Quais são os grupos sociais mais vulneráveis à Covid-19? Em que medida as relações de trabalho estão precarizadas durante pandemia? Com é o acesso à internet dos brasileiros no contexto de isolamento social? Para refletir questões como essas o Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em conjunto com outras instituições brasileiras, está produzindo informações sobre a situação social e econômica do país em tempos de coronavírus.
O Observatório Social da Covid-19 qualifica dados de fontes secundárias como IBGE, PNAD e Censo com objetivo de caracterizar vulnerabilidade, mercado de trabalho e conectividade da população. De acordo com o professor Marden Barbosa de Campos, o papel dos pesquisadores envolvidos não é sugerir políticas públicas, mas avaliar a realidade sobre a qual elas serão, ou não, aplicadas, e seus desdobramentos.
“A Medicina definiu que os idosos são vulneráveis. As Ciências Sociais apontam que o idoso mora com um ‘não-idoso’, cuja chance de ser contaminada dentro de casa é alta. Ou seja, este ‘não-idoso’ também precisa ganhar um marcador de vulnerabilidade, mesmo não sendo grupo de risco. O Brasil tem cerca de 30 milhões de idosos e eles moram com outras pessoas”, exemplifica o professor.
Outra situação avaliada pelo grupo de pesquisadores é a possibilidade de trabalho remoto a partir das políticas de contenção da doença, que incluem o isolamento. “Se fica definido um home office é preciso saber que as pessoas não têm internet de boa qualidade e determinadas profissões não se realizam em casa, como por exemplo, os serviços domésticos”, afirma. A partir desses levantamentos, o Observatório já avaliou questões como o desemprego que atinge todas as escalas sociais, além do “desaparecimento” de setores como turismo e eventos.
Grupo interinstitucional
O Observatório Social da Covid-19 é formado por pesquisadores da Sociologia, Demografia, Estatística e Geografia. Além da UFMG, estão envolvidos nos trabalhos Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Centro Universitário Joaquim Nabuco (Uninabuco), de Recife.
Os pesquisadores trabalham de casa com dados disponíveis na internet. Sistematizam e discutem em videoconferências, mas ainda enfrentam a necessidade de construir uma plataforma em que seja possível disponibilizar essas informações.
“Estamos tentando pensar à frente. Nosso foco agora é observar as políticas de relaxamento de isolamento. Muito mais complicado do que fazer isolamento é relaxar isolamento”, explica Marden Campos. Segundo ele, todos os países enfrentam sérios problemas ao retirar as restrições de circulação.