Se você já circulou de ônibus pela capital mineira, certamente este projeto de divulgação científica não passou despercebido: Ciência para todos consiste na publicação de lâminas com informações científicas e curiosidades do mundo da pesquisa para serem penduradas em veículos que circulam por Belo Horizonte e Contagem.
A premissa de aproveitar o tempo livre dos passageiros no transporte coletivo para informar sobre ciência, tecnologia e inovação surgiu a partir de outra iniciativa, o Leitura para todos, idealizada pela professora Maria Antonieta Pereira, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (Fale/UFMG).
“Conheci o projeto de leitura como a maioria das pessoas: andando de ônibus. Desde o início, achei uma coisa maravilhosa e me perguntava: ‘E se a gente pusesse ciência aqui?’. Aquilo ficou na minha cabeça até eu começar a trabalhar com divulgação científica, em 2005, no programa Na onda da vida veiculado pela Rádio UFMG Educativa”, conta Adlane Vilas-Boas, professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade e coordenadora do projeto de divulgação científica nos ônibus, que foi incorporado ao de leitura a partir de 2011.
Os projetos no rádio e no transporte público têm objetivos em comum: a inclusão da sociedade nas temáticas abordadas, o incentivo à leitura e a preocupação com os níveis de compreensão da população. Juntos, foram batizados de Ciência para ler e ouvir, com apoio da FAPEMIG, do edital Proext/MEC, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da BHTrans. Para mensurar a eficiência da iniciativa junto ao público, a equipe de bolsistas aplica questionários para avaliar os níveis de compreensão dos textos que circulam nos coletivos. Os resultados foram apresentados na 13ª Conferência Internacional sobre Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, realizada em Salvador, em maio de 2014.
“Buscamos compreender se havia preferência dos leitores pelos textos de prosa e poesia ou pelos artigos sobre ciência. A pesquisa mostra que não há grande diferença. O dado é muito interessante, por demonstrar que nossos escritos são acessíveis, a ponto de o leitor não identificar clara distinção entre o que escrevemos e trabalhos mais literários”, analisa Adlane, ao ponderar, ainda, que, possivelmente, muitos leitores não consigam diferenciar um tipo de texto do outro por falta de formação.
Para aprofundar a análise, a equipe construiu um questionário que se relaciona com informações disponíveis na pesquisa do Ministério da Ciência Tecnologia e Informação (MCTI) sobre percepção pública da ciência e tecnologia. Observaram, por exemplo, que as pessoas não costumam consumir informações científicas no rádio, meio que veicula a maior parte dos textos usados no projeto. Adlane acredita que a complementação dessas iniciativas é positiva: “Por meio dos ônibus, levamos informações importantes sobre pesquisas desenvolvidas na UFMG a uma população que não tem acesso à ciência em outros meios e nem ouve a rádio da Universidade”.
A iniciativa tem chamado a atenção de diversas outras cidades brasileiras e recebeu propostas para ser implantada no Chile. Adlane colhe os frutos de uma trajetória na divulgação científica que começou com a publicação de um artigo na revista Ciência Hoje, no final da década de 1990: “O resultado e o retorno foram tão legais que passei a me dedicar a isso. Queria transformar a linguagem da pesquisa e fazer as pessoas compreenderem. Havia, também, uma preocupação em reduzir essa distância do cientista que, na maioria das vezes, produz com dinheiro público, em instituições públicas. Lembro que, quando voltei do doutorado no Canadá, minha família perguntava o que tinha ido fazer lá e eu tentava explicar de maneira simples. Sempre gostei de escrever e uma coisa levou à outra”.
Texto originalmente publicado na edição nº 59 da Minas Faz Ciência.
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