Focinho longo e cilíndrico, cabeça pequena, garras grandes nas patas dianteiras, olfato bem desenvolvido, língua longa, cauda com pelos grossos e compridos. Eis o Myrmecophaga tridactyla, mais conhecido como tamanduá-bandeira. Das quatro espécies do animal no mundo, três são exclusivas da América Latina e podem ser encontradas no Brasil. No quesito tamanho, o Bandeira é o maior de todos, com cerca de dois metros.
O “papa-formigas-gigante”, porém, também lidera outro ranking: o de risco de extinção. Dentre as três espécies existentes no País, ele é o mais ameaçado, a ponto de ser classificado como “vulnerável”. Segundo Fernando Pinto, doutorando do programa de pós-graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (Ufla), a perda e a modificação de seu habitat, a caça predatória e a alta mortalidade, devido à colisão com veículos automotivos, são as principais ameaças ao animal.
O pesquisador analisou os efeitos das estradas na população de tamanduás-bandeira, tanto em relação à fragmentação de seu habitat quanto à mortalidade por atropelamento. De acordo com Fernando Pinto, a principal motivação para o estudo foi a possibilidade de auxiliar a preservação de um emblemático mamífero.
“Compreender como as populações de tamanduá respondem aos efeitos das estradas é essencial para os esforços de conservação”, salienta
Além do doutorando, participaram, do estudo, Clara Grilo, pesquisadora visitante na Ufla, e Alex Bager, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE) da Universidade. A investigação contou, ainda, com Anthony Clevenger, do Instituto de Pesquisas em Transportes da Universidade Estadual de Montana (USA).
Nas estradas
Características como baixa taxa reprodutiva, distribuição geográfica restrita e peculiaridades de habitats tornam certas espécies de animais mais vulneráveis aos impactos ambientais. Por isso, “o melhor entendimento sobre a alteração de seus habitats e acerca do modo como isso afeta a persistência populacional das espécies é algo de extrema importância”, esclarece Fernando Pinto.
Para realização do estudo, o doutorando empreendeu extensa revisão da literatura científica, em busca de dados sobre Biologia populacional, Ecologia e taxas de atropelamento do tamanduá-bandeira no Brasil.
“Os dados serviram como base para a aplicação de modelo populacional espacialmente explícito, que me permitiu acessar a vulnerabilidade da espécie frente à rede de estradas do País”, conta.
Por meio do levantamento, o pesquisador conseguiu identificar e quantificar regiões críticas à viabilidade populacional do tamanduá-bandeira, que variaram de 32 a 36% de sua área de distribuição no Brasil. Os modelos indicaram, ainda, que a fragmentação do ecossistema tem grande impacto na conservação do animal.
“Aproximadamente 21% da quantidade de habitat favorável à presença da espécie está abaixo do tamanho mínimo estimado”, alerta, ao destacar que o modelo vai além da quantificação de indivíduos atropelados nas estradas. “Ele serve, também, como direcionamento para futuras investigações sobre o tema em escalas locais e regionais”, completa.