Pesquisa sobre bactéria que causa diarreia é premiada
Um estudo pioneiro sobre a ação da bactéria Clostridium difficile, desenvolvido por Rodrigo Otávio Silveira Silva na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi agraciado com o Prêmio Capes de Tese 2015, um dos mais importantes no cenário da pesquisa nacional.
O pesquisador foi o primeiro a observar a ocorrência da doença em animais carnívoros silvestres, como jaguatirica, lobo-guará e onça parda, além de equinos e cães. A bactéria causa diarreia em equinos, animais silvestres e cães, além de também se manifestar em humanos.
“Clostridium difficile é uma bactéria anaeróbia que foi descoberta em 1930, mas só na década de 1980 os pesquisadores perceberam que ela era um agente patogênico” – Rodrigo Silva.
Foi durante o mestrado que Rodrigo Silva identificou a existência da doença a no Brasil, além de verificar que ela era a principal causa de diarréia em suínos – fator que causava a diminuição do peso em filhotes de leitão, gerando perda de produção em granjas.
No doutorado, o foco foi na ocorrência da doença em cães e equinos. Um dos fatores determinantes para o sucesso do estudo foram os testes realizados em parceria com o Hospital das Clínicas da UFMG. Ao submeter pacientes do Hospital com diarreia aos testes comerciais de diagnóstico, Rodrigo chegou à conclusão de que os métodos de diagnóstico eram ineficientes para detectar os pacientes com Clostridium difficile.
Confira o vídeo em que o próprio Rodrigo explica sua pesquisa:
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=VObqgRCThws]
Pesquisa inédita
Em entrevista ao Blog Minas Faz Ciência, Rodrigo explicou o ineditismo de sua pesquisa e deu dicas para quem quer se engajar em pesquisas com potencial de premiação. Confira:
Blog MFC: A que você atribuiu o ineditismo da sua pesquisa?
Rodrigo Silva: Nós confirmarmos a ocorrência da doença pela primeira vez no Brasil, em suínos, equinos e cães, e pela primeira vez no mundo em carnívoros silvestres. Mais que isso, o estudo confirmou que o agente não estava apenas presente em suínos, mas era a principal causa de diarréia neonatal nessa espécie e encontrava-se difundido em granjas.
BlogMFC: Quais os principais benefícios e conquistas da sua pesquisa? Como os produtores e empresários que lidam com animais poderão se beneficiar do estudo?
RS: Durante o doutorado, trabalhamos também com humanos no Hospital das Clínicas. Nesse ponto, o projeto ajudou médicos e profissionais da saúde a entender melhor a ocorrência dessa infecção hospitalar. Além disso, o estudo sinalizou para a necessidade de mais trabalhos focando em novos métodos para diagnosticar pacientes com a doença, uma vez que os testes comerciais presentes no mercado brasileiro demonstraram-se inadequados para essa finalidade. Já em Medicina Veterinária, a confirmação da doença alertou veterinários e proprietários de granja para a necessidade de implementar medidas de controle focando nesse patógeno.
O estudo demonstrou também que o controle do agente é difícil, estimulando então busca por vacinas contra a diarréia por Clostridium difficile. Ainda inexistem vacinas para prevenção dessa doença e esse tem sido nosso foco atualmente. Recentemente, desenvolvemos um imunógeno vivo que poderá ser testado para prevenção da diarréia por C. difficile em um futuro próximo.
BlogMFC: Quanto ao prêmio, o que ele significou para você e que frutos está colhendo da premiação? Você pensava que poderia ser uma pesquisa premiada ou ficou surpreso com o resultado?
RS: O prêmio foi uma surpresa muito feliz. Por mais que eu visse os resultados da minha tese com muito orgulho, os dois prêmios que recebi (melhor tese de Ciências Agrárias na UFMG e Prêmio Capes de Teses 2015) me surpreenderam. Acredito que o reconhecimento serve de combustível para continuarmos buscando inovar e melhorar, de alguma forma, a saúde animal e humana.
BlogMFC: Na sua opinião, o que é preciso para se destacar no meio acadêmico? Que dicas e orientações você pode dar para pós-graduandos e jovens pesquisadores que tenham interesse em desenvolver pesquisas premiadas?
RS: Acredito que gostar de estudar e ter interesse real pelo tema de sua pesquisa são pontos essenciais. Dessa forma, é mais simples manter toda a dedicação e disciplina que são necessários para desenvolver uma pesquisa.
BlogMFC: Como está o desenvolvimento da vacina que pode prevenir casos de infecção pela bactéria?
RS: Desenvolvemos um imunógeno vivo que poderá ser testado para prevenção da diarreia por C. difficile em um futuro
próximo. Essa vacina foi o tema de uma dissertação recentemente defendida e demonstrou-se capaz de prevenir a doença em 100% dos animais desafiados. Esperamos angariar recursos para, em 2016, continuar a avaliação dessa possível vacina viva em suínos.
BlogMFC: Pensando nas pessoas comuns que acompanham nosso projeto, é possível evitar a contaminação de animais domésticos pela bactéria? Que orientações você daria?
RS: Não há motivos para preocupação. A bactéria acomete basicamente animais internados em hospitais veterinários. Só em suínos esse padrão não prevalece mas, nesse caso, a doença limita-se às granjas. Dessa forma, profissionais que trabalham em granjas ou em clínicas e hospitais veterinárias têm mais contato com o agente. Mesmo para esse grupo, não há grandes riscos. Normalmente, a doença acomete apenas pacientes sob antibióticiterapia de amplo espectro e com idade avançada, tornando-a muito mais comum em hospitais que na comunidade em si. O contato com animais positivos apenas representa risco de tornar o ser humano um portador assintomático. Posteriormente, esse paciente pode, ao se internar no Hospital, disseminar o agente no ambiente e colocar pacientes em risco.
A tese de Rodrigo contou com apoio da Fapemig.
Imagem de destaque: Reprodução da Escola de Veterinária da UFMG.
Com informações da UFMG e da Escola de Veterinária / UFMG.Compartilhe nas redes sociais Tags: bactéria, Capes, medicina veterinária, pesquisa, prêmio capes de tese, UFMG, veterinária
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