No béquer, dá-se a alquimia.
Ele, então, transfere parte do conteúdo ao tubo de ensaio, e, de olhos fechados, ingere o líquido magenta.
Químico orgânico, Antonio experimenta seu inédito composto de elementos e esperanças. Há décadas, busca, na capacidade tetravalente do Carbono, a polivalência da alma.
Desde a noite imensa, quando soube da irremediável viagem de Maria, entregara-se, insone, ao ofício dos ofícios: dar, à vida, algum sentido.
No velho laboratório de amarguras, vislumbrara a fórmula da desintegração de ausências. O elixir capaz de nutrir a memória, tão somente, com a raríssima poesia dos ternos instantes.
A substância apta a dissipar, de sinapses e pensamentos, a cor do fogo, a estética dos destroços, a indiscrição das sirenes, o infindo silêncio de Maria.
(Todas os flashes, enfim, da noite lanhada pelo assimétrico revoar de mil pássaros do fim.)
No velho laboratório de possibilidades, ainda de olhos fechados, Antonio degusta, com regozijo de Rei, os muitos sabores de seu novo hidrocarboneto.
(Assim que despertas, suas retinas hão de presenciar, a um palmo de si, o inconfundível sorriso de Maria.)