Da escrita como refúgio

Bastante conhecido por sua oficina de criação literária, Luiz Antonio de Assis Brasil debate, em livro, nuances importantes à elaboração de obras ficcionais


Publicado em 23/04/2020 às 08:00 | Por Maurício Guilherme Silva Jr

No momento em que permanecemos em casa, devido à pandemia de covid-19, muitos de nós somos tomados por certa necessidade de expressão. Diante dos “movimentos” do mundo, há quem encontre na arte o refúgio necessário à compreensão do tempo.

Àqueles que, de modo particular, dedicam-se à composição de histórias e versos, o livro Escrever ficção há de se revelar ótima companhia. Nele, o professor e escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, fundador da mais antiga oficina literária do país, problematiza pontos vitais à idealização de personagens, cenários e universos ficcionais.

Na obra, leitores e leitoras têm a oportunidade não apenas de aprender técnicas fundamentais à organização da escrita, como de “ouvir” – por meio da curadoria e da mediação de Assis Brasil – as ideias de uma série de mestres da ficção.

Dividido em nove capítulos, o livro se inicia com o saboroso ensaio “Ser ficcionista é exercer nossa humanidade”. Na sequência, desenvolvem-se discussões sobre elementos fundamentais à prática do escritor: personagem, conflito narrativo, enredo, estrutura, focalização, espaço, tempo e estilo.

Por fim, algo objetivo e muito, muito proveitoso: no derradeiro capítulo, Luiz Antonio de Assis Brasil apresenta “Um guia para você em meio à selva”. Trata-se, conforme esclarece o autor, de exemplos de roteiro para escrita de romances lineares.

Foto: Maurício Guilherme Silva Jr.

Trecho

“Mesmo concordando que faz sentido a existência desse ‘dom divino e inefável’, como escreviam certos românticos, é preciso aceitar que não é algo que se gruda às pessoas para sempre. Quero dizer: se é que existe, o talento é errático. João Ubaldo Ribeiro, ao falar sobre sua percepção variável da própria capacidade autoral, escreveu numa crônica: ‘mas não posso admitir que eu seja um gênio ao meio-dia e um idiota à noite. Quantas vezes você já escutou que o livro X da autora Y é péssimo, que destoa de toda a sua maravilhosa obra? Para onde foi o talento da autora? Devo lembrar que o próprio Balzac, que citei acima, autora de A comédia humana, escreveu alguns livros bem precários.”

O livro

Livro: Escrever ficção – Um manual de criação literária
Autor: Luiz Antonio de Assis Brasil
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 398
Ano: 2019

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