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Nanotecnologia é alternativa contra espinhas

Imagem ilustrativa. Foto: Pixabay

Para se livrar de cravos e espinhas, muitas pessoas recorrem à farmácia. Diversos tratamentos estão disponíveis como solução ao problema: há opções de cremes, géis, sabonetes e antibióticos orais no mercado. O ácido retinoico é um dos principais e mais eficientes compostos usados no combate à acne. A substância regula o processo de renovação celular e controla a colonização da Propionibacterium acnes (P. acnes).

O composto tem outras ações, além de ser ativo muito usado para rejuvenescimento facial. “O ácido retinoico reestrutura todo o processo de descamação, induz à formação de mais colágeno, e a pele fica cada vez mais lisinha”, explica Gisele Goulart, professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisadora trabalhou no desenvolvimento de nova composição farmacêutica para o tratamento da acne, a partir do ácido.

Produtos que contêm ácido retinoico podem provocar vermelhidão, descamação, sensação de ardência e ressecamento da pele. Trata-se de reações adversas, que levam muitos pacientes a desistir do tratamento. O objetivo do estudo coordenado por Goulart é, justamente, reduzir a irritação causada pelo composto.

Para tal, os pesquisadores encapsularam o ácido retinoico dentro de uma partícula lipídica. A tecnologia transforma a maneira como o composto é veiculado. Nas formulações convencionais, a substância permanece livre, molecularmente dispersa no produto, o que faz com que entre em contato direto com a pele.

“Nesse sistema, associamos o ácido retinoico a uma amina, com grande cadeia lipofílica. Desse modo, também produzimos certa imobilização do agrupamento ácido: ele se liga à amina em um par iônico, dentro da partícula lipídica”, explica a professora.

O grupo ácido do composto é uma das causas centrais da irritação à pele, e a ligação química com a amina reduz tais efeitos adversos.

Adesividade

Os pesquisadores avaliaram a liberação do ácido retinoico em estudos de permeação cutânea, que se mostrou mais controlada em relação à formulação convencional. Realizaram, ainda, estudos de segurança e eficácia, ao usar modelos animais, de epiderme humana reconstruída, e, mais recentemente, de segurança em humanos.

“Quando colocamos o fármaco numa nanopartícula, a formulação adquire a propriedade chamada ‘adesividade’. A nanopartícula se encaixa melhor à estrutura da pele e fica ali retida, inclusive, no folículo pilossebáceo, foco de ação da acne”, explica Goulart.

O fármaco é liberado lentamente e não entra em contato direto com a pele. “Assim, diminuo a irritação e não comprometo os resultados, pois o ativo ficará retido e será liberado continuamente. Ganho muito em segurança e não perco nada em eficácia”, completa a professora.

O ácido retinoico não se solubiliza em água. Normalmente, ele é misturado em álcool, e, depois, incorporado à formulação. Por isso, produtos à base de ácido retinoico têm, também, álcool em sua composição. A nova tecnologia permite que o composto seja suspenso em veículo aquoso, menos agressivo para a pele do que o álcool, uma substância desidratante.

“A formulação pode ser aplicada em creme, gel, pomada. A ideia, contudo, é que ela seja veiculada em bases mais suaves, para ir ao encontro de um mercado que não existe, em função dessa limitação com a solubilização”, diz Goulart. A tecnologia foi patenteada em abril de 2019 e já está disponível para empresas que tenham interesse em usá-la.

Quer saber mais sobre o processo da acne? Veja a versão desta reportagem na revista Minas Faz Ciência edição 79.

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