As férias chegam ao fim e as aulas tomam o lugar das brincadeiras e viagens. Para os professores, trata-se de um período desafiador. Afinal, como motivar a meninada neste período de transição? 

A neurologista e ex-professora, Judy Willis, dá algumas dicas que podem ajudar mestres e alunos a começarem um semestre com muita animação.

O que atrai a atenção do cérebro?

Todo aprendizado começa como informação percebida pelos cinco sentidos:  a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato. Há também milhares de terminações nervosas sensoriais em toda a pele, músculos e órgãos internos. Mas o cérebro só é capaz de processar cerca de 1% dessa informação e dá prioridade a certas coisas.

Se observarmos as imagens cerebrais, percebemos que as informações que recebem mais atenção do cérebro são aquelas que nos ajudam a sobreviver. Ou seja, informações inesperadas, mudanças e novidades.

Como após uma pausa, há uma quantidade mais alta do que a normal de novas informações sensoriais que brigam pela atenção do cérebro, é importante dar um tempo para que essas novidades circulem e  os alunos possam se acalmar. 

Portanto, utilizar o primeiro dia de aula para retomar imediatamente a rotina de aprendizagem, pode ser pouco produtivo. Os alunos tendem a reagir com mau comportamento e desatenção. 

Por outro lado,  se o professor sabe que o cérebro de uma criança está programado para ser curioso sobre novas experiências e sobre o que os amigos fizeram,  pode usar esta curiosidade a seu favor com uma atividade de compartilhamento das experiências vividas durante o recesso. Todos devem ouvir e participar.

Atenção através da curiosidade

Uma vez que os alunos tiveram a chance de satisfazer sua curiosidade sobre os colegas de classe, o professor pode redirecionar seu foco para as aulas, começando por algo que chame a atenção. 

Pesquisas de neuroimagem mostram que os tipos de novidades ou mudanças que recebem atenção prioritária incluem movimento, objetos curiosos, imagens, vídeos, visitantes inesperados ou alto-falantes, mudanças de cor e coisas fora da rotina. 

Então, por que não usar algo incomum? Música tocando quando as crianças entram na aula, um videoclipe dinâmico, uma imagem curiosa ou uma ilusão de ótica podem ser um bom caminho.

Judy Willis tem outras sugestões:

O que dizer (ou não dizer) . Um súbito silêncio no meio da confusão é um fato sobre o qual o filtro de atenção tem curiosidade. Uma pausa de suspense no discurso antes de dizer algo importante, aumenta o estado de alerta e a memória sobre o que será dito na sequência.

Mudar a posição dos móveis. Colocar fotos de alunos do ano passado para introduzir uma atividade, acender uma vela, um cartaz chamativo e outras novidades no espaço podem ser suficientes para mobilizar a atenção da meninada.

Mexer-se. Movimentar-se na sala de maneira pouco convencional, andando para trás, por exemplo, pode ser uma boa forma de introduzir uma aula sobre números negativos, cargas elétricas negativas ou o passado dos verbos.

Uso de enigmas. Os alunos podem ser recebidos na porta da sala com uma pergunta enigmática em um cartão. O enigma deverá ser respondido para que ele possa encontrar seu lugar.

Bons professores, lembra Judy Willis, são muito receptivos ao humor e às necessidades dos alunos. Conhecer um pouco da neurociência pode ajudar os professores a se prepararem para momentos em que é mais difícil chamar a atenção dos alunos.

O uso de estratégias para primeiro captar a atenção irá estimular a curiosidade e sustentar o foco necessário para transformar a informação em conhecimento ao longo deste novo ano.

A UFMG tem um programa interdisciplinar dedicado à neurociência. Para saber mais, acesse http://www.neurocienciasufmg.com.