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Em julho de 2017, Rangel E. Santos, doutorando da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desembarcou na comunidade de pescadores do município de Humaitá, às margens do Rio Madeira, no sul do estado Amazonas, para obter informações sobre o pescado local. O pesquisador ficou por três semanas nas vilas de pescadores para coletar dados da pesagem de peixes da região.
O projeto para avaliar os impactos ambientais causados pela construção das usinas hidrelétricas começou há, aproximadamente, três anos, faz parte da tese de doutorado de Santos e teve gatilho nas informações sobre o rio Madeira passadas pelo professores Rogério Fonseca, da Universidade Federal do Amazonas (UFA), Fabrício B. Zanchi, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e Ricardo M. Pinto-Coelho, que faz parte da Universidade Federal de São João del-Rey (UFSJ).
A coleta
Com os dados passados pelos colaboradores das demais universidades, Santos identificou que se tratavam de registros anteriores à construção das usinas hidrelétricas Jirau e Santo Antônio, localizadas nas cidades dos respectivos nomes. Por isso, se deslocou até a Amazônia para completar as informações. Ele reuniu cerca de 20 anos de anotações feitas pelos pescadores.
Quando chegou ao local, Santos encontrou um cenário do qual não estava acostumado, mas percebeu que a comunidade de pescadores era muito organizada. O pesquisador notou que havia em cada posto de coleta dos desembarques pesqueiros um pescador responsável por fazer o registro de todos os peixes que chegavam. Esse funcionário da comunidade trabalhava de domingo a domingo.
Alguns pescadores, segundo Santos, saiam para fazer o pescado nos diversos pontos do Rio Madeira e demoravam até 15 dias para voltar. Contudo, todos os dias, o responsável pela pesagem ia até o ponto de coleta e aguardava os barcos.
Santos conta que os pescadores levavam nas embarcações a carcaça de geladeiras, nas quais colocavam gelo suficiente para que os peixes, ali depositados, não se perdessem.
Ao trabalhar com eles, o pesquisador também descobriu que alguns membros da comunidade identificavam uma mesma espécie de pescado com nomes diferentes, o que poderia dificultar a obtenção dos dados. Por isso, criou uma apostila com fotografias e nomes científicos dos peixes e pedia, à medida que os barcos chegavam, que fossem apontados no material os espécimes desembarcados e pesados por eles.
Em posse dos dados, cerca de 21.900 páginas com 30 linhas das mais de duas décadas de anotações, o pesquisador passou para a etapa de compilação. De acordo com Santos, os registros eram tantos que, caso não tivesse contratado ajudantes, sozinho levaria em torno de oito meses para tabular as informações (passá-las dos cadernos e fotos para o armazenamento digital).
Resultados
Na etapa seguinte, foram feitas análises do conteúdo e estatísticas. Santos descobriu que o impacto da construção das usinas hidrelétricas, já anunciado pelas comunidades, poderia ser quantificado e constatado. O pesquisador obteve o resultado de 39% de queda da produção média de pescados na região.
Além disso, como existem espécies de peixes que migram cerca de 3 mil quilômetros longitudinalmente, o impacto também pode afetar negativamente a fauna do Rio Amazonas.
Outra informação evidenciada pela pesquisa é sobre o empobrecimento da alimentação proteica dos pescadores, que é baseada nos pescados. Segundo Santos, a perda de 39% dos peixes é também a diminuição em 39% das proteínas ingeridas pelas comunidades ribeirinhas e 39% menos fonte de renda.
Para suprir a falta do peixe, os pescadores começaram a usar o tempo em terra firme para fabricar redes de pesca para venda e comercializar frutas, como bananas.
O projeto conta com três artigos publicados, sendo o último sobre esse decréscimo ocorrido após a construção das usinas hidrelétricas. O artigo mencionado pode ser encontrado na revista científica Wiley – Fisheries Management and Ecology, com o nome “The decline of fisheries on the Madeira River, Brazil: The high cost of the hydroelectric dams in the Amazon Basin”.
Veja a entrevista com Rangel E. Santos no vídeo abaixo.