Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) estão mergulhados na memória cinematográfica mineira com a missão de mapear produção, exibição, distribuição de filmes, recepção, produção crítica e publicações sobre cinema na Região da Zona da Mata.
O trabalho é um resgate histórico dos traços deixados pela sétima arte nas cidades de Juiz de Fora, Muriaé, Cataguases, Carangola, Leopoldina, Ubá, Além Paraíba e Araxá. Se você é curioso ou apaixonado pelo universo audiovisual, conheça projeto Minas é Cinema:
O projeto tem apoio da Fapemig e CNPq. É resultado de trabalhos do Grupo de Pesquisa CPCine – História, Estética e Narrativas em Cinema e Audiovisual. No site do projeto, é possível conhecer os informações coletadas nas duas etapas da pesquisa, dividida por cidades.
Estão disponíveis listas de cinemas existentes em cada município, edições de revistas e jornais sobre cinema, além de referências bibliográficas para interessados em pesquisa audiovisual.
Garimpando o cinema mineiro…
A professora dr. Alessandra Souza Melett Brum conta que os pesquisadores visitaram arquivos públicos, antigas salas de cinema e alguns acervos particulares para conhecer um pouco da história. Juiz de Fora e Cataguases se revelaram cidades com profícuas produções.
“Este é um trabalho de preservação da memória. Se no Brasil manter acervos já é um desafio para grande centros, no interior é ainda mais latente”, explica.
Além de mapear a produção, o grupo de pesquisa se preocupa em devolver as informações aos municípios, principalmente com a publicação de todos os dados no site. “A gente é sempre forasteiro. Temos que devolver um pouco de informação para a cidade. Em Muriaé, por exemplo, visitamos o arquivo da cidade e digitalizados muitos materiais. Depois devolvemos a eles tudo digitalizado”, conta Alessandra Souza. Curioso é saber que somente nessa cidade já existiram 11 salas de cinema e, atualmente, funciona somente uma.
Em Leopoldina, o desafio da pesquisa foi encontrar as fontes da história porque documentos históricos e o material iconográfico estão dispersos. Muitos estão em mãos de particulares, o que dificulta o acesso. Apesar dos desafios, os pesquisadores seguem no propósito de resgate da arte.
Revelando o cinema mineiro…
“Trabalhar com história do cinema revela um universo maior em cada uma das cidades. O cinema é também uma atividade econômica. Não consigo desvincular a atividade cinematográfica do resto, por isso é preciso compreender os processos pelos quais passavam as cidades em cada época”, explica a professora.
Ademais, filmes revelam fatos abrangentes sobre períodos histórico-sociais. “Não dá para pensar a pesquisa de cinema somente em grandes centros. Essa relação regional/nacional não se sustenta mais. A pesquisa Minas é Cinema revela não só o ponto de vista local, mas o que foi produzido em abrangência nacional”, ressalta Alessandra Souza.
Os pesquisadores também trabalham no Laboratório de Narrativas Audiovisuais e registram entrevistas com cineastas, produtores, pesquisadores e cinéfilos. Esses bons papos integram os dados do projeto com figuras importantes da produção cinematográfica.
Entre os entrevistados estão Ronaldo Werneck, Eduardo Yep, Cristiano Rodrigues, Mauro Pianta, Murílio Hingel e Carlos Scalla. Destaque para as conversas sobre Humberto Mauro, um dos pioneiros do cinema brasileiro, que nasceu na Zona da Mata de Minas e deixou rastros da memória do cinema, principalmente em Cataguases, onde morou.
Para a professora Alessandra Souza, o legado desse trabalho não é só resgatar memória, mas deixar referências para pesquisadores que se interessem por cinema. O grupo lançará, em breve, o livro Cinema em Juiz de Fora que reúne informações de pesquisadores sobre a produção da cidade.