Olhe para os seus dedos e imagine uma rã tão pequena que caberia na ponta de um deles: essa é a Pseudopaludicola matuta, espécie de menos de dois centímetros que foi descoberta na região central de Minas Gerais e na Serra do Cipó, no final de 2018.
Esta pequena rã é conhecida pelos cantos acelerados, com emissão de notas altas e curtas, conforme o áudio divulgado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), instituição onde o pesquisador Felipe Silva de Andrade se formou:
Hoje, Felipe desenvolve sua pesquisa de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele pesquisa a biodiversidade dos anfíbios desde 2010.
Segundo o pesquisador, o nome matuta faz referência a “matuto”, sujeito que vive no interior, simples nos hábitos. O tamanho pequeno é comum na espécie de anfíbios, no entanto, o que diferencia a P. matuta da espécie irmã, a P. mineira, é o canto mais rápido e o local onde é encontrada na Serra do Cipó.
Prima mineira
A rãzinha matuta tem uma prima, batizada de P. mineira, que também pode ser encontrada na Serra do Cipó.
Apesar de serem “parentes”, há diferenças entre elas: a espécie matuta nova foi encontrada no sopé [parte baixa] da Serra do Cipó, enquanto a P. mineira é encontrada nos campos rupestres de altitude cerca de 1200m.
Felipe conta que existe um paredão separando essas duas espécies: “Resta saber qual foi o papel da altitude no processo de especiação dessas espécies irmãs”, explica o biólogo.
A descoberta desta nova espécie faz parte da tese de doutoramento de Felipe, que busca investigar a identidade da população de rãs. O trabalho rendeu uma publicação no European Journal of Taxonomy, assinada por Andrade e outros pesquisadores que contribuíram para a realização do projeto.

Como captar o canto de uma rã tão pequena?
Os pesquisadores usam gravadores e microfones profissionais em expedições de campo, como a que fizeram em Curvelo e na Serra do Cipó para identificar e diferenciar o canto da P. matuta.
Para Felipe, a importância da realização deste trabalho tem a ver com a preservação e conservação, já que o Brasil é o país número um em biodiversidade do Planeta!
“Não dá para preservar o desconhecido. Por isso é tão importante nomear espécies novas”, explica Felipe.
“Só depois disso elas entrarão nos levantamentos de consultores ambientais, listas de espécies, projetos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)”, finaliza.
Com informações da Assessoria de Comunicação da UFU.