O relato publicado no jornal The Guardian, no último sábado, traz a fala de uma garota de 13 anos, Bintu Sannoh, que vive em Serra Leoa. O tema é o Ebola e os impactos “devastadores” da doença em sua comunidade.
“A vida era dura, mas OK. Eu moro com minha tia e muitos parentes em um grande campo de refugiados; nós sempre fomos pobres, mas havia alegria. Mas agora estamos aterrorizados. Muitas pessoas, amigos e familiares morreram e ainda estão morrendo. E o número de órfãos aumenta diariamente.”
Sua fala revela, por vezes, uma clareza em relação ao que vem ocorrendo, que faz com que Bintu pareça ter muito mais que 13 anos. Ao nos contar sobre como a doença se fez conhecer em sua comunidade, vemos novamente o papel da desinformação na propagação do Ebola. Bintu diz que muitos não acreditaram, chegando por vezes a atribuir conotações político-partidárias à doença.
“(…) ‘O Ebola não é real’. Alguns disseram que o governo não se importava com Ebola porque o governo é do norte e o vírus está no leste (reduto do maior partido de oposição). Outros disseram que era porque os médicos queriam seu sangue. Havia tantas histórias e ninguém levou a sério o Ebola.”
Em meio a relatos sobre o medo que o som da ambulância provoca entre os membros da comunidade, especialmente as crianças, até o fato de Bintu se sentir “sortuda” porque sua tia, mesmo diagnosticada com o vírus, sobreviveu, vamos tomando conhecimento dos efeitos terríveis dessa epidemia, sem nos perder nas generalizações despersonificantes.
O depoimento de Bintu foi coletado pela instituição filantrópica Street Child, do Reino Unido. Criada em 2008, a entidade tem por objetivo gerar oportunidades educacionais para crianças em situação de vulnerabilidade, na África Ocidental.
Em meio ao caos, a garota se pergunta sobre o futuro. Já não há escolas, o comércio fechou as portas. “Quem irá nós ajudar a sair dessa?” O depoimento de Bintu Sannoh talvez seja o primeiro passo, pois nos leva a conhecer. A partir daí, o segundo passo precisa ser dado por nós, principalmente, governos e instituições capazes de mobilizar recursos para conter, de fato, a doença. E tais recursos não se limitam ao importante envio de médicos e agentes de saúde, mas também englobam ações de divulgação científica.
Nesse caso, há que se levar em conta a necessidade de se enviar jornalistas científicos para desempenhar seu papel, não apenas para a comunidade em geral, mas também junto àqueles que formulam as políticas públicas.
“O jornalista científico combina habilidades de pesquisa, conhecimento do método científico e da história da ciência com um faro para verdade. A sociedade como um todo se beneficia ao ter uma comunidade de jornalismo científico forte, que seja capaz de criticar e interpretar a informação para que ela seja útil não só na formulação de políticas públicas, como também no dia a dia das pessoas.” (trecho extraído do comunicado Ebola outbreak and the urgent need for science journalists da WFSJ)
Não somente nesse caso, mas em muitos outros relacionados às políticas de saúde pública, podemos afirmar que a informação pode sim ser um “santo remédio”.