Muitas vezes, as pesquisas qualitativa e quantitativa são vistas como abordagens distintas que, em alguns momentos, podem ser complementares, mas que raramente são trabalhadas simultaneamente na obtenção e análise dos dados.
Em ensaio publicado na Revista Big Data & Society, a etnógrafa Heather Ford buscou desmistificar essa visão, tendo por base o trabalho desenvolvido sobre a Wikipédia, durante três anos, em parceria com dois cientistas da computação.
Ao falar sobre sua experiência nesse trabalho conjunto e, principalmente, os ganhos obtidos na pesquisa, temas importantes relacionados à colaboração científica apareceram. No texto, por exemplo, Ford chama a atenção para o fato de haver muitas coisas em comum entre as abordagens quali e quanti. Outro ponto interessante destacado pela autora se refere aos ganhos obtidos no estudo pelo fato de o trabalho ter sido realizado em conjunto.
Geralmente, mesmo em pesquisas colaborativas, as atividades são distribuídas de acordo com as habilidades e a expertise de cada membro da equipe. A partir dessa lógica, aos cientistas sociais cabem atividades como entrevistas em profundidade e análises “manuais”, sendo que as análises de grande volume de dados (quantitativa), bem como o próprio desenho das ferramentas de coleta, fica a cargo dos cientistas que trabalham com “big data”. Na visão de Ford, isso acaba tornando a pesquisa pouco criativa, além de não permitir uma troca de conhecimentos e uma real colaboração entre cientistas de diferentes áreas, pois um não se “aventura” a conhecer e participar da prática do outro.
No trabalho que motivou a escrita do ensaio, Ford teve a oportunidade de participar de etapas do estudo que, em princípio, ficavam a cargo das áreas que têm mais afinidade com a pesquisa quantitativa. Ela também pôde dividir com os outros pesquisadores seus conhecimentos acerca das técnicas e tipos de análises usados nos estudos qualitativos, em especial, no campo da etnografia.
Dessa forma, todos nós saímos com uma compreensão mais profunda do assunto e de como o nosso olhar atua na produção da pesquisa e nos seus resultados. Aprendemos também algumas novas habilidades importantes.
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Trabalhando em conjunto, etnógrafos e cientistas “de dados” podem não só produzir uma pesquisa rigorosa, mas também podem encontrar formas de diversificar as suas habilidades como pesquisadores. Minha experiência com esse projeto me deu um novo respeito pela pesquisa quantitativa bem elaborada e reiterou o fato de que uma boa pesquisa é boa seja qual for o nome que damos a ela e a nós mesmos. (FORD, 2014, p. 3, tradução nossa)
Para ler o ensaio na íntegra, clique aqui.
Referência: FORD, Heather. Big Data and Small: Collaborations between ethnographers and data scientists. Big Data & Society. v. 1 n. 2, jul-dez, 2014.