Os Moçambiques, com suas latinhas amarradas nos pés, já vêm.
Os Marinheiros, com seus chocalhos também.
Vem Vilão, com sua luta dançada, vem Penachos com suas ‘coreôs’ ensaiadas.
E os Catupés? Vêm também com a cantoria afiada.
Todos juntos, ao som de tambores e repiques, em um arco-íris de cores para comemorar a famosa Festa de Congado.
Mas será que a matemática tem alguma ligação com essa festança? Para o futuro professor, Renê Aparecido Santos, tem tudo a ver.
Renê, que está no último período do curso de licenciatura de Matemática do Instituto de Ciências Exatas e Naturais do Pontal conta que a matemática está em todos os lugares e momentos da nossa vida. “Basta termos um pouco de conhecimento para vê-la”.
Para provar isso, o estudante topou o desafio de mostrar, no seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), como o Congado e a matemática estão conectados. “Eu queria mostra que é possível ensinar a matemática por meio de manifestações culturais”, conta.
Dessa forma, a partir do que aprendeu no curso e da sua vivência no movimento cultural do Congado, o futuro professor conseguiu ver elementos e propriedades matemáticas nos instrumentos musicais. Também percebeu a possibilidade de ajudar os alunos a aprenderem essa disciplina, que muitos acham um bicho-de-sete-cabeças.
Antes de tudo, você precisa saber que essa ligação só foi possível graças a etnomatemática. Tal movimento vê e valoriza a existência da matemática nas práticas fora do laboratório e salas de aula. Ou seja, em atividades como dos artesãos, pescadores, pedreiros, costureiras e, até mesmo, em diferentes culturas como a indígena, cigana, ribeirinha.
A partir desse entendimento, Renê e o seu orientador, Leandro de Oliveira Souza, conseguiram construir três sugestões de atividades para serem aplicadas em sala de aula. Todas usando a prática de construção de instrumentos musicais, feita nos barracões das Festas de Congado.
Segundo Santos, durante a construção dos aparelhos, é preciso trabalhar com tamanho e proporção. “Então, a primeira atividade busca ensinar cálculo de área e de volume, baseado na construção de tambor e repique”, explica.
Já a segunda atividade trabalha os conceitos matemáticos de razão e proporção de um instrumento para o outro. A ideia aqui é que, com os aparelhos desmontados, as crianças possam mexer neles e fazer os cálculos para ver as diferenças.
Por último, a dupla pretende convidar os alunos para tocarem os instrumentos, para que eles possam observar os sons produzidos por cada um e identificarem, por meio da matemática, porque os sons são diferentes.
“Todas essas atividades nos permitem ensinar e aprender a calcular área, proporção e intensidade sonora”, conta Renê.
O estudante conta, ainda, que todas essas propostas trabalham com duas matemáticas: a implícita e a explicita.
“Na primeira, as pessoas precisam já ter um conhecimento para enxergar a matemática naquela tarefa, pois ela está escondida. Já na explícita, apenas de olhar já sabemos que ela tá ali”, explica.
Apesar das propostas estarem finalizadas, o estudo ainda não acabou. Segundo Renê, o próximo passo é desenvolver uma proposta de sequência didática para que tudo isso seja aplicado nas escolas.
Mas afinal o que é o Congado? Também chamado de congo ou congada, essa festa é uma manifestação cultural e religiosa de influência africana celebrada em regiões de Minas Gerais e do Brasil.
Inspirada no Cortejo aos Reis, essa festa tem origens na África, no país do Congo, onde representa o agradecimento do povo aos seus governantes. No Brasil, a festa é comemorada com muita dança, levantamento de mastros e música.
E lembra dos grupos que se juntam para comemorar a festança? Eles são chamados de Ternos de Congo. Cada um representa uma história de Nossa Senhora do Rosário ou da cultura afro e têm músicas, danças e roupas muito diferentes.
Por exemplo, os Moçambiques lembram as pessoas que ficaram à beira do mar, chamando a Senhora do Rosário, cantando, sem dar as costas. Por isso, quando eles vão embora saem de costas.
Renê já participa da festa há oito anos. Segundo ele, o movimento, assim como a matemática, se tornou uma paixão em sua vida. “Fui muito acolhido pelo Congado e isso me permitiu ter novos conhecimento e me identificar como pessoa”, conta.
O futuro professor também destaca que trabalhar os conhecimentos, base da nossa educação, não só a matemática, mas também outras disciplinas como história e português, a partir dos movimentos culturais é muito importante. “É uma forma de manter vivo todo esse conhecimento”, frisa.
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