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Imagem meramente ilustrativa via Pixabay

A redução das emissões de poluentes atmosféricos e de sua concentração na atmosfera tem efeito direto sobre o número de internações hospitalares e mortalidade associadas à poluição do ar.

Só em Belo Horizonte, entre 236 e 656 mortes evitáveis por todas as causas foram estimadas somente para os anos de 2013 e 2014.

As informações são parte de uma pesquisa que apontou excessos de mortes em 24 cidades brasileiras causadas pelos níveis de concentração atmosférica de material particulado fino.

No estudo, foram analisados dados monitorados pelos órgãos ambientais estaduais de 2000 até 2017.

Apenas 24 cidades brasileiras monitoram as partículas finas que são respiráveis, todas no sudeste brasileiro. Quase 90% das concentrações anuais destas partículas nas cidades brasileiras foram superiores às diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Riscos da poluição do ar para a saúde

Os dados acima estão disponíveis em artigo publicado em colaboração internacional com a participação da pesquisadora Taciana Toledo de Almeida Albuquerque (foto).

Ela é professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Poluição do Ar e Meteorologia Aplicada (GPAMA).

Taciana trabalha há mais de 15 anos na área de Ciências Atmosféricas, com foco em Poluição do Ar.

Mestre e Doutora pela Universidade de São Paulo (USP) com pesquisas sobre o tema, Taciana participa de diversos projetos de pesquisa, nacionais e internacionais, vinculados aos problemas causados pela poluição atmosférica no clima, na qualidade do ar e na saúde humana.

Ela também é coordenadora geral da Air Pollution Conference Brazil, evento que será realizado em julho de 2019, em Belo Horizonte, e está com inscrições abertas para submissão de trabalhos.

Confira entrevista com a pesquisadora:

Minas Faz Ciência: Como é o cenário da qualidade do ar, hoje, no Brasil e, mais especificamente, em Minas Gerais e Belo Horizonte?

Taciana Toledo de Almeida Albuquerque: O monitoramento da qualidade do ar no Brasil é restrito e insatisfatório em termos do histórico amostral, cobertura territorial, do número de parâmetros monitorados e da representatividade nas medições.

Muito disso se deve às dificuldades gerenciais e o baixo número de técnicos envolvidos, assim como a falta de recursos para a compra e manutenção de equipamentos e redes de monitoramento.

Minas Gerais por exemplo, conta com 29 estações de monitoramento automáticas, sendo dez localizadas no eixo Belo Horizonte/Ibirité/Betim. As demais localizam-se em apenas seis municípios.

Apesar deste número de estações localizadas nessas três cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), os dados não são disponibilizados para a população e comunidade científica, dificultando ainda mais o entendimento das consequências causadas pelos níveis de contaminação atmosférica na saúde da população da região.

Devido a este cenário crítico, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos com foco na poluição atmosférica para Minas Gerais. 

[quote align=’right’]É carente, especialmente, a identificação das fontes de emissão e avaliação dos processos de dispersão e contaminação ambiental.[/quote]

Por exemplo, o único inventário de emissões atmosféricas existente para o estado foi elaborado pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM, 2003) com referência ao ano de 2002. Considera as fontes fixas e veiculares somente para os municípios de Belo Horizonte, Betim e Contagem, presentes na RMBH, frente à dimensão total do estado que conta com 853 municípios.

Diante desse contexto, o conhecimento das fontes e a quantificação dos poluentes emitidos no espaço e no tempo em Minas Gerais e em Belo Horizonte poderiam trazer melhores respostas a respeito de quais setores são os mais poluentes, bem como os locais e períodos de tempo em que as emissões estão concentradas, sendo mais críticos para a saúde da população nos dias atuais.

MFC: Que cenários ou atividades mais impactam, hoje, a qualidade do ar?

Taciana Toledo de Almeida Albuquerque: Os processos de urbanização têm sido uma das tendências mais marcantes da atividade humana ao longo da história.

[quote align=’left’]Em meados do século XIX, apenas 1,7% da população mundial vivia em cidades, mas já no ano de 2007 essa fração correspondia a 50%.[/quote]

Associados à intensificação dos processos de urbanização estão o rápido crescimento econômico, o desenvolvimento de uma diversidade de processos industriais, o dramático aumento no uso de combustíveis fósseis e não fósseis e o elevado nível de uso de veículos automotores, que têm contribuído significativamente para o aumento da emissão de poluentes para a atmosfera.

Nos países em desenvolvimento, o problema da poluição do ar é geralmente agravado pelas legislações mais permissivas, pela falta de controle nos processos industriais, pela elevada idade da frota de veículos e pela ausência de manutenção em seus sistemas de controle, bem como pela utilização intensiva de combustíveis fósseis em vez de fontes de energia de baixa emissão.

Imagem meramente ilustrativa via Pixabay

MFC: Que respostas a ciência tem oferecido para o problema da poluição do ar?

Taciana Toledo de Almeida Albuquerque: Muitas ferramentas numéricas (modelos matemáticos) surgiram com o objetivo de auxiliar na avaliação e diagnóstico da poluição do ar de uma região.

A modelagem matemática capaz de realizar uma previsão  da qualidade do ar é uma ferramenta complementar ao monitoramento e economicamente viável para se realizar a estimativa dos impactos causados pelas emissões na atmosfera e nos seres humanos e meio ambiente, sendo também utilizada para projetos de redes de monitoramento da qualidade do ar.

Na ausência de monitoramento ambiental, em regiões afastadas ou mesmo em grandes estados, a modelagem meteorológica e da qualidade do ar permitem um entendimento da dinâmica da atmosfera, dada a complexidade das interações existentes entre poluentes e a atmosfera.

Desta forma, é possível estimar quais os benefícios que uma melhoria da qualidade do ar poderá trazer na saúde da população local e também uma estimativa do valor economizado pelo estado com a redução do número de internações hospitalares de crianças, idosos e pessoas que possuam doenças pré-existentes.

MFC: Nas fronteiras da ciência, qual o maior desafio para os pesquisadores da área?

Taciana Toledo de Almeida Albuquerque: Diante das questões citadas acima, tem sido um desafio para os estudiosos e gestores da qualidade do ar identificar as fontes de emissão de poluentes, entender os processos de dispersão e contaminação, e desenvolver estratégias efetivas de controle da poluição atmosférica nas áreas urbanas.

MFC: Conte-me um pouco sobre o evento que vocês vão realizar em julho na capital…

Taciana Toledo de Almeida Albuquerque: A Conferência Internacional da Poluição do Ar Brasil será realizada em conjunto com a tradicional Conferência da Comunidade de Modelagem e Análise de Sistemas (CMAS) norte-americana, que é financiada pela Agência de Proteção Ambiental Americana (US-EPA).

Estarão presentes na conferência cientistas internacionais e nacionais, professores universitários, profissionais das diversas indústrias e de órgãos ambientais, consultores ambientais, além de estudantes.

O objetivo principal do evento é divulgar as tecnologias mundiais mais atualizadas para controle da poluição do ar e monitoramento atmosférico, apresentar metodologias novas para avaliar o grau de exposição à poluição do ar e seu impacto à saúde da população, além do estado da arte sobre técnicas de modelagem numérica aplicadas a estudos da qualidade do ar, clima e energia.

MFC: Qual a expectativa da organização em relação ao tamanho do evento, número de participantes brasileiros e estrangeiros e frutos que podem sair deste encontro?

Taciana Toledo de Almeida Albuquerque: Na América do Sul, esta conferência ocorreu pela primeira vez em 2013 em São Paulo com um público de aproximadamente 100 pessoas.

Em 2015, a segunda edição foi realizada na cidade de Bucaramanga na Colômbia.

A terceira edição da conferência ocorreu em 2017, em Vitória, ES, com aproximadamente 200 participantes, demonstrando que a comunidade da América do Sul e, principalmente, do Brasil está se organizando para participar deste que é o único evento brasileiro voltado para a Poluição do Ar.

Nesta quarta edição, esperamos receber cerca de 300 pessoas. O evento permitirá compartilhar as experiências de todos os participantes e contribuir para o aprimoramento da ciência no país.

Já temos muitos palestrantes confirmados de países como Estados Unidos da América, Inglaterra, Alemanha, China, Coreia, Índia, Colômbia, dentre muitos nomes que se destacam no cenário nacional.

Um momento importante e de destaque da conferência é a tradicional mesa redonda, que reunirá especialistas nacionais e internacionais, importantes agências ambientais nacionais (CETESB, INEA, FEAM e IEMA) e internacionais (US-EPA e UK-EPA) e representantes das indústrias para discutir problemas ambientais relacionados à poluição do ar.

Para saber mais sobre o evento, acesse: cmasconference.com.br.

E mais:

Leia na Minas Faz Ciência n. 64 sobre pesquisa que usa técnicas nucleares para monitoramento da qualidade do ar:

 

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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