“O laboratório remoto é um recurso complementar. Como pesquisador, defendo que o experimento deve ser feito no laboratório ou no local do fenômeno onde está o objeto de estudo. Mas, reconheço que, em algumas situações, isso não é possível”, Thiago Costa Caetano, do Instituto de Física e Química (IFQ).
A pandemia do coronavírus impulsionou o mundo a criar novos pactos para a educação. Tornou-se obrigatório pensar em possibilidades e recursos que permitam dar continuidade ao ensino e aprendizagem. O professor Thiago Caetano é responsável pelo Laboratório Remoto de Física da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Desde 2012, a unidade funciona como uma possibilidade didática gratuita e já foi acessado por usuários de mais de 30 países (veja o mapa). Nos últimos meses, devido à situação de isolamento social, os acessos ao laboratório cresceram.
O professor explica que este é um laboratório remoto do tipo didático. “Existem duas categorias principais de laboratórios, os de pesquisa e os didáticos. O primeiro é bem específico na composição, em instrumentos e estrutura, pois depende do tipo de pesquisa que será desenvolvida. Já o didático, contempla recursos para experimentos de algumas áreas do ensino básico e superior como mecânica, termodinâmica, física moderna, física quântica e eletromagnetismo”.
Recursos e acesso
Um laboratório remoto como este da UNIFEI é construído como foco na reprodução de experimentos úteis para abordagens da física no ensino básico, inclusive, alinhado à matriz curricular. O laboratório é utilizado também para a oferta de cursos voltados para os estudantes da Licenciatura em Física da universidade, com o propósito de instrumentalizar os futuros docentes para um ensino que seja consistente com o cenário atual.
Um experimento possível de ser executado, segundo o professor Thiago Caetano, é o trilho de ar, o mais acessado do laboratório remoto. “Esse equipamento é usado em mecânica e pode realizar experiências para cinemática, dinâmica, energia, que são áreas populares da Física. O trilho é cheio de orifícios em que se injeta ar. Há um carrinho que desliza nesse fluxo de ar. O experimento minimiza o atrito entre carrinho e trilho e a gente consegue simular um movimento sem atrito. É bem simples, mas têm muitas aplicações”.
Segundo o coordenador do laboratório, existem poucos laboratórios dessa natureza no mundo e este, de modo particular, é único que permite práticas experimentais investigativas, aproximando-se ainda mais de uma prática convencional. Ela acredita, inclusive, que a geração de estudantes do ensino básico hoje está mais familiarizada com o uso de recursos e interfaces remotas. “A aceitação do público jovem é grande”, afirma.
Para acessar basta clicar no site do laboratório e escolher o experimento no menu lateral. Ele fica disponível por 24 horas, todos os dias da semana, exceto se houver alguma manutenção programada. A sala do laboratório fica vazia, sem monitoramento humano. Tudo isso é possível graças à interfaces computacionais voltadas para a web e a automação dos experimentos, que agora contam com hardware projetado e construído especificamente para cada um.
Origem do laboratório de física
O laboratório surgiu depois da vivência do professor Thiago Caetano em experiências de pesquisa remota durante mestrado e doutorado, na área de Astrofísica. Ele trabalhou com coleta de dados no Observatório Pico dos Dias. “Nos grandes telescópios a operação remota é uma realidade há muito tempo”, diz. No O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, onde o professor estudou, há uma sala de onde é possível operar telescópios no Chile, um dos polos de observação astronômicas do mundo. “Fui influenciado pela minha formação para abrir o Laboratório Remoto”, explica.
Thiago Caetano destaca que acesso remoto ao experimentos pode ser uma possibilidade muito rica para alunos do ensino básico. “Alguns equipamentos são muito caros. As universidades podem comprar, mas escolas de educação básica não podem. A única forma desse púbico ter acesso é pela operação remota. Também não se pode deixar de notar que, em algumas circunstâncias, a experiência remota é a única possível. Um exemplo é quando envia-se uma sonda para outro planeta sem presença humana”, conclui.