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Foto: Joshua Davis/ Flickr

Pesquisas desenvolvidas em universidades brasileiras já tiveram como foco o estudo da religião no país, as vertentes religiosas ou dos fenômenos relacionados às igrejas, em particular. No entanto, nenhum desses estudos investigou o desenvolvimento de igrejas evangélicas sob a perspectiva do empreendedorismo.  Essa é a grande contribuição da tese defendida pelo professor Victor Silva Corrêa, em 2016, com o tema “Pastores como empreendedores: análise sob perspectivas comportamental e relacional”.

O pesquisador entrevistou 23 pastores responsáveis pela criação e condução de igrejas neopentecostais em BH e Região Metropolitana. Foto: Edy Fernandes.

O trabalho investiga as igrejas neopentecostais enquanto empreendimentos independentes criados por pastores previamente acoplados em comunidades não evangélicas, fenômeno este comum ao contexto brasileiro. A pesquisa foi agraciada com o Prêmio CAPES de Tese, sendo a melhor na área de Administração.

Segundo Victor Silva, os questionamentos iniciais foram: “Será que, no contexto evangélico, posso considerar os pastores como empreendedores? Eles possuem características semelhantes a outros empreendedores?”. O pesquisador entrevistou 23 pastores responsáveis pela criação e condução de igrejas neopentecostais em BH e Região Metropolitana.

5 características do empreendedor

A neopentecostal é uma vertente evangélica que surgiu na década de 1970. Victor Silva observou o funcionamento dessas igrejas e percebeu que os pastores trabalham para a manutenção e crescimentos de suas comunidades.

“Cheguei à conclusão que os pastores têm capacidade de inovação, são proativos, têm agressividade competitiva (para manter fiéis e conseguir novos), assumem riscos e fazem tudo isso com autonomia. Essas são características que definem o que é um empreendedor. Os pastores apresentam esses comportamentos e se assemelham a empreendedores em outros contextos”, explica o pesquisador.

 “Neste ambiente vigoroso, diversificado e competitivo, igrejas passaram a adotar postura ativa e mobilizadora, típica de empreendimentos produtivos; pastores começaram a atuar de maneira profissional, procurando captar e manter adeptos, obter recursos, distinguindo seus empreendimentos dos demais.” [trecho da tese]

A tese é construída a partir de dados dos pastores, obtidos nas entrevistas. O pesquisador chega às conclusões diante do que os pastores disseram. Segundo Victor Silva, durante as conversas surgiram dimensões interessantes para a tese que, inicialmente, ele não havia pensado.

Redes dos pastores

Foi importante entender, por exemplo, a rede de relacionamentos de cada um desses líderes. Além das entrevistas, o professor acompanhou cultos nas igrejas e mapeou as relações dos pastores antes e depois da conversão à religião. “Mais de 70% dos membros das igrejas evangélicas são convertidos, principalmente, da católica. Foi importante ver as relações antes e depois da conversão, pois percebi que essa mudança impactou o fato do pastor ser um empreendedor”, conta.

“o comportamento empreendedor de pastores neopentecostais contribui para o crescimento de suas igrejas. […] Logo, pastores mais empreendedores, com maiores habilidades em associarem atributos da orientação empreendedora, possuem, em relação aos demais, capacidade destacada em influenciar positivamente o crescimento de suas igrejas. Pastores empreendedores permitem maior desenvolvimento de seus empreendimentos” [trecho da tese]

“Os pastores apresentam esses comportamentos e se assemelham a empreendedores em outros contextos”. Foto: Edy Fernandes.

Perguntas para o pesquisador

MFC: O que te motivou a pesquisar o assunto?

Victor: Não foi uma motivação pessoal. Comecei a observar os dados que me chamaram atenção para a relevância do tema. É de conhecimento de todos a queda da população católica e o crescimento da comunidade evangélica no Brasil. Este é um tema, do ponto de vista da Administração, pouco explorado: empreendedorismo no ponto de vista da religião.

MFC: O que é fazer ciência na Administração?

O primeiro passo ao fazer ciência é identificar o estado da arte do que está estudando. Dentro da Administração existem vários campos. Um deles, o Empreendedorismo e Redes. Essa área olha para o que está se falando de mais moderno no mundo e identifica a realidade social para contribuir com a gestão e administração de empresas. Faz um cruzamento da realidade social com a teoria para identificar novas formas de administrar.

Numa tese, em particular, a gente precisa ter contribuição teórica original. Os melhores trabalhos são aqueles que, a partir da teoria, conseguem tecer algo da parte prática e conseguem sugerir pontos de aprimoramento. O trabalho acadêmico deveria ter esse viés de contribuição prática e empírica, não só para empresas, mas para todas as áreas em geral. Minha tese tem cerca de 21 contribuições teóricas na literatura de Empreendedorismo e Redes.

CLIQUE PARA LER A TESE NA ÍNTEGRA BAIXANDO DA BIBLIOTECA PUC MINAS

Sobre o pesquisador

Victor Silva Corrêa é graduado em Jornalismo e Relações Públicas pela PUC Minas, onde também fez especialização em Marketing, mestrado e doutorado em Administração. É professor em cursos de Administração, Comunicação e Marketing atuando nos seguintes temas: inovação, empreendedorismo, orientação empreendedora, redes sociais, redes empresariais, análise das redes sociais, capital social, sociologia econômica e imersão.

Prêmio CAPES de Tese

O Minas Faz Ciência inicia hoje uma série de matérias sobre as pesquisas ganhadores do Prêmio Capes de Tese. Vamos apresentar os trabalhos feitos em universidades mineiras que foram premiados na edição 2017. São teses defendidas em 2016 e agraciadas com a honraria.

O prêmio consiste em diploma, medalha e bolsa de pós-doutorado nacional de até 12 meses para o autor da tese; auxílio para participação em congresso nacional, para o orientador, no valor de R$ 3 mil; distinção a ser outorgada ao orientador, coorientador e ao programa em que foi defendida a tese; além de passagem aérea e diária para o autor e um dos orientadores da tese premiada para que compareçam à cerimônia de premiação.

A premiação é dividida por grandes áreas: de Ciências Biológicas, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias; Engenharias, Ciências Exatas e da Terra e Multidisciplinar (Materiais e Biotecnologia); Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes e Ciências Sociais Aplicadas e Multidisciplinar (Ensino).

Luana Cruz

Mãe de gêmeos, doutoranda e mestre em Estudos de Linguagens pelo Cefet-MG. Jornalista graduada pela PUC Minas. É professora em cursos de graduação e pós-graduação.

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