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O professor da Unifei, Antonio Jose Faria Bombard teve seu artigo “Magnetorheology of dimorphic magnetorheological fluids based on nanofibers” selecionado como um dos 23 melhores artigos de 2014, entre 463 publicados nas 12 edições do periódico Smart Materials and Structures, editada pelo Institute of Physics (IOP), da Grã-Bretanha.

O artigo foi fruto de um bem sucedido estágio, financiado pela FAPEMIG, realizado na Universidade de Granada, na Espanha, sob a supervisão do físico e professor Juan de Vicente.

Graduado em Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com Mestrado e Doutorado pela mesma instituição, Bombard é também membro da Rede Mineira de Química (RQ-MG) e colabora com o Grupo de Biocolóides e Física de Fluidos, da Universidad de Granada.

Confira abaixo uma entrevista com o professor:

Quais foram as principais motivações para a pesquisa?

O tema da minha tese de doutorado foi sobre Fluidos Magneto-Reológicos (FMR). No Brasil, existem pouquíssimos grupos atuantes nesse tema de magneto-reologia e, menos ainda, no estudo das formulações dos FMR. Daí a motivação para ir à Universidade de Granada, onde existe um grupo forte trabalhando e desenvolvendo pesquisa de frente nessa área, com destaque para o supervisor do meu estágio técnico-científico, o físico Juan de Vicente, dono de uma inteligência rara e privilegiada.

Outro grande motivo para a pesquisa é a própria importância dos fluidos magneto-reológicos, que são materiais classificados dentro da grande família dos “Smart Materials” (Materiais Inteligentes), cujas propriedades podem ser, até certo ponto, controladas de diferentes maneiras. No caso dos FMR, um campo magnético pode, rápida e reversivelmente, mudar muito a viscosidade de tais fluidos. Isso possibilita sua aplicação em, por exemplo, amortecedores automotivos high-tech ou, também, em próteses inteligentes para amputados transfemorais, como a prótese Rheo Knee, da empresa Össur, da Islândia.

Confira um vídeo de apresentação da prótese Rheo Knee e entenda a aplicação (em inglês):

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=x51O7W3DHCI]Qual o impacto da publicação deste artigo em sua trajetória?

A publicação foi muito bem-vinda, pois a revista Smart Materials and Structures é um periódico de bom fator de impacto (2,449 em 2013) e considerada Q1 (ou Qualis A1 nos critérios da CAPES) na área de Ciência ou Engenharia dos Materiais.

O mérito da idéia do trabalho foi do meu supervisor, o professor Juan de Vicente. A surpresa foi o trabalho ter sido selecionado como um dos 23 melhores artigos do ano. Isso significa que ficamos entre as 5% melhores publicações da revista em 2014. Considerando que todos os artigos têm seus méritos e que os revisores costumam ser exigentes quando avaliam um artigo científico (e é bom que seja assim), estar classificado entre os highlights de uma revista especializada no tema foi uma surpresa muito positiva.

O que esta publicação traz de novas contribuições com relação a seus estudos anteriores?

Todo material magneto-reológico requer, no mínimo, dois componentes. No caso dos Fluidos Magneto-Reológicos (FMR), um desses materiais é um líquido (em geral um óleo de baixa viscosidade) e o outro é um sólido magnético, na forma de um pó micrométrico.

A contribuição do artigo foi demonstrar que incorporar um terceiro material, mesmo que não magnético, mas com morfologia de nanofibras (uma fibra com diâmetro nanométrico), pode aumentar em até 80% o efeito magneto-reológico em relação ao fluido convencional (que chamamos de controle). Disso também resultam algumas vantagens adicionais, como melhor estabilidade dos FMR contra sedimentação (que é um problema comum desse material).

Já para uma aplicação bastante específica dos FMR, que é o polimento óptico de altíssima qualidade com magneto-reologia, a incorporação de um terceiro material também pode ser vantajosa. Mas, para outras aplicações, tais nanofibras são abrasivas, e isto é um sério problema. Claro que mais estudos são necessários, dependendo de como se pretenda aplicar FMR com nanofibras. De qualquer modo, é um resultado que tem aspectos relevantes, tanto na compreensão do efeito MR (estudo fundamental), quanto para aplicações tecnológicas de FMR.

Como a sociedade em geral pode se beneficiar do desenvolvimento desta pesquisa?

Ainda é difícil pensar que aqui no Brasil, em curto prazo, esta tecnologia vá ser aplicada rapidamente, mas já existe uma empresa nacional que está desenvolvendo um produto para portadores de mobilidade reduzida e que talvez aplique o material magneto-reológico (MR). No exterior, porém, já existem diversas aplicações interessantes, como próteses com freio MR para amputados transfemorais (pessoas que tiveram um dos membros inferiores amputados acima do joelho, e, portanto, perderam o movimento de flexão) e equipamentos para musculação ou fisioterapia baseados em dispositivos MR.

A aplicação mais conhecida, porém, ainda é em amortecedores para carros esportivos ou de alta performance, como no Audi TT ou S3, no Chevrolet Camaro ZL1 ou no Corvette (alguns modelos), no Lamborghini Huracán, e na Ferrari 599, entre outros. Nesses exemplos, os amortecedores atuam de forma inteligente, “entendendo” os impactos do solo e reagindo com propriedade a eles. Por enquanto, o custo da utilização dos FMR ainda é elevado, mas talvez em cinco ou dez anos até carros mais simples poderão vir equipados com suspensão magneto-reológica, o que trará mais segurança e conforto aos passageiros.

Como a experiência do estágio técnico-científico contribuiu para sua atuação como professor e pesquisador no Brasil?

A experiência foi bastante rica e certamente está tendo reflexos muito positivos em minhas atuações como professor e pesquisador. Embora meu estágio em Granada não tivesse o propósito de que eu atuasse ensinando o tema magneto-reologia – considerarmos que foi de apenas seis semanas –, sei que meus alunos terão benefícios teóricos e práticos advindos dessa experiência.

Leciono na graduação e na pós-graduação e, independentemente da linha de pesquisa a ser adotada por meus alunos, o fato de eu poder transmitir a eles os resultados desse estágio internacional de alta qualidade pode ser um estímulo para que eles invistam em suas próprias ideias ou, quem sabe, até que sigam a mesma linha de pesquisa. Porém, é bom ressaltar que o importante, para mim, não é que meus alunos trilhem o mesmo caminho que estou trilhando, mas, sim, que eu proporcione a eles condições para que desenvolvam seu próprio potencial. Para isso, um estágio como o que fiz é verdadeiramente enriquecedor.

Como pesquisador, o estágio técnico-científico proporcionou uma grande oportunidade de aprendizado e muito contribuiu para minha linha de pesquisa. A FAPEMIG, inclusive, é parceira também para o laboratório de reologia da UNIFEI. Três projetos de Editais Universais aprovados (em 2007, 2008 e 2011) nos permitiram equipar e ampliar bastante a capacidade instalada do reômetro original.

Sem o apoio que recebi da FAPEMIG certamente eu não teria conseguido chegar até aqui e nosso laboratório não teria contado com esses avanços importantíssimos. Nesse aspecto, também acho importante salientar que ciência de ponta pode, sim, ser feita sem grandes recursos financeiros. Porém, ciência experimental muitas vezes depende de equipamentos caros, sofisticados e importados. Por isso, sem o apoio das agências de fomento dos governos estaduais e federal é muito difícil querer competir com os cientistas de países mais ricos. O Brasil (e Minas Gerais) tem muitos talentos, como qualquer outro povo ou país. Contudo, sem investimentos perenes e constantes em Ciência e Tecnologia continuaremos dependentes. Um pesquisador não se faz em cinco nem em dez anos; são décadas para se formar um profissional.

Verônica Soares

Jornalista de ciências, professora de comunicação, pesquisadora da divulgação científica.

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