
A incidência constante de queimadas na região e suas consequências foi o que motivou Lucas Chiari, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) a estudar a composição dos materiais particulados proveniente dessas queimadas e como eles parece estarem relacionados com o clima da região.
“No meu Trabalho de Conclusão de Curso, analisei a composição química de aerossois durante a estação de 2014 na bacia central da Floresta Amazônica. Agora, no mestrado, busco comparar a composição química dos aerossois durante a estação seca e chuvosa no mesmo local. Eu queria entender mais sobre a composição química desses aerossois submicrométricos, o porquê deles serem importantes e como eles afetam o meio ambiente”, conta o pesquisador.
Orientado pela professora e pesquisadora Samara Carbone, Lucas Chiari vem realizando o processamento dos dados de 2017 obtidos por meio da estação ATTO – The Amazon Tall Tower Observatory (A Torre Alta de Observação da Amazônia). Essa estação foi fruto de uma colaboração entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e o Max Planck, Alemanha. Os equipamentos que realizam as medições dos aerossois pertencem ao professor Paulo Artaxo do departamento de Física Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP).
Foco em novas fontes
Uma primeira etapa deste estudo foi desenvolvida por Lucas ainda na graduação. À época, o engenheiro ambiental observou que os aerossois são constituídos majoritariamente pela fração orgânica, além de sulfato, carbono negro equivalente, amônio, nitrato e cloreto.
A pesquisa, agora, visa a identificação e a caracterização de aerossois durante a estação seca e chuvosa. Esse processo tem o intuito de identificar as propriedades dos materiais particulados, o que permitirá a compreensão de como essas partículas itneragem com a radiação solar, formação de nuvens e como isso vai interferir nas mudanças climáticas.
“Espera-se identificar outras fontes de aerossois nas estações seca e chuvosa, com foco não apenas nas fontes antropogênicas (provocadas pela ação humana), mas também biogênicas (emissões da própria floresta). Estudar essas fontes será importante para entender os processos físicos e químicos que se relacionam com a formação de nuvens, o ciclo hidrológico, o solo, os rios e com todo o funcionamento da floresta”, explica.
Impactos e expectativa
Com o aumento recente das queimadas na região amazônica, o resultado da pesquisa pode ser diferente do esperado por Lucas Chiari. Segundo Samara Carbone, a concentração de aerossois na atmosfera com certeza aumentará. Contudo, a composição química das partículas devem ser as mesmas.
“Para que a sua composição mude seria necessário que as fontes emissoras também mudem, o que não deverá ser o caso. No entanto, os impactos do aumento de queimadas e, consequentemente, o aumento da concentração de aerossois na atmosfera serão enormes. Isso poderá levar a supressão do ciclo hidrológico, que por sua vez poderá alterar todo padrão de chuvas da América do Sul. A alteração da quantidade e distribuição das chuvas é algo que compromete todos ecossistemas, inclusive a produção de alimentos”, explica.
A pesquisadora também afirma aerossois também estão ligados ao balanço radiativo do planeta. Com o aumento da descarga de aerossois na atmosfera, a quantidade de radiação disponível para as plantas realizarem a fontossíntese também se altera, tornando-se menor. “Todas estas questões juntas, aumentam a perda de biodiversidade. Uma perda incalculável!”, conta.