Árvores não têm certidão de nascimento nem carteirinha de identidade, mas assim como os seres humanos, os animais e até mesmo os objetos, elas dão sinais de envelhecimento. O tempo passa para tudo e para todos, certo? Mudam os tamanhos, cores, aparências, movimentos e texturas. Tudo se transforma com o passar dos anos. Mas, afinal, como sabemos a idade de uma árvore?

No início do século passado, pesquisadores começaram a traçar um método científico para estabelecer a idade de uma árvore, por meio da observação dos anéis de crescimento presentes em seu tronco. Esse estudo é chamado de Dendrocronologia, uma ciência em expansão, já que os estudos em florestas tropicais começaram há pouco mais de 30 anos.

As árvores, em zonas temperadas, crescem em largura de maneira descontínua. Em muitas espécies, a produção de tecidos no caule, só acontece durante um período do ano, o que leva à formação de anéis com o ritmo anual. Assim, a contagem de anéis ajuda a definir a idade. A ideia é mais ou menos assim: para uma árvore que tenha 100 anéis, estimam-se 100 anos. É claro que não é uma definição tão exata porque o crescimento anéis pode variar por diversos motivos.

Em Minas Gerais, pesquisadoras do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras (UFLA) são feras da Dendrocronologia. Elas iniciaram em 2013, pesquisas a partir de anéis de árvores da Amazônia. Além de determinar a idade das árvores, puderam também obter um mapeamento histórico jamais visto do clima da floresta.

Anéis de árvores passaram por limpeza e foram lixados para as pesquisas em laboratório. Imagem: Reprodução TV UFLA

Anéis de árvores passaram por limpeza e foram lixados para as pesquisas em laboratório. Imagem: Reprodução TV UFLA

Anéis da árvore e clima: qual a relação?

De acordo com cientistas da UFLA, as plantas respondem a estímulos externos como ação de vento e água, entre outros. A parte metabólica das árvores é responsável por crescimento e transformações do organismo. Quando as condições ambientais são adversas, esse metabolismo paralisa e as árvores entram em dormência. Tudo isso fica registrado anualmente em seus anéis de crescimento.

Cientista envolvida nas pesquisas, Ana Carolina Maioli C. Barbosa. Imagem: Reprodução TV UFLA

Cientista envolvida nas pesquisas, Ana Carolina Maioli C. Barbosa. Imagem: Reprodução TV UFLA

A largura de um anel para outro é maior quando choveu muito naquele ano e isso significa que a planta cresceu. Se o espaço entre um anel e outro é estreito quer dizer que ali houve um período de seca.

Esta observação de fontes naturais – como anéis de árvores, núcleos de gelo, corais, sedimentos oceânicos e cavernas – para determinar informações meteorológicas é parte de uma área de estudos chamada Paleoclimatologia. É possível montar um grande arquivo de referências climáticas por meio de medições geofísicas ou biológicas dessas fontes naturais.

As pesquisadoras da UFLA estão reconstruindo informações sobre o clima amazônico por meio da pesquisa de anéis das árvores. O registro poderá ser usado para saber o histórico do clima e o que esperar das mudanças climáticas futuras na região. Os resultados já obtidos no estudo foram publicados no banco mundial de dados paleoclimáticos e podem ser acessados por pesquisadores de qualquer lugar do mundo.

Coleta de “discos” de árvores

A dificuldade da Dendrocronologia tropical se deve ao fato de a floresta abrigar muitas espécies de árvores com anatomias diferentes. Por isso, trabalhos mais aplicados com relação ao crescimento dos anéis surgiram somente por volta do ano 2000.

Cientista envolvida nas pesquisas, Daniela Granato de Souza. Imagem: Reprodução TV UFLA

Cientista envolvida nas pesquisas, Daniela Granato de Souza. Imagem: Reprodução TV UFLA

Para fazer os estudos, os cientistas da UFLA recolheram cuidadosamente amostras de cedro, uma espécie muito impactada pelas chuvas e que ocorre amplamente no Brasil podendo ser encontrado na Amazônia, Mata Atlântica, no Cerrado e na Caatinga.

De acordo com as cientistas, quando se encontra uma sequência de três anéis estreitos no cedro e depois um anel largo, é possível inferir anos iniciais de seca e depois a chegada da chuva.

Foram coletadas cerca de 100 amostras de cedro, das quais 60% foram aproveitadas para gerar os dados que as pesquisadoras precisavam. A equipe coletou “discos” de caules na Floresta Estadual do Paru, localizada no Estado do Pará.

Cientistas usaram metodologia que aprenderam o especialista em Dendrocronologia. Reprodução TV UFLA

Cientistas usaram metodologia que aprenderam o especialista em Dendrocronologia. Reprodução TV UFLA

Os pedaços de árvore foram transportados para o laboratório da UFLA. Passaram por limpeza e foram lixados. Logo depois, as cientistas iniciaram as marcações dos anéis – usando uma metodologia que aprenderam o especialista David Stahle, da Universidade do Arkansas, dos Estados Unidos. As pesquisadoras dataram os anéis, mediram e inseriram os dados em programas de computador que ajudam a analisar as informações.

Fontes das informações: Assessoria de imprensa da UFLA, Tree rings and rainfall in the equatorial Amazon e A dendrocronologia e o manejo florestal sustentável em florestas tropicais (Embrapa)