Design de panelas de ferro fundido é tema de pesquisa

Presente nas cozinhas de Minas, e, com frequência, associada à tradição do fogão à lenha, a panela de ferro fundido traz à tona cheiros, gostos e sentimentos em relação ao ato de cozinhar.

Na região oeste do Estado, as peças também integram e movimentam a economia local.

No maior polo de empresas produtoras desse tipo de artefatos da América Latina, cerca de 100 empresas de pequeno e médio portes confeccionam panelas – e outros itens – por meio de processos semiartesanais, a partir de moldagem manual.

[quote align=’right’]O termo “artefatos” é mais adequado do que “panelas” no contexto desta pesquisa, pois o estudo tratou também de frigideiras, rechauds, chapas e bifeteiras.[/quote]

A difusão da tecnologia de esmaltação em tais artefatos é um tipo de recurso que melhoraria a competitividade dos produtos, ao inserir nova categoria de panelas no polo industrial.

Nesse cenário, surge a pesquisa “Artefatos de cocção em ferro fundido: agregação de valor a partir do design e da seleção e aplicação de processos de revestimento cerâmico”, coordenado por Maria Regina Álvares Dias, professora da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg).

A investigação buscou o desenvolvimento de técnicas do processo de esmaltação para posterior transferência da tecnologia de revestimento em cerâmica de artefatos de cocção em ferro fundido.

Os pesquisadores almejavam agregar valor aos itens, a partir da seleção e da especificação de texturas e cores aliadas ao design dos produtos.

“Os estudos sobre as panelas valem para outros objetos de cozinha, e impactam, diretamente, a produção do artefato, a valorização junto ao mercado nacional e o uso mais adequado pelo usuário final”, comenta Regina Álvares.

Demanda do setor produtivo

O projeto foi uma resposta a demandas do setor produtivo: em 2009, foram atendida 15 empresas da região Centro-Oeste de Minas, nas cidades de Cláudio, Divinópolis e Carmo do Cajurú, em projeto financiado pelo Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas].

Os pesquisadores realizaram ações de consultoria e otimização de produção, com agregação de valor por meio do design.

“Durante as pesquisas, percebemos a necessidade de análises de objetos similares e de concorrentes, para desenvolvimento de tecnologia que permitisse a aplicação de revestimento cerâmico nos produtos, de forma a melhorar sua aparência estética e otimizar o uso cotidiano. Tal etapa só se tornou viável a partir do financiamento da FAPEMIG”, explica Carlos Miranda.

O trabalho consistiu no desenvolvimento de revestimento cerâmico que pudesse ser reproduzido com matérias-primas já disponíveis e acessíveis no mercado, tendo em vista que os concorrentes e similares trabalham com formulações importadas, com alto custo de aquisição.

“Como a tecnologia se destinava às empresas da região, buscamos focar a formulação em seus processos e artefatos, para incrementar, tecnologicamente, a produção, frente à concorrência de outros estados e países, a exemplo da China”, destaca.

Além de promover estética mais agradável aos produtos fundidos, o revestimento confere mais nobreza às peças, em comparação à tradicional pintura preta, com tinta à base de teflon, comum em objetos orientados ao ambiente rústico de fazendas e fogões a lenha.

“A aplicação do revestimento torna os produtos mais aptos a mesas mais requintadas e ao uso em cozinhas domésticas. Abre-se a possibilidade de criação de linhas premium, mantendo-se as tradicionais, rústicas, também de identidade mineira”, destaca o professor.

Um dos diferenciais do estudo está na possibilidade de trabalhar cores em produtos que, tradicionalmente, são segregados ao ambiente rústico de fazendas e sítios: “Contribuímos para trazer tais artefatos a ambientes domésticos mais requintados, com estética otimizada, revestimento limpo e refinado”.

Economia, saúde e paladar

A principal característica das panelas de ferro fundido é a segurança para a saúde, pois não dispersam elementos nocivos durante o processo de cocção.

“Ao contrário! Elas liberam ferro, que combate a anemia, por exemplo. Além disso, são extremamente duráveis e mantêm a temperatura dos alimentos por mais tempo, além de economizar gás durante o cozimento dos alimentos”, esclarece Carlos.

A produção de itens com design diferenciado tem se tornado uma vantagem competitiva às pequenas e médias indústrias da área em Minas Gerais.

Os conhecimentos de Engenharia e de materiais usados na confecção dos artefatos são de extrema importância ao processo de design, pois definem formas de processamento e propriedades requeridas, que afetarão, diretamente, a interface e a usabilidade dos produtos por parte do ser humano.

No caso das empresas, o estudo de matérias-primas mais adequadas e disponíveis aos pequenos empresários torna o produto mais competitivo no mercado interno, frente à forte oferta de objetos importados, de diversos níveis de qualidade e procedência.

“Os estudos enfatizam a usabilidade do produto, da valorização estética à melhoria da qualidade percebida, do conforto à ergonomia. Além disso, o design pode aprimorar questões de segurança e redução de riscos de queimadura durante o uso”, destaca Regina Álvares, a coordenadora da pesquisa.

Leia a reportagem completa na edição digital da Minas Faz Ciência n. 72:

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Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.