Por William Araújo
Telescópios apontados para o alto, curiosos em volta, garçons atarefados e alguns astronautas fora da órbita gesticulavam para as espaçonaves encontrarem lugar para estacionar. O estudo das estrelas, corpos celestes e universo desceu na Pampulha, no bar Filé Espeto & Cia, na noite desta terça-feira (15).
Os entusiastas da Astronomia Sidney Maia Araújo, mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG, e Leonardo Gabriel Diniz, doutor em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dialogaram com os espectadores sobre a necessidade de divulgar a “ciência dos céus” e estimular a Educação Ambiental com base no que pode acontecer à espécie humana daqui a alguns anos. Para aproximar o público, dois telescópios foram apontados para Júpiter durante o evento.
O físico brasileiro mostrou em slides a analogia de Carl Sagan do desenvolvimento do universo apoiada no “Calendário Cósmico” para elucidar as etapas dessa evolução. De acordo com Sagan, o Big Bang (momento da criação do universo) seria o primeiro dia de janeiro, os dinossauros somente surgiriam no dia 24 de dezembro e a espécie humana apareceria no dia 31 do mesmo mês, às 23h54.
Apesar do pouco tempo de existência, o homem é a espécie mais impactante no planeta. Para Leonardo, o desafio é justamente conscientizar as pessoas do lugar ocupado pela Terra no espaço e como isso precisa ter importância.
“Estamos em uma localização privilegiada em comparação a outros planetas. Não ficamos longe e nem perto demais do sol, por isso houve condições propícias para o surgimento da vida”, diz Leonardo.
Entretanto, precisamos perceber que essas condições climáticas ocorrem por causa da inclinação no eixo da Terra e pela trajetória que o planeta faz entorno do Sol; também caminhamos para ciclos apocalípticos da vida, como as eras glaciais. Desse modo, não podemos prejudicar o meio ambiente e catalisar essas fases do planeta, diz o físico.
Para desenhar ainda mais o alinhamento das opiniões dos especialistas, Leonardo apresentou a fala do astronauta brasileiro Marcos Pontes sobre o que sentiu ao ver a Terra do espaço:
– Quando estamos no espaço, ficamos muito impressionados, pois damos a volta na Terra em 90 minutos, por outro lado há a preocupação de até quando teremos o planeta desse jeito. Quando olhamos as cidades de lá de cima, elas parecem cicatrizes. Será que somos capazes de integrar nossas tecnologias a essa pele?
Os Gedai contra a pseudociência
Aficionados pela franquia Guerra nas Estrelas, os astrônomos amadores do Grupo de Estudo e Divulgação de Astronomia Intercampi do CEFET-MG (Gedai CEFET-MG) têm a tarefa de defender a ciência e combater o “achismo” que tange os céus, diz Sidney – autodeclarado Sidão.
De acordo com o mestre, devemos esclarecer a pergunta “Por que estudar o espaço?” porque precisamos respeitar a ciência. Atualmente, a pseudociência é muito sedutora, comprovada pelo crescimento dos terraplanistas.
“Uma criança ouve um adulto terraplanista e facilmente acredita, pois não há debate científico próximo dela. Por isso criamos o Gedai, para divulgar a Astronomia e combater a contra ciência”, diz Sidão.
Dentre os projetos desenvolvidos pelo grupo estão o turismo com o “Astronomia na Serra do Rola Moça”, as visitas técnicas a escolas públicas, a formação de professores e os encontros da “Terça Astronômica”.
Uma das dinâmicas usada pelo grupo e apresentada pelo palestrante faz os espectadores imaginarem-se contando até um bilhão, segundo a segundo.
Para dar ideia do tamanho do número, Sidão pediu para as pessoas dividirem esse número por 60 e acharem a equivalência em minutos; mais uma vez por 60 para encontrarem a quantidade de horas; depois por 24 para acharem quantos dias e, em seguida, por 365 para descobrirem quantos anos precisariam contar. No total, os espectadores teriam de contar, aproximadamente, por 32 anos para terem 1 bilhão.
“Trabalhar números inimagináveis, a bilhões de anos luz de distância, e ver essas imagens fotografadas por uma sonda cria pontes entre as pessoas e as ajuda a pensar sobre a origem da vida, o futuro da espécie humana e em seu lugar na sociedade”, diz o professor.
Perguntas e sorteios
Ao fim da palestra, os novos “botequeiros espaciais” correram para entregar as fichas de perguntas e participarem dos sorteios de canecas personalizadas, blusas do evento e uma cortesia do estabelecimento.
No tira-teima, uma professora disse como os alunos a perguntam frequentemente se a Terra é plana, por isso queria saber uma forma mais simples de explicar a eles.
Os palestrantes indicaram o uso de vídeos amadores de balonistas, que atingem grandes altitudes com seus equipamentos e por vezes filmam a experiência. Outra sugestão foi falar do eclipse lunar, que demonstra claramente a curvatura da Terra.
Quando questionados se acreditavam na ida do homem à lua, os professores sorriram e disseram crer muito, mas, ao olhar o astro, ficam desconfiados.
Antes do desfecho, o secretário-adjunto de desenvolvimento econômico, ciência, tecnologia e ensino superior Vinícius Rezende, presente no evento, mandou um recado sobre a importância do Pint of Science em Minas Gerais.