Cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) descreveram, recentemente, três novas espécies de tamanduaí, tipo raro de tamanduá, com cerca de 50 centímetros, que vive em árvores das regiões da Mata Atlântica e da Amazônia brasileira. São mamíferos pequenos, de hábitos noturnos, que vivem nas copas das árvores e se alimentam de formigas. Além da descoberta de novas espécies, a pesquisa possibilitou a elevação de três subespécies à categoria de espécie.

Os nomes científicos das espécies descritas são: Cyclopes xinguensis, encontrada próximo à região do Rio Xingu, na Amazônia; Cyclopes rufus, presente na região de Rondônia e nomeada assim devido à sua cor avermelhada; e a Cyclopes thomasi, que vive na margem direita do Rio Amazonas, entre o estado do Acre e o Peru. O nome desta última espécie homenageia Michael Rogers Oldfield Thomas, famoso zoólogo britânico.

As três subespécies elevadas à categoria de espécie são a Cyclopes ida, cuja presença está restrita ao norte do Rio Amazonas e à margem direita do Rio Negro, a Cyclopes dorsalis, que habita florestas da América Central, do México, da Colômbia e do Equador, e a Cyclopes catellus, restrita ao sopé dos Andes, na Bolívia

O que é descrever uma espécie?

Quando cientistas encontram uma espécie animal com características diferentes daqueles já conhecidos, iniciam uma ampla pesquisa para saber se aquele bicho já tem um nome. Consultam livro e materiais de referências em museus para evitar a criação de nomenclaturas iguais.

Fazem também análises e observações diretas para comparar o animal com espécies próximas e confirmar que ele realmente tem especificidades. Quando fica comprovado que é um bichinho diferentão, os cientistas descrevem e publicam nas revistas cientificas aquela nova espécie.

Este é o Cyclopes didactylus, aquele tamanduaí que já era conhecido no Brasil. Foto: Eduardo Santos Creative Commons

Este é o Cyclopes didactylus, aquele tamanduaí que já era conhecido no Brasil. Foto: Eduardo Santos/ Creative Commons

Pesquisa de 10 anos

Para chegar às informações necessárias na descrição das espécies de tamanduaí, os biólogos da UFMG trabalharam durante 10 anos, em 19 expedições.

Eles foram à procura de amostras de sangue do Cyclopes didactylus única espécie até então conhecida de tamanduaí, no norte da Amazônia, entre as Guianas e o Maranhão, e na região da Mata Atlântica, no Nordeste do Brasil.

O trabalho é fruto da pesquisa de doutorado da veterinária Flávia Miranda, que foi orientada pelo professor Fabrício Santos, do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.

A investigação teve início em 2007, no âmbito da ONG Projeto Tamanduá, que conta com a participação de Flávia em atividades de conservação animal.

Os cientistas queriam entender se as espécies encontradas na Amazônia eram as mesmas que habitavam a região da Mata Atlântica, mas durante as expedições acabaram descobrindo outras três espécies até então desconhecidas.

Caminho científico

A pesquisa foi realizada em várias etapas, de um longo caminho científico. Amostras de sangue dos animais foram submetidas à análise de DNA no Laboratório de Genética do ICB. Foi desenvolvido também extenso estudo para observar características físicas dos animais.

De acordo com os cientistas, foram comparados cerca de 300 animais guardados em coleções de diversos museus espalhados pelo mundo. Nas investigações, foram analisadas a coloração das costas, patas e cauda do tamanduaí, além de tamanho e formato do crânio.

Os pesquisadores encontraram 10 características físicas, que aliadas a características genéticas verificadas em laboratório, possibilitaram a descrição das novas espécies. Os cientistas contaram com a ajuda da tecnologia, pois usaram programas de computador que avaliam os possíveis limites entre as espécies.

Proteção

Trabalhos como este ajudam a conhecer a biodiversidade brasileira, portanto, contribuem para preservação. Os esforços de conservação beneficiavam a única espécie de tamanduaí então conhecida, a Cyclopes didactylus. Agora, a proteção poderá se estender aos novos animais descritos.

O próximo passo dos pesquisadores é investigar a distribuição geográfica desses tamanduaís, coletar mais material para análise e elaborar estratégias de conservação para aqueles que estejam ameaçados.

Tamanduás brasileiros

Até o início da pesquisa, eram reconhecidas apenas três ­espécies de tamanduás no Brasil: bandeira, mirim e tamanduaí. Todos os tamanduás pertencem ao grupo dos Xenarthra, que inclui outros mamíferos como os tatus e o bicho-preguiça.

Com a conclusão do estudo realizado pelo grupo de pesquisadores da UFMG, agora estão descritas sete espécies de tamanduaís. Por enquanto, as novas espécies receberam apenas nomes científicos.