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Força-tarefa contra obesidade em crianças e adolescentes

Foto: Pixabay

Com 213 mil habitantes, a cidade de Divinópolis, oficialmente reconhecida como polo da moda de Minas Gerais, acompanhou uma tendência mundial nada desejável nos últimos anos: o percentual de adolescentes com excesso de peso subiu de 24%, em 2013, para 31%, em 2016. Na busca por alternativas capazes de combater tal problema generalizado, um esforço conjunto, que envolve o Núcleo de Estudos sobre Criança e Adolescente (Neca) da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) e a prefeitura municipal, tem alcançado resultados positivos.

Apresentada como relato de caso, uma das experiências bem-sucedidas envolve uma adolescente de 11 anos, com 1,58m de estatura e 79,5 quilos. Ao passar por avaliação e acompanhamento por profissionais das áreas de Nutrição, Enfermagem e Psicologia, a garota revelou comportamento alimentar inadequado e histórico familiar de diabetes e hipertensão. A condução do história foi discutida pela equipe, que promoveu atividades educativas individuais junto à criança e sua família, voltadas a mudanças na alimentação, prática de exercícios físicos, acompanhamento nutricional mensal e terapia cognitivo-comportamental quinzenal. Em seis meses de acompanhamento multiprofissional, ela perdeu 4,2 quilos e cresceu 1,5 cm.

“O projeto inova ao trabalhar em formato interdisciplinar e ao se integrar com o sistema de saúde pública local. Além de contribuir com informações relevantes para planejamento de saúde, há uma série de intervenções”, relata o médico Joel Lamounier, professor da UFSJ e um dos coordenadores da pesquisa, financiada pela FAPEMIG.

“O grupo tem desenvolvido diversas investigações acerca de prevalência, fatores associados, diagnóstico e manejo da obesidade em crianças e adolescentes de Divinópolis. São pesquisas em parceria com as secretarias municipais de Saúde e Educação”, detalha Márcia Romano, professora do curso de Enfermagem no campus Centro-Oeste da UFSJ e coordenadora do Neca.

Foto: Kim Gorga/Unsplash

Leite versus obesidade

Inédito, um dos estudos já concluídos investigou a associação entre o sobrepeso e a obesidade em adolescentes divinopolitanos, assim como os hábitos de consumo de bebidas açucaradas não alcoólicas (sucos e refrigerantes), suco natural, leite e iogurte. Também foram verificadas relações com hábitos de vida e indicadores socioeconômicos, demográficos, antropométricos, bioquímicos.

Tal levantamento, que resultou na dissertação de mestrado da nutricionista Ana Carolina Corrêa Café, foi realizado de março a junho de 2016, com 409 escolares do ensino médio público de Divinópolis, em faixa etária de 14 a 19 anos. Dentre os adolescentes que participaram da pesquisa, 15,4% estavam com excesso de peso, 12,5% tinham circunferência de cintura elevada e 15,7% eram hipertensos. Com relação aos níveis de gorduras, 28,7% tinham colesterol total aumentado e 10,8% apresentavam triglicérides acima dos valores de referência.

Com relação aos hábitos de consumo das bebidas analisadas, o estudo mostrou que 85% dos participantes ingeriam algum tipo de leite: integral (69%), semidesnatado (3%) ou desnatado (13%). Os índices de ingestão frequente (mais de cinco vezes por semana), porém, são menores: 45% referentes a leite integral e 10% para desnatado ou semidesnatado.

[quote align=’left’]Segundo o Guia alimentar para a população brasileira, do Ministério da Saúde, o leite é um alimento minimamente processado, rico em cálcio, proteínas e vitaminas (especialmente, a vitamina A). Deve ser consumido diariamente ou, ao menos, de forma regular, por crianças e adolescentes em fase de crescimento.[/quote]

A ingestão regular de leite integral foi apontada como marcador de alimentação mais saudável:  dentre aqueles que ingeriam a bebida habitualmente, as chances de ter circunferência de cintura elevada eram 57% menores.

Estudo realizado com adolescentes europeus, que serviu de referência para a pesquisa, também demonstrou que quanto maior o consumo de leite, menores os fatores de riscos cardiovasculares.

O iogurte, por sua vez, era consumido regularmente por 16,2% dos estudantes. Dentre os que tomavam o tipo integral (14,7%), as chances de sobrepeso e obesidade eram 81% menores, em relação aos demais.

Suco ou refrigerante?

Por outro lado, a pesquisa identificou que 21% dos participantes do levantamento consumiam refrigerantes, na versão normal, light ou diet, por cinco ou mais dias da semana – mesmo sem ter acesso à bebida gaseificada nas escolas onde estudam. O percentual é ligeiramente maior do que a média nacional: 19% dos adolescentes brasileiros tomam refrigerantes mais de cinco vezes por semana, segundo dados apurados em 2014 pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan).

Foto: rawpixel/Unsplash

Quanto aos sucos, somados os percentuais de ingestão das versões em pó (19,9%) e de caixinha (4,2%), o consumo superou o de suco natural (22,1%). Tais bebidas são incluídas na mesma categoria dos refrigerantes, por serem tão ou mais açucaradas que as gaseificadas, e, também, por contarem com aditivos em sua composição. Adolescentes com consumo regular de suco de caixinha apresentaram 46,5 vezes mais chances de ter níveis elevados de LDL (popularmente conhecido como “colesterol ruim”).

“O suco industrializado em pó é a mais barata dentre as demais bebidas, e constatou-se que, quanto mais baixa a classe econômica, maior o consumo”, aponta a nutricionista Ana Carolina Corrêa Café. “Este achado corrobora a necessidade de instruir as classes econômicas menos favorecidas no Brasil quanto aos perigos do consumo de alimentos ultraprocessados, especialmente o suco em pó, por ser altamente calórico e com total ausência de nutrientes”, alerta.

Leite materno

A avaliação de 284 crianças de 6 a 10 anos matriculadas em escolas públicas municipais de Divinópolis, no período de outubro de 2014 a maio de 2015, revelou que 15,2% apresentavam hipertensão arterial – a chamada “pressão alta”. O diagnóstico foi feito pelo educador físico Wendell Costa Bila, também integrante do Neca. O percentual é superior aos 9,6% aferidos pelo Estudo dos Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), que, em 2016, avaliou as condições de saúde de cerca de 75 mil estudantes brasileiros, com idade entre 12 e 17 anos.

Em seu trabalho, Wendell destaca evidências consistentes de que boa parte dos casos de hipertensão arterial na vida adulta tem início na infância. Assim, o diagnóstico precoce pode prevenir doenças cardiovasculares, renais e complicações neurológicas. O educador físico também faz menção a investigação que correlaciona o tempo de amamentação à tendência de desenvolvimento da hipertensão arterial – embora não tenha avaliado tal fator entre as crianças divinopolitanas.

Também financiada pela FAPEMIG, a pesquisa citada é descrita em artigo publicado no jornal da Associação Brasileira de Pediatria, em 2016, pelas pesquisadoras Luciana Nobre e Angelina do Carmo Lessa. A partir do acompanhamento de 230 crianças no município de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, elas observaram que crianças amamentadas por até seis meses são mais propensas à hipertensão, se comparadas com aquelas que recebem leite materno por períodos maiores. A constatação sugere um efeito protetor da amamentação contra a hipertensão arterial.

Se quer continuar lendo esta reportagem para saber sobre a síndrome metabólica (SM) e os problemas que ela pode causar, acesse a versão impressa da revista Minas Faz Ciência. Lá você também confere dicas para mudança de hábitos alimentares e de saúde:

 

Alessandra Ribeiro

Graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte - Uni-BH (2004). Especialista em Imagens e Culturas Midiáticas (2008) e mestra em Comunicação Social (2020) pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG . É jornalista do projeto Minas Faz Ciência desde 2015 e autora do e-book Mulher faz Ciência.

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