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Mineração em terras indígenas pode gerar perdas bilionárias

Pesquisadores analisaram impactos da regulamentação da atividade mineraria em áreas indígenas em artigo

A abertura de terras indígenas na Amazônia à mineração pode gerar perdas de até US$ 5 bilhões em serviços ecossistêmicos. Esse foi o principal resultado de estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Queensland, na Austrália, e do Instituto Socioambiental.

Em artigo publicado na revista One Earth, o grupo de cientistas afirma que a exploração de minérios em territórios indígenas pode aumentar em mais de 20% o impacto da atividade na região amazônica. A publicação ressalta, também, que a mineração provoca desmatamento em um raio de 70 quilômetros da mina.

Segundo o professor Britaldo Soares-Filho, coordenador do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) do Instituto de Geociências da UFMG, o estudo visa questionar o texto do Projeto de Lei 191/2020, o qual regulamenta a mineração dentro de terras indígenas, uma categoria única de área protegida que cobre 23% da Amazônia. O estudo foi construído a partir de pesquisas realizadas anteriormente pelo grupo.

“Fizemos um estudo prévio que mostra o impacto da mineração ao desmatamento na Amazônia. Essa pesquisa mostrou que o impacto indireto é muito grande. Então, nós aproveitamos o momento oportuno em que está sendo discutido esse projeto de lei e fizemos uma revisão de estudos prévios, um publicado em 2017 e outro em 2018. Nesse último, focamos em provisão de materiais, alimentos, regulação do clima, da chuva, com seus impactos na produtividade agrícola, na geração de energia hidroelétrica e também a emissão e redução de gases do efeito estufa”, comenta Britaldo.

Mineração e abertura à ilegalidades

Britaldo Soares-Filho chama atenção para a ação das mineradoras ao redor do mundo. O pesquisador ressalta que a abertura de terras indígenas à exploração de minérios não interessa as grandes mineradoras. “Atualmente, as grandes empresas estão avessas ao risco ambiental. Nesse sentido, as mineradoras não vão correr o risco de investir em áreas indígenas“, comenta o pesquisador.

 O coordenador do CSR ressalta, ainda, que a falta de interesse das empresas nessa exploração poderá potencializar problemas que já acontecem na Amazônia, como a invasão ilegal de terras.

“Um projeto de mineração leva em torno 20 anos para ser desenvolvido. Esse período vai desde a descoberta de uma ocorrência mineral até implementação da jazida e exploração do minério. Se as grandes empresas não estão interessadas, vai acontecer uma entrada mais fácil de garimpeiros ilegais e grileiros de terras na região“, explica.

O Centro de Sensoriamento Remoto

Não é a primeira vez que o CSR desenvolve pesquisas que visam a discussão de decisões governamentais. Em meados de 2020, o Centro foi responsável, também, pelo estudo “Maçãs Podres do Agronegócio Brasileiro” que mostra como o desmatamento de áreas ilegais estão atreladas à produção agrícola e às exportações. A pesquisa reverberou em países da Europa, o que aponta para o poder da produção científica em tomadas de decisão no âmbito internacional.

O CSR existe desde a década de 90. Além de Britaldo, participam os professores Raoni Rajão e Sônia Ribeiro e estudantes de pós-graduação e graduação. “No início, nós trabalhamos muito com terceiro setor. Essa foi uma forma de levar os resultados da ciência para arena de políticas públicas. Atualmente, somos líderes na área de modelagem. Desenvolvemos um software de modelagem ambiental que é utilizado ao redor do mundo”,  ressalta Britaldo.

O pesquisador conclui que estudos, como o artigo “Proposed Legislation to Mine Brazil’s Indigenous Lands Will Threaten Amazon Forests and Their Valuable Ecosystem Services“,  reforçam a importância da ciência na defesa dos nossos recursos ambientais.

“Nós somos comprometidos simplesmente com nossa ciência e nosso dever em proteger o patrimônio ambiental do Brasil. E a gente usa a ciência como a nossa arma. Então nós trabalhamos com o governo, mas nunca para o governo. Ou seja nós mantemos nossa independência e nossa capacidade crítica”, finaliza.

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